Ser Flexível é Bom, aproveitemos

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Setembro de 2012 da revista Executive Digest

Depois desta crise, a atitude para com as empresas não será a mesma. Já aqui escrevemos que o povo português tem notáveis capacidades de abnegação e sofrimento. Quando a situação exige sacrifícios ou feitos improváveis, como demandar o negro oceano em verdadeiras cascas de noz, estamos sempre à altura do desafio.

Por outro lado, temos alguma dificuldade em conviver com épocas de abastança. Sempre que temos alguma riqueza, gastamos o mais que podemos. Seja o lucro das especiarias, o ouro do Brasil ou, mais modernamente, os empréstimos a taxas de juro muito baixas. Depois da «festa» ficam os enfeites caros, os sinos de Mafra, as obras públicas desnecessárias e as dívidas.

A elasticidade que nos leva da tenacidade ao quase suicídio em loucura despesista e vice-versa tem surpreendido os macroeconomistas e os criadores de modelos no Banco de Portugal. Que outro país passaria de «gastar o que não tem» para «poupar o que mal consegue» em apenas dois anos? Um país com esta flexibilidade e resiliência tem futuro apesar de alguma falta de juízo.

Esta crise, que acreditamos ser de descontinuidade de modelos, será notada como a verdadeira entrada de Portugal numa economia de mercado que nunca tivemos. Pela primeira vez começámos a compreender o valor da unidade central da economia, a empresa. Por todo o país, acossados pelo receio de fecho de cada uma das empresas, ampliado pelos exemplos de falências a que diariamente assistimos, accionistas, trabalhadores e credores têm juntado esforços para salvar e compreender os mecanismos de funcionamento da empresa. E sabem que só unidos poderão sobreviver e prosperar.

Mesmo os sindicatos, substituídos pontualmente pelas comissões de trabalhadores, são os primeiros a propor, em alguns casos e em surdina, rescisões de alguns contratos de trabalho para salvação da empresa e dos restantes. E estamos a falar de sindicatos que desfilam no 1º de Maio gritando diatribes contra os «gordos» capitalistas (onde estão eles?) que «sugam» a classe operária. Finalmente, parece termos entendido que devemos proteger as empresas, pois os seus interesses são o interesse de todos os seus stakeholders.

Olhemos para o modelo alemão de participação dos trabalhadores nas decisões estratégicas das empresas, aplicado com bastante sucesso entre nós na Autoeuropa. É-lhes dado conhecimento dos desafios da empresa, a que respondem com soluções, adaptação e produtividade, garantindo a continuidade dos seus postos de trabalho, remunerados bem acima da média nacional. A flexibilidade portuguesa num modelo organizacional já bem testado tem feito com que a Autoeuropa seja das melhores fábricas do Grupo Volkswagen. Ah, mas esta empresa é uma «ilha» onde não se aplicam as legislações laborais, fiscais e o emaranhado de licenciamentos a que se sujeitam as restantes empresas portuguesas. Talvez não fosse má ideia adaptar as leis portuguesas à Autoeuropa para permitir mais casos de sucesso.

Com flexibilidade e organização, copiando o que de melhor se faz nesta área na Europa, podemos ter sucesso. Que o digam os emigrantes portugueses… Nós somos, em geral, bons trabalhadores com uma enorme capacidade de adaptação. Falta sempre a organização. É boa altura de mudar.

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