Apple limita dados aos anunciantes?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

Não é a primeira vez que a Apple o tenta, ao bloquear, na nova versão do browser Safaria, o acesso aos anunciantes à informação recolhida com as “cookies”

Na realidade, o que a medida significa é limitar a análise dos dados e, nalguns casos, a sua utilização, o que pode levar a uma diminuição da publicidade que muitos sites recebem. A medida pode ser complicada para os conteúdos gratuitos que vivem da publicidade como única fonte de receita e parece-me que é aqui que está o cerne da questão. Ao tomar esta iniciativa a Apple está a tentar proteger o seu ecossistema, que tem por lema tornar a vida mais fácil possível ao consumidor e com os menores incómodos – a marca da maçã percebeu que os consumidores estão a ficar saturados de tanta publicidade.

Mas é evidente que a Apple guardará para si os dados, permitindo-lhe integrar hardware, software, conteúdos e hábitos de utilização. A Apple – e suspeito que outros fabricantes irão fazê-lo – o que quer é ter parte das receitas que neste momento fogem de quem assegura a ligação com cada consumidor e gerir os dados que recolhe – no fundo é o que o Google e Facebook fazem com o seu software, já que não têm hardware. A Apple, com qualquer um dos aparelhos, do Watch ao HomePod, pode saber tudo sobre os seus utilizadores e está com pouca vontade de partilhar essa informação com terceiros. No mercado português a medida, se avançar, terá pouco impacto, atendendo a que, ao contrário de outros, como o americano, o browser da Apple, o Safari, não é maioritário. Mas o que esta situação reflecte é que a publicidade digital é um processo que está ainda na fase de amadurecimento.

Nesta matéria, da publicidade digital, tem-se andado muito depressa, só que a estrada que se percorre cresce e ramifica-se em vários caminhos ainda mais depressa.

O problema é este: a Apple fornece a cana de pesca, o anzol e o isco – e há outros que querem ficar com o peixe inteiro, nomeadamente Google e Facebook – já para não falar da Amazon que está a entrar depressa nesta guerra, ao conseguir cruzar os hábitos de visionamento dos clientes com os dados do que eles consomem na sua loja online. Os próximos tempos vão ser curiosos.

5C – O QUE É?

Keith Weed, o nº1 do marketing da Unilever anunciou, numa recente conferência, que a empresa vai desenvolver o trabalho das suas marcas em torno de 5 C’s – Consumidores, Conectividade,

Conteúdos, Comunidade e Comércio. Se olharmos bem para este quadro de trabalho vemos o papel fundamental do digital que os une a todos – como fomentar, através da conectividade, a divulgação de conteúdos numa comunidade de consumidores que procuram a melhor experiência comercial em termos de preço e comunidade. O mundo está em permanente mudança mas há conceitos básicos que continuam eternos, mesmo que com novas roupagens.

O QUE É O NÓNIO?

INSTRUMENTO DE MEDIÇÃO, USADO PARA CALCULAR ROTAS DE NAVEGAÇÃO, INVENTADO PELO MATEMÁTICO PORTUGUÊS PEDRO NUNES NO SÉCULO XVI

Mas, nos tempo actuais, Nónio é uma iniciativa que junta seis dos principais grupos de comunicação nacionais, responsáveis por 70 sites que reúnem 85% da audiência portuguesa de internet. Este Nónio quer reforçar a presença dos media nacionais no mercado publicitário digital, face ao domínio de actores globais como o Google e o Facebook.

Os utilizadores desses sites são convidados a um registo e a aceder através de um “login”, que permitirá conhecer o seu histórico de hábitos de consumo. Uma vez feito o “login”, o utilizador está registado nos sites dos grupos participantes no Nónio. A primeira fase está já a funcionar. Para que possam competir comercialmente têm agora de criar um modelo de venda automática que funcione em simultâneo nos grupos de comunicação aderentes.

Sem essa fase ficar pronta, pouca será a concorrência aos players internacionais – e seria o fundamental para dar aos anunciantes nacionais um acesso competitivo aos conteúdos portugueses.

Este artigo foi publicado na edição de Outubro de 2017 da revista Executive Digest.

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