Porquê?

paulo-carmona_edit_edTodos os departamentos ou funções que não

tenham missão ou utilidade deveriam ser

extintos. É muito duro mas mais inteligente

e justo do que aumentar impostos ou cortar

cegamente nas despesas sociais ou salariais.

Será que as medidas anunciadas pelo Governo são suficientes para baixar o défice

e restaurar a confiança nos mercados? Essa confiança que tem sido bastante

deteriorada pela recusa em agirmos atempadamente e em função das nossas

debilidades, tem a sua expressão na exigência de cada vez maior remuneração

nos empréstimos concedidos a Portugal. E nós não temos folga. Só para comprar

comida e petróleo necessitamos de 16 mil milhões de euros emprestados todos os

anos. Como fazer se a boa vontade dos credores acabar?

Se as medidas são suficientes, se são necessárias mais medidas, se existirá

orçamento, ou se virá o FMI impor a ordem nas nossas contas, são questões

menores pois o fim será sempre o mesmo. A direito ou às curvas, com jeito ou à

bruta, a consolidação das contas públicas será uma realidade no final de 2011, doa a

quem doer.

O único e enorme desafio à nossa frente é o de como relançar o anémico

crescimento económico português.

Sobre esse assunto existe um consenso alargado sobre a necessidade de um

estudo sério sobre as principais razões que dificultam o investimento em Portugal.

Porque fecham empresas? Porque se deslocalizam? E muitas vezes para locais

onde a mão-de-obra é mais cara. Quais as razões para Portugal perder alguns

projectos de investimento. Onde falhamos? Porque ganhamos outros? Qual a

razão para alguém investir em Portugal? Seria muito pedagógico, e essencial em

termos de posicionamento estratégico de atractividade do país, ter umas respostas

sérias e sem a demagogia do tenebroso capitalista especulador.

Porque é essencial questionar tudo, pôr tudo em causa e saber o que queremos

ter e como lá chegar. Não é inevitável a democracia portuguesa ter crises

financeiras cíclicas desde que o ouro do Brasil acabou.

E já que falamos de questionar tudo, é muito bom registar a existência de cada

vez mais pedidos para a execução de um orçamento de base zero. Um orçamento

que faça tábua rasa dos anteriores exercícios e que atribua a cada departamento

do Estado os fundos necessários e suficientes à prossecução da sua missão, desde

que a mesma seja útil aos portugueses. Porque é o seu dinheiro dos impostos que

alimenta o Estado e este deve usá-lo com parcimónia. Todos os departamentos ou

funções que não tenham missão ou utilidade deveriam ser extintos. É muito duro

mas mais inteligente e justo do que aumentar impostos ou cortar cegamente nas

despesas sociais ou salariais.

O orçamento de base zero é uma questão não ideológica de bom governo e de

respeito pelos eleitores e contribuintes. Daí não ser de estranhar que quer o PSD

quer o Bloco de Esquerda já tenham vindo em sua defesa e muitos outros virão.

Dirão que é muito difícil e leva tempo. É verdade. Provavelmente para 2012 é

melhor começar já.

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