A Troika e nós

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Outubro de 2012 da revista Executive Digest

Todos desejam que a Troika vá embora e eles próprios também. Aliás porque eles vieram chamados por nós, à pressa e a uma semana da bancarrota.

Façam por favor o pequeno exercício de simular que eles não tinham acedido ao nosso pedido de ajuda, ou que se iam agora embora a pedido de muitos manifestantes. De onde viria o dinheiro para comer ou o crédito para as empresas comprarem cereais ou petróleo?

Claro que a Troika não é inevitável, ao que parece esse adjectivo só pode ser aplicado à morte e aos impostos, mas a alternativa a estarmos humilhantemente ocupados é a fome e a miséria social. Mesmo com uma eventual moratória na dívida e juros, não conseguiríamos sobreviver sem crédito internacional. Sim porque depois de dizermos aos credores actuais que não lhes pagamos a dívida no prazo acordado, iria haver poucos candidatos a serem nossos credores.

A austeridade, essa sim, parece também ser uma inevitabilidade. Com Troika ou sem ela temos de conseguir viver com aquilo que produzimos e vendemos, o que é pouco.

p style=”text-align: justify;”>Contudo há dois aspectos da intervenção que importa corrigir e renegociar.

O Governo tem passado bem a mensagem juntos dos credores que nós somos esforçados e bons rapazes. Nós, ao contrário dos gregos e dos espanhóis, até queremos, mas não conseguimos. Existe claramente uma boa vontade em nos ajudar se nós não estragarmos a pintura e eles já reconheceram:

1. O Pacote de ajuda já ninguém discute, foi mal negociado e deveria conter pelo menos 100 mil milhões, mais 22 mil que o actual. Com mais fundos o Estado já conseguiria pagar mais cedo aos seus fornecedores, adicionando liquidez à economia que tanta falta faz;

2. Os juros não podem ser tão elevados sob o risco de não conseguirmos cumprir. Com o défice público positivo antes de juros, são estes o principal problema. São oito mil milhões de euros de juros, quase 5% do PIB, e ainda não começámos a pagar a dívida. É brutal.

Com um novo fôlego e uma nova política de comunicação que consiga demonstrar o estado real do país e os sacrifícios necessários, acreditemos que 2013 será um ponto de viragem. Se não for, que seja 2014 ou 2015.

E com as necessárias reformas estruturais para que não tenhamos outra vez Troika em 2019.

Porque existem tantas probabilidades de não correr bem, é obrigatório ter esperança porque a alternativa é má de mais para se equacionar.

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