Ousar mudar ousar sobreviver

paulo-carmona_edit_edPara 2010, aqui na revista, pedimos um Jack Welch português que tome o Estado e, serviço a serviço, instituto a instituto, comissões, altas autoridades, empresas públicas, etc., ponha tudo em causa. Porque existem? Quais os seus objectivos? Estão a ser atingidos? E conseguir-se-iam com menos meios?

Parece que a única saída para a sobrevivência financeira do País e do Estado é trabalharmos mais e melhor. Ou seja, aumentar a produtividade para conseguirmos ser mais competitivos e vender mais. E até é simples, conforme se pode ler no livro que faz capa desta edição. Ser mais produtivo não é segredo nem difícil, até porque a base de partida do país é relativamente baixa. O que falta é vontade.

Vontade sim, pois para sermos mais produtivos teremos de nos afastar da atitude de laxismo e facilitismo que se instalou em Portugal, com alguma promoção da mediocridade e yes-man a posições de liderança. E as análises consagram o Estado, institutos, autarquias, sector público estatal, e as suas políticas nos últimos 20 anos, como o expoente máximo da falta de produtividade portuguesa. E vontade teremos de ter, a bem ou a mal, mas também sabemos que dificilmente mudaremos algo se a isso não formos obrigados.

E obrigados seremos, pois o grau de endividamento, a maioria de origem no consumo, atingiu níveis insustentáveis para uma economia com um fraco grau de crescimento potencial, com um défice crónico das contas públicas e da balança comercial. Empobrecemos e afastamo-nos da Europa todos os dias num desastre por muitos anunciado. E o que fazemos? Preocupamo-nos com questões fracturantes que dividem os portugueses, quando o que se precisa é de união, ou com power-points sobre carros eléctricos que só chegarão em 2012.

As empresas de rating baixam-nos a notação, o FMI e a EU avisam para o mau estado do Estado e que fazemos nós? Assobiamos para o lado e pedimos mais uns milhões para uma auto-estrada erma ou um aeroporto de um nível europeu que vamos deixando de ter.

Para 2010 aqui na revista pedimos um Jack Welch português que tome o Estado e, serviço a serviço, instituto a instituto, comissões, altas autoridades, empresas públicas, etc., ponha tudo em causa. Porque existem? Quais os seus objectivos? Estão a ser atingidos? E conseguir-se-iam com menos meios?

Estará o seu trabalho a ser duplicado noutra parte do Estado? Fechar, cortar ou melhorar. Isso sim, seria o verdadeiro combate ao défice em vez do clássico recurso ao aumento dos impostos. Isso é muito fácil e penalizante.

Tal como no passado, sobreviveremos com os sacrifícios que terão de ser feitos e a que nós nunca virámos a cara, mas o choque da realidade vai ser duro. Mas iremos dar a volta, quando mais cedo melhor e se possível que nos mandem outro Ernâni Lopes.

Um 2010 francamente melhor do que todos os cenários que por aí se pintam e escrevem!

Por Paulo Carmona

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