Mais tarde… ou mais cedo…

Por Ricardo Florêncio

O Estado vai acabar por implodir! Não só pelas políticas e erros que se foram cometendo ao longo dos últimos 30 anos, mas também por razões naturais, como a nova estrutura da pirâmide etária em Portugal, e o aumento da esperança média de vida.

Segundo os últimos dados, o nível de endividamento das famílias e das empresas baixou, para o que contribuíram uma série de factores. Mas, o terceiro vértice deste triângulo, o Estado, aumentou desmesuradamente o seu endividamento nos últimos anos. E vai acabar por rebentar, pois vai ser impossível continuar a sustentar este nível de despesa. O problema do nosso deficit não vem do lado das receitas, mas do lado das despesas do Estado. Despesas essas que a larga maioria dos portugueses não deseja abdicar. Mas do lado da receita os modelos não são elásticos. O nível de impostos que temos já atingiu proporções de alguma obscenidade.

Os impostos directos dos particulares estão ao nível dos países mais desenvolvidos, sendo que as contrapartidas por parte do Estado, estão longe de ser as mesmas. No que diz respeito às empresas, a não harmonização fiscal na UE leva a que cada vez haja menos (as grandes) a pagar impostos em Portugal, e nas PME há uma larga maioria que dá prejuízo, pelo que não paga impostos. Restam os indirectos, mas que também já atingiram valores tão elevados que se torna quase impossível (embora este termo não exista bem em política!) aumentá-los. É o caso do IVA, do IA, do ISP. Em cima destas situações, existe um tema que tem merecido pouca atenção por parte da classe dirigente política, que são as pensões.

Quem trabalhou 40 anos a descontar para a Segurança Social, e viu as suas empresas contribuir para esse fundo, está no direito de exigir o pagamento das reformas. Nada há a dizer sobre a situação. É da mais elementar justiça. Contudo, o aumento da esperança média de vida e a estrutura da pirâmide etária em Portugal, e aquela que se perspectiva para os próximos 10-15 anos, não apresentam dúvidas: o sistema vai estourar. Daqui a 10 anos, mais de 50% da população portuguesa vai ter mais de 58 anos. Ou fazemos desde já alguma coisa, ou se vamos esperar pelo impacto final, vai ser mais complicado e doloroso!

Editorial publicado na edição de Março de 2017 da revista Executive Digest

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