5ª Conferência Marketeer: Portugal tem tudo para ser atractivo

conf-mkt_2Em cada português há um embaixador, alguém que pode “vender” além-fronteiras a imagem real do País, muitas das vezes contrastante com a imagem veiculada nos meios de comunicação social. Foi esta a mensagem positiva com que Ricardo Diniz, o “navegador solitário” (como se auto-apelida), abriu as hostilidades da 5ª Conferência da Marketeer, que decorreu esta manhã.

“Por que é que Portugal atrai?” foi o tema que deu o mote à 5ª Conferência da Marketeer, que teve lugar, mais uma vez, no Museu do Oriente, em Alcântara, Lisboa.

«Sempre que viajo o meu cartão de visita é dizer que sou de Portugal. E isso muitas das vezes serve para quebrar o gelo. As pessoas gostam do nosso País, mas muitas das vezes não sabem exactamente onde fica», afirmou Ricardo Diniz, de 36 anos, que conta com mais de 90 mil milhas percorridas no currículo, já atravessou o Oceano Atlântico quatro vezes e já viveu em países como Reino Unido ou EUA.

Defender Portugal lá fora

A primeira Mesa Redonda subordinada ao tema “O que atrai o investimento de multinacionais?” contou com as presenças de Carlos Melo Ribeiro (presidente Siemens), Eduardo Cabrita (presidente MSC Cruzeiros), Eric Van Leuven (presidente Cushman & Wakefield), José Alves (presidente PwC) e Paulo Carvalho (director geral SAP). Nos papeis de moderadores estiveram Álvaro de Mendonça (membro do conselho editorial da Marketeer) e Maria João Vieira Pinto (directora editorial da Marketeer).

«Uma equipa vencedora faz-se pegando naquilo que as pessoas têm de bom, impulsionando-o. Mas em Portugal temos sempre a tendência de pegar no que não é bom e é isso que faz com que o país não avance», defendeu esta manhã Carlos Melo Ribeiro. E esse é, no ponto de vista do presidente da Siemens, um dos maiores defeitos do país já que só se fala no que não e bom. «O país tem tudo o que precisa para ser vencedor», garante. Também Eduardo Cabrita acredita que Portugal tem reunidas as condições necessárias de atractividade para o turismo. No entanto «falta um plano estruturado que não seja mudado de quatro em quatro anos».

Mas não só aquilo que é feito em termos internos constribui para esta atracção de investimento. Paulo Carvalho, director geral SAP, acredita que a capacidade de exportar talentos permite que essas pessoas que vão para fora defendam Portugal. «Mas estamos sempre a lutar com as notícias negativas de Portugal lá fora. Notícias de instabilidade e insegurança», diz. No entanto, revela, há uma forma de contrariar este facto: «Marco reuniões para quinta ou sexta-feira e deixo as pessoas livres para aproveitarem o fim-de-semana em Portugal. Portugal conquista-as!» E foi precisamente o que aconteceu com Eric Van Leuven que há várias décadas se apaixonou pelo país e pela sua hospitalidade.

Mas José Alves, presidente PwC, fez questão de salientar que apesar de Portugal ter todas as condições para atrair, tem alguns problemas para resolver, nomeadamente ao nível dos índices de atractividade do investimento e da complexidade. «São factores que estão muito mal cotados em termos de ranking internacionais», garante.

Carlos Melo Ribeiro salientou que no mundo empresarial quem sobrevive não são necessariamente os mais fortes, mas aqueles que se adaptam. E é isso que a Siemens Portugal tem vindo a fazer ao longo dos anos. Ao perceber a ascenção da China em termos de produção fabril, a empresa concentrou-se em outras áreas de maneira a manter a sua actividade em Portugal de que é exemplo a engenharia.

Certo é que, garantiu Paulo Carvalho, vivemos num mundo cada vez mais móvel e temos que ter uma mentalidade cada vez mais aberta. «Temos que preparar os nossos filhos para viver no mundo e para serem capazes de receber pessoas de todo o mundo.» E Carlos Melo Ribeiro vai ainda mais longe: «Para ter mais talentos o país precisa que todos saiam da sua zona de conforto. Deveria ser obrigatório que todos os profissionais passassem pelo mundo!»

Um «país amigo»

«Empresas, sectores e País são os três níveis que temos de trabalhar ao nível da imagem. E as empresas têm melhor notoriedade que o País», apontou Luís Raimundo Schwab, professor do IPAM – The Marketing School, na 2ª mesa redonda, dedicada ao tema “Portugal: A imagem que é projectada lá fora”. Porém, «nada do que é feito ao nível da promoção em Portugal é para as empresas, mas sim para o Estado», criticou o docente.

A 2ª mesa redonda foi moderada por Teresa Lameiras e Miguel Rangel, membros do Conselho Editorial da Marketeer.

No mesmo tom, Pierre Debourdeau, managing partner do Eurogroup, trouxe à mesa alguns dados estatísticos sobre o investimento das multinacionais francesas no estrangeiro que revelam que 66% das empresas estão satisfeitas por ter filiais em Portugal, contra uma média inferior a 50% noutras geografias, e que 61% pretende continuar a investir em Portugal. «Mais de 20 empresas francesas estão a investir em Portugal», adiantou.

Já Álvaro Covões, presidente da Everything is New, centrou o foco na sua área de actuação, a cultura, realçando que «temos excelentes infra-estruturas (como aeroportos e hotéis), mas temos que melhorar os conteúdos», e defendendo a criação de um Ministério do Turismo, bem como a reorganização da oferta de lazer, que «pode trazer muitos visitantes ao País, nomeadamente os espectáculos ao vivo». Para o profissional, a cultura do preconceito é o principal entrave à potenciação da imagem de Portugal no estrangeiro. «Temos tudo para dar certo, mas o principal problema é o preconceito. Tratamos toda a gente por Sr. Doutor, e perdemos horas de produtividade nisto; temos também um grande preconceito em relação a Fátima. Só quando quebrarmos a barreira do preconceito é que vamos multiplicar os turistas. Porque a percepção que existe sobre Portugal no estrangeiro é excelente», justificou.

Sobre a responsabilidade dos media na imagem que é projectada além-fronteiras, a jornalista Belén Rodrigo, presidente da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP), frisou que os correspondentes em Portugal podem produzir conteúdos mais favoráveis sobre a imagem do país, mas que muitas das vezes são «as grandes empresas ou os clubes de futebol que não dão entrevistas. Pensam de forma egoísta». «Há muitas mensagens positivas que nós passamos, mas que não têm seguimento em Portugal, porque o foco é no negativo. O português tem que vender o seu País», defendeu.

Ainda assim, Pierre Debourdeau foi peremptório em apontar as qualidade do País: «Portugal é um país competitivo, central e amigo!»

Texto de Daniel Almeida e Maria João Lima

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