Questões de Soberania
A verdade é que um país que necessita de pedir emprestado 16 mil milhões de Euros por ano (10% do PI B) para comer ou andar de automóvel, vive da boa vontade dos credores.
Qualquer Economista que se preze afirma serem dois os principais problemas macroeconómicos de Portugal: o elevado défice e endividamento público e um baixo crescimento potencial do PI B. Se ao endividamento do Sector Estado juntarmos as dívidas das famílias e das empresas, algumas com garantias Estado e outras para cumprimento dos PPP s, chegamos a 270% do PI B ou, em números redondos, 432 mil milhões de Euros.
Infelizmente o nosso crescimento médio, a manter-se nos 0,5%, não dá nem para pagar os juros. E nos últimos anos temos andado a pedir emprestado para os pagar num esquema algo semelhante a outro esquema impróprio. Não necessitamos de falar em especuladores, basta falar em investidores conservadores que venderam dívida portuguesa, assustados com a possibilidade de incumprimento. Se retirarmos da equação os portugueses maravilhosos que habitam este rectângulo, o que fica dos números económicofinanceiros deste país assusta!
E o crescimento, apesar de baixo, teve uma enorme componente de consumo privado. Mas em grande parte financiado pelo exterior. E se falarmos no inevitável e necessário aumento da poupança, ou mesmo começar a liquidar as dívidas, para onde vai o consumo? Claro que é urgente mudar o modelo de crescimento do PIB para um com maior ênfase na produção de bens transaccionáveis e exportáveis. E iremos fazê-lo, mas aí temos de reestruturar todos os actuais entraves à produção existentes em Portugal, leia-se, justiça, educação, legislação laboral, licenciamentos, etc. Ou seja, aquilo que nenhum Governo fez em 25 anos!
Como Portugal cheira a fim de festa e no horizonte existe a mais que provável hipótese de sermos intervencionados pela EU/Alemanha, vamos avançar na Reforma do Estado, no meio de uma importante recessão, obrigados a fazer o que devíamos ter sido nós a fazer e com muitos ralhetes no meio.
É muito fácil, todavia irresponsável, pôr a culpa nos mercados ou nos especuladores. A verdade é que um país que necessita de pedir emprestado 16 mil milhões de Euros por ano (10% do PI B) para comer ou andar de automóvel, vive da boa vontade dos credores. E faz o que lhe exigem, porque infelizmente ninguém é obrigado a emprestar-nos dinheiro.
As opções políticas e sociais de qualquer Governo democraticamente eleito esbarram na capacidade financeira para as executar ou regridem por exigência dos credores enquanto deles necessitarmos. Claro que isso levanta questões de Soberania Nacional. Talvez por essa razão um anterior governante liquidou grande parte da divida externa antes de se atrever a proclamar o anacrónico “orgulhosamente sós”.
Por Paulo Carmona