Elogio a Gaspar

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Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Abril de 2013 da revista Executive Digest

Sob o ponto de vista pessoal desejava ser reconhecido, numa ambicionada carreira europeia de homem providencial, como estrela emergente dos líderes europeus de futuro. Sob o ponto de vista profissional, cedo se assumiu como o trágico tesoureiro da nação, numa angústia diária de descobrir como pagar as contas da próxima semana dum Estado em ruptura financeira. Nada mais se podia exigir a um excelente técnico de gabinete, com modelos a mais e sensibilidade do país real a menos, que com voluntarismo tentou pôr ordem nas contas dum Estado incontrolável.

A questão principal é que os agentes políticos responsáveis não quiseram, ou não tiveram capacidade para, controlar o dito monstro e suas “gorduras”, ao contrário do que prometeram em plena campanha eleitoral. Dois anos passados e o legado que temos é igual ao que teríamos com Teixeira dos Santos e os seus PECs 4 a 14, aumentar os impostos e taxar tudo quanto se mexe, em desespero. Para a história, em vez dum Vitor Gaspar providencial e salvador, poderemos ter apenas um caça-níqueis que asfixiou a economia portuguesa.

No dia 2 de Maio do ano passado, Vitor Gaspar, num almoço promovido pelo Fórum de Administradores de Empresa, referiu que a urgência era o equilíbrio das contas e o resto viria depois, numa priorização assumida ereafirmada por todo o Governo. Ou seja, os agentes políticos optaram  por colocar todas as fichas na função Gaspar de controlo do défice, obediente e reputado junto dos credores, e a retoma seria uma consequência. Erro maior, porque o equilíbrio das contas públicas portuguesas, condição necessária mas não suficiente de sucesso da economia, terá sempre de vir de uma reforma do Estado e suas despesas. Se o monstro não se controla, cada vez mais as suas necessidades de despesa são maiores e, em consequência, brutais aumentos de impostos serão necessários para equilibrar as contas até à asfixia total da economia portuguesa. Em português corrente chama-se correr atrás do prejuízo.

Vitor Gaspar fez o que lhe competia e, como referimos antes, a sua visão era de tesouraria de emergência. Não lhe poderia ser pedido uma visão política ou de longo prazo, nem de controlo ou reforma do Estado, isso é tarefa do gestor político. E ele, mais a visão de longo prazo, estiveram ausentes nestes dois anos. Nunca é o caixa que salva uma empresa em pré-falência, mas sim a gestão de topo e a sua estratégia. E onde é que ela tem andado?

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