Porquê?
Todos os departamentos ou funções que não
tenham missão ou utilidade deveriam ser
extintos. É muito duro mas mais inteligente
e justo do que aumentar impostos ou cortar
cegamente nas despesas sociais ou salariais.
Será que as medidas anunciadas pelo Governo são suficientes para baixar o défice
e restaurar a confiança nos mercados? Essa confiança que tem sido bastante
deteriorada pela recusa em agirmos atempadamente e em função das nossas
debilidades, tem a sua expressão na exigência de cada vez maior remuneração
nos empréstimos concedidos a Portugal. E nós não temos folga. Só para comprar
comida e petróleo necessitamos de 16 mil milhões de euros emprestados todos os
anos. Como fazer se a boa vontade dos credores acabar?
Se as medidas são suficientes, se são necessárias mais medidas, se existirá
orçamento, ou se virá o FMI impor a ordem nas nossas contas, são questões
menores pois o fim será sempre o mesmo. A direito ou às curvas, com jeito ou à
bruta, a consolidação das contas públicas será uma realidade no final de 2011, doa a
quem doer.
O único e enorme desafio à nossa frente é o de como relançar o anémico
crescimento económico português.
Sobre esse assunto existe um consenso alargado sobre a necessidade de um
estudo sério sobre as principais razões que dificultam o investimento em Portugal.
Porque fecham empresas? Porque se deslocalizam? E muitas vezes para locais
onde a mão-de-obra é mais cara. Quais as razões para Portugal perder alguns
projectos de investimento. Onde falhamos? Porque ganhamos outros? Qual a
razão para alguém investir em Portugal? Seria muito pedagógico, e essencial em
termos de posicionamento estratégico de atractividade do país, ter umas respostas
sérias e sem a demagogia do tenebroso capitalista especulador.
Porque é essencial questionar tudo, pôr tudo em causa e saber o que queremos
ter e como lá chegar. Não é inevitável a democracia portuguesa ter crises
financeiras cíclicas desde que o ouro do Brasil acabou.
E já que falamos de questionar tudo, é muito bom registar a existência de cada
vez mais pedidos para a execução de um orçamento de base zero. Um orçamento
que faça tábua rasa dos anteriores exercícios e que atribua a cada departamento
do Estado os fundos necessários e suficientes à prossecução da sua missão, desde
que a mesma seja útil aos portugueses. Porque é o seu dinheiro dos impostos que
alimenta o Estado e este deve usá-lo com parcimónia. Todos os departamentos ou
funções que não tenham missão ou utilidade deveriam ser extintos. É muito duro
mas mais inteligente e justo do que aumentar impostos ou cortar cegamente nas
despesas sociais ou salariais.
O orçamento de base zero é uma questão não ideológica de bom governo e de
respeito pelos eleitores e contribuintes. Daí não ser de estranhar que quer o PSD
quer o Bloco de Esquerda já tenham vindo em sua defesa e muitos outros virão.
Dirão que é muito difícil e leva tempo. É verdade. Provavelmente para 2012 é
melhor começar já.