E depois de amanhã?

pcarmonaA grande questão é os recursos limitados que

não sustentam a exportação do consumo nível

de vida ocidental para todo o mundo.

Para cada recém-chegado à mesa todos têm de comer marginalmente menos. Neste número

dedicado à globalização, incluímos um resumo do novo livro do Banco Mundial, “The

day after tomorrow” da autoria de dois dos mais importantes especialistas em Economia do

Desenvolvimento, Otaviano Canuto e Marcelo Giugale, mas que não dispensa a sua leitura.

E também uma entrevista com Rui Paiva, CEO da WeDo, líder mundial no fornecimento

de soluções de garantia de negócio, uma das empresas portuguesas mais globais.

A crise veio demonstrar o que há muito se sabia. A globalização e a relevância decrescente

das economias ocidentais. Quando estas submergiram, as restantes ditas emergentes

continuaram em frente sem grande esforço e com taxas de crescimento que nos envergonham.

E foi a força da globalização que permitiu que esse crescimento fosse traduzido em

procura de bens e serviços ocidentais, facilitando a retoma por via das exportações.

Mas essa diferença de crescimento traz uma aproximação de rendimento e de consumo,

entre os seres humanos que trabalham e produzem no mundo inteiro, uma questão de

elementar justiça. A grande questão é a dos recursos limitados que não sustentam a exportação

do nível de vida ocidental para todo o mundo. Para cada recém-chegado à mesa

todos têm de comer marginalmente menos.

Consequências:

1. A pressão sobre os recursos será inexorável e sempre por via preço.

Começa normalmente nos metais, depois nos bens agrícolas e por fim na energia, num

ciclo bem conhecido; 2. Esse aumento de preço será mais nefasto para quem tem algum

nível de vida e não está preparado para lidar com um aumento do seu custo, ou seja, os

consumidores de menor rendimento nas economias ditas desenvolvidas. 3. As moedas

dos países produtores de matérias-primas e exportadores de bens de consumo terão uma

enorme pressão para se valorizarem face às moedas ditas ocidentais. O mercantilismo

oriental venceu; 4. O tempo dos Estados Unidos se constiparem e a Europa imediatamente

se engripar já passou. Como se tem verificado ultimamente, as bolsas são mais afectadas

por uma ameaça de arrefecimento chinês do que novos dados americanos sobre se a retoma

anda devagar ou está parada;

Portugal, a primeira nação global, está fora deste movimento por opção própria ou desorganização.

Nós temos história, tradição e algum reconhecimento no Extremo Oriente,

o actual motor do desenvolvimento mundial. E quantas empresas portuguesas estão em

Singapura, a porta de entrada mais dinâmica para esses mercados? Apenas três: a Efacec,

a Alert e a WeDo.

E o Brasil que tantos cobiçam? Será que não conseguiremos ser a sua porta de entrada

na Europa? Porquê? Não será essa uma missão mais séria e responsável do que o “amigo”

Hugo Chavez que depois paga em bolívares a empresas portuguesas que ainda estão a

descobrir o que fazer com esses rolos de papel?

O tempo do lirismo, da cigarra, acabou. Temos de ser formiga, de ter resultados concretos,

económicos e mensuráveis.

Como diz Rui Paiva, necessitamos de nos organizar, de ter um Ministro dos Negócios

Estrangeiros que venda o país onde ele ainda é valorizado, pela sua História rica. De sair

da nossa casa, do nosso circulo de conforto. De vender…

Só vendendo mais que comprando podemos voltar a ter o nível de vida que sonhámos,

sustentadamente.

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