Indignados não, resignados
Paulo Carmona
Director da revista Executive Digest
Editorial publicado na edição de Março de 2013 da revista Executive Digest
E não temos alternativa ao equilíbrio das contas públicas, ou seja, não podemos gastar mais do que temos, nem que seja para mandar os credores embora. E apesar desta grave recessão ainda as não equilibrámos. E ninguém nos conta outra forma menos dolorosa de acabar com o défice público.
Resignado a uma falta de qualidade da classe política que nos possa dar alternativas.
Mudança de políticas, os credores não deixam; e mudança de Governo não se vê onde possa melhorar (ou piorar…). Onde estão as personalidades da dimensão de um Sá Carneiro ou de um Morais Leitão? Está cada um a cuidar da sua vida que a política paga mal e trata mal o carácter e a privacidade de quem nela participa. E é pena porque os melhores de nós deviam estar a preparar um novo modelo de País depois do rápido esgotamento do actual.
A boa vontade dos que lá estão não compensa a sua impreparação e a insensibilidade para o País real que temos, a sua cultura, a sua História e, mais importante, a sua microeconomia. E depois claro, os cenários do Ministério das Finanças não batem certo.
Resignado a ver talentos emigrar e o País envelhecer sem população activa suficiente que pague as contas de um sistema de pensões por mau aprovisionamento, défice demográfico de natalidade e questões actuariais de aumento da esperança média de vida.
Resignado a sustentar um Estado que pelo seu peso e ineficiente funcionamento retira cada vez mais recursos à sociedade do que os que lhe devolve. O Estado que comprava a paz social distribuindo dos ricos para os pobres tem o problema de já não ter muitos ricos para essa função e a classe média cada vez estar mais pobre, mais propensa a ser receptáculo de ajuda do que contribuinte para essa redistribuição. O Estado Social com que todos sonhávamos faliu debaixo da insustentabilidade do seu financiamento, e pior que isso, está a provocar a inviabilidade da existência de uma nação soberana e a instabilidade social que derivaria de uma bancarrota.
É o mesmo País que se resignou 48 anos debaixo de um Estado Novo que foi ficando velho e decrépito, que tem um temor reverencial pelas pseudo-elites e que tolera e promove bajuladores e incompetentes. E vai continuar resignado, adiando investimentos e perspectivas de recuperação porque perdeu a confiança neste Estado, mas não vê alternativas. Talvez porque não as haja.