A atractividade da coisa pública
Porque é que não temos os melhores na política? Porque é que a deixamos entregue a jovens de carreira partidária nas “Jotas”, com licenciaturas “estranhas” ou tardias e sem experiência de sociedade civil. E porque é que esta última se não manifesta?
Por que razão terá Portugal uma tão grande diferença entre a boa gestão das empresas e a má gestão do Estado? Nas primeiras temos uma inovação e excelência em gestão das melhores do mundo e no Estado temos tido o oposto nos últimos 23 anos. Talvez essa diferença resida no mal que se remuneram as mais nobres funções de serviço público, talvez.
Seja como for não é possível, nem normal, termos administradores da PT nomeados pelo Governo cujo primeiro-ministro tem uma remuneração 10 a 15 vezes inferior. É um convite a se fazer justiça por caminhos pouco próprios, quando uma simples assinatura num documento vale 20 vezes um salário anual, como temos nas câmaras ou outros serviços públicos.
Falemos também da pouca atractividade que têm as remunerações públicas quando se trata de atrair os melhores talentos. Todos nos lembramos do “escândalo” do salário de Paulo Macedo quando foi para a DGCI. Uma diferença brutal, mas que terá valido ao Estado milhares de euros por cada euro gasto. E os casos de André Gonçalves Pereira ou do autarca de Ribeira de Pena, cujo nome me falhou, que não continuaram as suas funções porque assumiram que “não lhes dava para os charutos” ou que “perdiam dinheiro face ao privado”. E Murteira Nabo, que um caso menor com uma sisa o impediu de ser Ministro, mas que lhe abriu as portas de Presidente da PT. Terá ficado mesmo aborrecido?
Porque é que não temos os melhores na política? Porque é que a deixamos entregue a jovens de carreira partidária nas “Jotas”, com licenciaturas “estranhas” ou tardias e sem experiência de sociedade civil. E porque é que esta última se não manifesta? Ou será que a possibilidade de ruptura das Finanças Públicas não motiva elementos, já com provas dadas e sem necessidades materiais, a construir um legado de esperança às próximas gerações? E se esses elementos emergirem não os deveríamos apoiar?
Falamos de elementos como António Câmara, e este é apenas um exemplo pois faz muito mais falta no sitio onde está, cuja experiência e ideias sobre educação fazem as delicias de uma boa conversa, como a que publicamos neste número. A falta que faz uma verdadeira descentralização educativa e a aposta esquecida na leitura dos clássicos e no estímulo da criatividade! Onde estão Eça de Queiroz, os Lusíadas e outros que, pela sua beleza ou influência na Língua Portuguesa, foram “exportados” para a Faculdade de Letras?
Em Portugal, temos tanto do bom a conviver com o medíocre e sem a possibilidade, ou nalguns casos vontade, de sobressair. Como e o que falta para tal acontecer? Nem mesmo alguma catástrofe anunciada? É tempo de devolver a nobreza e o profissionalismo à causa da gestão da coisa pública.
Por Paulo Carmona