Vamos ter de pagar para ler informação?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

Por estes dias, o “Observador introduziu a necessidade de pagamento para algum do seu conteúdo, considerado “premium”. O movimento não deve surpreender ninguém. Da mesma forma que não há almoços grátis, também não há informação fidedigna gratuita. A informação tem um processo dispendioso de recolha, tratamento e produção. Mesmo na área digital, em que a parte industrial da impressão não existe, há custos que têm a ver com a tecnologia e com o facto de uma publicação digital ser um canal multimédia onde deve existir além de texto, fotografia, vídeo e som. Não é por acaso que o duopólio Google-Facebook não produz informação própria e parasita informação e conteúdos alheios. O seu investimento é tecnológico e dirigido a criar uma capacidade de segmentação capaz de levar uma mensagem publicitária e comercial ao consumidor que a procura no momento.

O domínio do mercado publicitário pelo duopólio Google-Facebook, que a nível global capta mais de dois terços do total do investimento publicitário em digital, não deixa outra possibilidade para os publishers, se quiserem manter uma produção de qualidade.

Não vai ser com as sobras do investimento publicitário que lhes cabem que conseguirão sobreviver. Se alguém pensou que a regulamentação sobre protecção de dados na Europa travava esta possibilidade, pode desenganar-se – como já se constatou as obrigações foram contornadas. O que começou agora com o “Observador”, e antes já se passava, em diferentes níveis, com o “Expresso” ou o “Correio da Manhã” e o “Público” tem sido uma tendência crescente a nível internacional. O “New York Times” pratica um modelo de acesso pago, tal como o “Washington Post” ou o “Financial Times”.

No último mês soube-se que a Bloomberg também vai introduzir uma plataforma paga e o maior grupo editor de revistas a nível mundial, Condé Nast, anunciou que, depois de já ter a “Wired” e a “New Yorker” com acesso pago, vai também criar um sistema de pagamento para a “Vanity Fair”. Quem quiser bons conteúdos vai ter de os pagar – a publicidade não garante a sobrevivência dos órgãos de informação nesta área digital.

O QUE ANDA O FACEBOOK A FAZER?

Depois do escândalo da Cambridge Analytica, Mark Zuckerberg tem-de desdobrado em iniciativas, institucionais e de comunicação, para recuperar algum do posicionamento perdido. Nas últimas semanas, acabou por traçar algumas linhas: primeiro, a criação de uma funcionalidade clara de “engate” que permita que o facebook funcione como o Tinder a partir da base de amigos de cada um; em segundo, esta é a parte que terá mais consequências económicas, está a ser criada uma plataforma de realidade aumentada a partir do Messenger do Facebook, vocacionada para o comércio electrónico, potenciando a capacidade de sentir e experimentar um produto.

Trata-se de uma concorrência a plataformas semelhantes que a Apple e a Google estão a desenvolver, no sentido de possibilitar aos consumidores a experiência de compra mais próxima possível do contacto físico com o produto; e, em terceiro, o Facebook apresentará em breve uma versão melhorada do Instagram, com mais capacidade tecnológica para proporcionar efeitos visuais.

UM CASACO COM TECNOLOGIA E ENTRETENIMENTO?

Uma iniciativa conjunta da Disney, do MIT Media Lab e da Universidade Carnegie Mellon conseguiu desenvolver um protótipo de um casaco que simula diferentes sensações nos utilizadores, levando a tecnologia de realidade virtual para um novo nível. O Force Jacket é composto por airbags com sensores que podem ser insuflados ou desinsuflados através de um software, podendo recriar abraços ou a sensação de ser atingido por algum objecto.

Na realidade, é uma potencial inovação na forma como os conteúdos de media e entretenimento são consumidos, proporcionando uma experiência mais imersiva e mais próxima da realidade em jogos e filmes. E, claro, o Force Jacket pode permitir à Disney revolucionar experiências de entretenimento específicas nos seus parques temáticos, especialmente nos nos seus centros de realidade virtual.

Este artigo foi publicado na edição de Maio de 2018 da revista Executive Digest.

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