Já posso ver TV sem assinar um pacote de canais?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

O recente anúncio do lançamento da YouTube TV veio colocar na ordem do dia a alteração dos padrões de consumo de televisão.

Quase arrisco dizer que se pode estabelecer uma relação directa entre a idade dos espectadores e a variação do consumo entre televisão tradicional e televisão online.

O YouTube pertence ao universo Google e o objectivo do novo serviço, por enquanto só disponível nos EUA mediante uma mensalidade de 35 dólares, e concorrer com os serviços por cabo ja existentes. Os assinantes da YouTube TV terão para já acesso a emissão da Fox, NBC, ESPN e CNBC, entre outros, para além dos conteúdos premium (filmes, series, concertos) do YouTube Red. Há procura? Em princípio sim – a geração que cresceu com a internet quer ver TV no mesmo lugar onde vê o restante conteúdo – o computador ou dispositivos móveis.

O objectivo do serviço é que seja possível ver os canais no smartphone e no computador, mas também num ecrã de televisão normal.

O serviço e o desenvolvimento lógico daquilo que a Netflix e a Amazon já oferecem noutros termos – a possibilidade de dispensar a assinatura de um pacote de canais e seleccionar os conteúdos que se quer ver em cada momento. Aparelhos como a Apple TV ou o Chromecast, da Google, que se ligam aos aparelhos de televisão, permitem este tipo de soluções: baseiam-se na existência de uma ligação a internet e na utilização de aplicações que se instalam nesses dispositivos e que permitem ver conteúdos de vária ordem – da Netflix a players de estações de televisão ou ligação a consolas de jogos.

Há mesmo um dispositivo concebido e fabricado em Portugal, a TBee, que tem recebido boas críticas. No fundo, todos se enquadram na categoria de Over The Top content, vulgo OTT, que permite aceder a um conjunto de conteúdos sem ser através de emissores habituais, como os operadores de cabo que transmitem um pacote de canais. Estas boxes OTT estão a mudar radicalmente o consumo de TV e nos próximos anos irão provocar a diminuição de audiência da televisão generalista, de forma irreversível.

QUAL O CONSUMO DE INTERNET EM PORTUGAL?

A resposta vem do Netpanel Meter da Marketest: durante o ano 2016, perto de seis milhões de portugueses navegaram na Internet a partir de computadores de uso pessoal, o que corresponde a 98.8% dos internautas nacionais. Em média, por dia, navegaram na Internet 2592 mil utilizadores únicos. Durante o ano, foram visitadas perto de 66 mil milhões de páginas, uma média de 11247 por utilizador. O tempo total de navegação nestes sites superou os mil milhões de horas, uma média de 216 horas e 20 minutos por utilizador.

QUANTOS PORTUGUESES ESTÃO NAS REDES SOCIAIS?

Dados do início de Janeiro de 2017 mostram que o Facebook continua destacado na preferência dos portugueses quanto a redes sociais.

Tem 5,9 milhões de utilizadores em Portugal, 4,4 dos quais são diários e, destes, 3,6 milhões fazem-no através de dispositivos móveis. A segunda rede mais utilizada pelos portugueses é o Instagram, com 2,2 milhões de utilizadores registados, 1,1 milhão dos quais o fazem diariamente. O Twitter tem 900 mil utilizadores em Portugal, 53% dos quais fazem login uma vez por dia. Finalmente, o Linkedin tem 1,8 milhões de utilizadores em Portugal e 46% verificam o seu perfil uma vez por semana. Tudo junto, os portugueses passam quase duas horas por dia em redes sociais e 97% têm conta em pelo menos uma destas redes.

BATOTA TELEVISIVA ENTRE CASAIS?

Segundo um inquérito da Netflix a casais que têm por hábito ver em conjunto séries e filmes em streaming, cerca de metade dos 30.000 casais inquiridos em todo o mundo admitiram ver determinada série sozinhos sem esperar pelo parceiro, um terço diz que na ausência da cara metade nem hesita em ver o que quer e um quarto diz que frequentemente vê programas que ambos queriam ver quando o outro adormece a olhar para o ecrã.

Este artigo foi publicado na edição de Março da revista Executive Digest.

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