Sem crescimento, nada

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Abril de 2012 da revista Executive Digest

Estamos a viver um tempo sob o impacto forte da realidade. Os direitos que a sociedade reivindicou e conseguiu obter nos últimos 40 anos estão a ser colocados em causa. Não porque não sejam legítimos, mas porque não são financiáveis.

Os direitos de uns são sempre os deveres de outros. Não nos podemos esquecer que quem assegura os direitos da sociedade é a própria sociedade, até ao seu limite. Nós conseguimos ter mais direitos sociais do que aqueles que podíamos suportar e endividá-mo-nos até não poder mais.

Neste momento, para além de resolver as dívidas passadas de um Estado que dava tudo a todos, um sonho de gratuitidades que temos toda a legitimidade em ambicionar, temos que acautelar não insistirmos muito neste modelo de forma a não criarmos dívidas futuras. As crises como esta vêm sempre revelar as insustentabilidades de modelos de negócio e de organizações da sociedade.

A melhor forma de defender o Estado Social que temos passa apenas por 2 caminhos.

O primeiro é cuidarmos de criar riqueza para a podermos distribuir. A única forma concreta e válida para crescer é termos empresas organizadas que vendam muito, com custos menores que a concorrência, de forma a terem lucro. A sociedade tem de ajudar as empresas a vender e principalmente, pois essa parte da equação é a única que dela depende, a reduzir os custos de contexto, sejam eles de organização do trabalho, licenciamentos, burocracia e energéticos, entre outros. Assim as empresas terão lucro para investir e criar postos de trabalho e pagar impostos que a sociedade se encarregará de distribuir por quem necessita.

O segundo é de pensar o que pode o Estado oferecer com os recursos que possui, depois de pagar os juros da dívida. O básico e inalienável são as funções de soberania, defesa, justiça e segurança, e cuidar dos mais desfavorecidos. O que o Estado faz a mais que isso, no limite pode ser realizado por privados sob supervisão do próprio Estado. É aqui que se deve fazer uma discussão ampla, buscando exemplos de boas práticas noutros países e copiando o sistemas que resultam, sobre o que deve o Estado fazer e o que deve apenas supervisionar e regular.

O projecto do Memorando do Crescimento, com destaque nesta edição, é um contributo importante para a discussão de quais as políticas públicas necessárias para o crescimento, como melhorar as conectividades e a produtividade, assegurar o equilíbrio inter-geracional, sobretudo no sistema de pensões face à demografia, promover o desenvolvimento e estabilizar o financiamento à economia.

O Fórum dos Administradores de Empresas, a Ordem dos Engenheiros, a Ordem dos Economistas, o Projecto Farol e a CIP pretendem envolver toda a sociedade neste projecto aberto e abrangente, constituindo um Observatório do Crescimento que irá pressionar os Governos a executar as medidas propostas nesse Memorando.

Porque cumprir o Memorando e resolver o financiamento público é essencial, nomeadamente para os nossos credores e eventuais financiadores futuros, mas não é suficiente para regressarmos a uma economia saudável, financiadora do Estado Social que pretendemos, sem acumular dívidas futuras e prevendo novas recaídas.

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