Carregando a banca às costas

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Maio de 2013 da revista Executive Digest

Do Estado gastador e desequilibrado que seca os recursos financeiros do país e que de outro modo poderiam ser encaminhados para o sector produtivo, que aumenta o risco de crédito e respectivos custos de financiamento, e lança aumentos de impostos e taxas asfixiantes que elevam o custo de fazer negócio e criar emprego e riqueza em Portugal. Contudo, raramente falamos da banca a não ser para dizer que não empresta. Não parece ser o problema maior. A portuguesa tem mostrado resiliência à crise financeira internacional, no entanto possui, à semelhança de outras congéneres europeias, problemas de imparidades que vai aprovisionando quando pode e quando não pode. O mais grave é perder dinheiro todos os dias com os empréstimos que fez no crédito à habitação a 30 anos e que lhe pagam menos de 1% quando o custo dos recursos que capta andará pelos 2,5/3%.

E como é que a banca tenta recuperar? Aumentando os spreads dos novos empréstimos, compensando os antigos onde tem margens de intermediação negativas e levando as comissões bancárias para patamares no mínimo obscenos.
Vários relatos têm chegado sobre garantias, abertura de cartas de crédito, remessas, com taxas de 3 a 3,5% com exigência de colateral a 100%.
Que aumento de custos teve a banca para esta subida de 200% em quatro anos? Como pode a economia recuperar?

Porque a banca teve riscos de avaliação e maus negócios não devemos ser nós todos, através dum aumento absurdo das comissões bancárias ou dos spreads, a recuperá-la. Não sei qual a solução, mas a sociedade não pode ficar sequestrada ou condicionada pelo risco de falência ou nacionalização da banca. Nas nossas empresas, se fizermos um mau negócio não vamos exigir ou pedir aos nossos clientes que nos comprem os serviços mais caros para nos safarmos.

Sinceramente não se sabe se a economia consegue carregar a recuperação da banca. Teme-se que não. Contudo, se não conseguir carregar, os bancos tornarse-ão um problema de todos os contribuintes.

O que se sabe apenas é que se chama “moral hazard” e se os bancos são a base do nosso sistema capitalista não devemos também tolerar e encaixar as suas más decisões e más avaliações de risco. Sobre isso já aqui falámos e citámos o excelente artigo do Martin Wolf no Financial Times. Parece que aos bancos foi-lhes atribuída uma opção divina, se tudo está bem têm lucros e recebem bónus, se correr mal está cá o Estado e a Economia pois são demasiado importantes para poderem falir… absurdo. E depois vem o medo do risco sistémico, a questão fiduciária dos depósitos, etc., que nos remete para um auto silêncio, não podemos nem devemos falar e assim tudo fica abafado.

Pelo contrário, deveríamos assumir a situação boa ou má que temos, mesmo que leve a uma maior intervenção do Estado. Olhemos sem medo o que fizeram os EUA e o Reino Unido. Se não tivermos banqueiros suficientes em Portugal contratemos no exterior. Foi o que o Reino Unido fez com o Horta Osório…

A economia, que mal se aguenta, não pode continuar a carregar com a banca às costas.

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