O Desafio da Conectividade

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Janeiro de 2013 da revista Executive Digest

Como é que nós, o primeiro país global, o país de Oliveira da Figueira, estimado da Ásia à América Latina, poderemos regressar a uma dimensão mais aberta ao exterior com a qual sempre nos demos bem?

Nos últimos 15 anos a economia portuguesa fechou-se sobre os bens ditos não-transaccionáveis e sobre rendas geradas internamente. O resultado foi um acumular de défices externos financiados insustentavelmente por dívida, por uma procura interna artificialmente e keynesianamente empolada. O caminho não pode voltar a ser esse.

A nossa abertura ao exterior (35% pelos últimos números), é mais consonante com uma grande economia, França, Itália, Estados Unidos, do que com economias da nossa dimensão como a República Checa, Bélgica, Dinamarca, etc., que apresentam rácios de 60 e muitos por cento do PI B. Quase todas as economias do Leste europeu passaram, por necessidade e sem ajuda, de economias fechadas dentro do COMECON para graus de abertura superiores a 60%. Como é que nós, o primeiro país global, o país de Oliveira da Figueira, estimado da Ásia à América Latina, poderemos regressar a uma dimensão mais aberta ao exterior com a qual sempre nos demos bem? Esperemos não ter de discutir se devemos ser mais abertos ao exterior. Parece que é mesmo uma necessidade… ou fatalidade se preferirem.

Mas como poderemos tornar Portugal mais atraente ao investimento externo? Como nos poderemos alindar para que possamos ser escolhidos, num mercado muito agressivo de concorrência entre muitos e bons países, para captação de investimento directo estrangeiro. Será que o fenómeno da AutoEuropa é replicável? Deveremos ou não criar Zonas Económicas, ou ilhas empresariais, com legislação própria para que os investidores estrangeiros se “sintam em casa” tal como aconteceu no caso referido da AutoEuropa?

Quer a Polónia, quer a República Checa o têm, autorizado pela União Europeia.

Ou devemos estar mais preocupados em eliminar a chamada “red tape”, circuitos complexos de licenciamento camarário, ambiental, etc. que demorará mais tempo, mas é estrutural e transversal à economia? E o regime de incentivos? Muitas vezes os processos param por questões menores, parados por burocratas sem nenhum incentivo para acelerar investimentos e alterar o elevado nível de processualismo. Referia-me há algum tempo José Honório, CEO da Portucel, que a sua indústria é regida por 47 (se não me falha a memória) decretos-lei.

Para uma expansão de fábrica necessitou de um ano em aprovações de todo o tipo. E isso assusta e afasta quem quer aproveitar a mão-de-obra reconhecidamente excelente que por cá temos. O mesmo José Honório contrastou com um processo de investimento que desejava fazer na Alemanha. Contactou a agência de investimento alemã, disse o que procurava e rapidamente lhe apresentaram um terreno, perto dum porto, e com todas as características pedidas, pronto a construir. O gestor de conta nomeado responsável pela agência trataria de todo o processo e garantiria que o investimento se faria rapidamente.

Será que não deveríamos pôr também um regime de incentivos na nossa AICEP? Um salário base e um salário variável conforme os investimentos externos concretizados ou aumento de exportações portuguesas para o país X? Não será esta a solução mágica, mas talvez ajudasse em conjunto com desburocratização do país.

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