Como evolui a televisão?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

O consumo de programas de TV em streaming está a aumentar, o que resulta da diminuição do consumo tradicional. O cabo, ou payTV de forma mais correcta, tem mantido os valores mas a posição relativa dos canais líder tem tido alterações ao longo do ano. Os progressos tecnológicos das boxes dos operadores de cabo incitaram a criação de hábitos, como visionamento em diferido, passar à frente da publicidade e ter gravações. Mesmo sem canais de streaming, como o Netflix, qualquer assinante de um operador pode escolher o que quer ver em determinado momento e já não precisa de estar à frente da Tv para o seguir.

No entanto, há dois conteúdos que só funcionam em directo – notícias e transmissões desportivas, nomeadamente futebol. Por isso os 10 programas que maior audiência alcançaram este ano, até agora, foram transmissões de jogos de futebol. Se nos canais generalistas a tendência é esta, no payTV o círculo completa-se com a consolidação da CMTV como líder dos canais de cabo e em quarto lugar global no ranking das audiências: TVI, SIC, RTP1 e CMTV. A afirmação do canal deve-se à sua cobertura noticiosa muito rápida, sobretudo nos casos de acidentes ou catástrofes, além da aposta em transmissões desportivas de diversas modalidades.

Outro canal que tem vindo a subir é a Globo, neste momento o segundo mais visto da payTV. A SIC Notícias, que dantes liderava, ocupa agora a quarta posição. Nos canais infantis, a Disney é líder, nos filmes a Hollywood e nas séries a FOX. A RTP2 tem andado pela 10.ª posição global. A Sport TV+, uma novidade, tem estado no Top 15 do payTV e a RTP3 (ex RTP Informação) muitas vezes nem entra no top20. No final de Novembro o conjunto dos três canais generalistas significava 52,8% do total da audiência. O resto do consumo é feito no conjunto dos canais e cabo e streaming – onde o YouTube ocupa cada vez um lugar maior. TVI, SIC e RTP1 conseguem apenas captar pouco mais de metade dos espectadores regulares, uma queda assinalável face ao que se passava há uns anos – o conjunto de canais de cabo é só por si responsável por cerca de 37% da audiência e o restante vai para outros conteúdos.

E na internet, como estão as televisões?

Recentemente, a Marktest divulgou um ranking de audiências de sites de televisão. Nos números mais recentes conhecidos, o site da TVI alcançou quase 1,8 milhões de pessoas, a SIC ficou em segundo lugar, a MEO em terceiro, a NOS em quarto e a Globo em quinto. O Top 10 é completado pela RTP em sexto, a Vodafone em sétimo, a Netflix em oitavo, a BBC em nono e a Nowo em décimo. Se em vez do número de pessoas contarmos o número de pageviews, a  TVI continua a liderar mas o segundo lugar é da NOS e o terceiro da Netflix. Se a medida for o tempo dedicado em cada site, a TVI continua a liderar mas a Netflix ocupa a segunda posição, a muita distância do terceiro classificado, a NOS.  Dados do estudo netAudience indicam ainda que cerca de três em cada quatro visitantes da Netflix tem menos de 35 anos.

Netflix ganha terreno

Um estudo internacional mostra que os espectadores de TV estão cada vez mais à procura de alguns conteúdos. Isto, em vez de terem uma atitude passiva de seguirem uma grelha de programas tradicional. A tendência acentua-se em espectadores abaixo dos 45 anos e pela primeira vez nesse segmento há uma maioria que diz ter mais programas preferidos na Netflix que em qualquer canal tradicional. Por outro lado, cresceu a percentagem de espectadores que só vai à procura de determinado programa e se dispõe a vê-lo se achar que tem uma boa probabilidade de gostar – baseado em opiniões de outros ou na capacidade de comunicação dos produtores. Isto quer dizer que os espectadores estão a ficar mais selectivos e activos. Um terço dos inquiridos no estudo indica que o seu programa favorito do último ano foi exibido pela Netflix e a maioria diz que usa preferencialmente serviços de tv online  (como YouTube, Amazon  e diversas outras plataformas especializadas), em detrimento de serviços tradicionais  e de cabo.

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro de 2018 da Executive Digest.

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