Randstad Insight: Revolução humana – Randstad workmonitor
Por José Miguel Leonardo | Director-geral Randstad Portugal
A revolução tecnológica tem tido um impacto directo não apenas nos negócios gerados mas também na forma de trabalhar. A mudança acontece não apenas em alguns sectores, mas de forma transversal, acompanhando os nossos hábitos diários que também têm sido alterados com todo este processo.
Exemplo disso é a média de consumo de informação por pessoa que é de cerca de 7 horas a cada 5, o que revela que até a forma como consumimos está profundamente alterada, conseguindo transformar o próprio conceito de tempo.
Se nos focarmos no mundo do trabalho deparamo-nos com um conjunto de desafios sobre como gerir o colaborador e a relação laboral e conceitos que pareciam indiscutíveis como o horário de trabalho ou o local de trabalho. O teletrabalho, as conference calls, o co-working e a globalização não são conceitos futuristas e cada vez mais existem exemplos nas organizações de recurso a estas soluções flexíveis, aumentando os pontos de interrogação quanto ao futuro do trabalho da forma como o conhecemos.
Ao mesmo tempo e como se fosse um contra senso, há lojas nascidas online a ganharem presença física ou grandes armazéns com conceitos de proximidade nos centros urbanos. Parece contraditório, não é? A história mostra-nos que não. Nos processos de mudança sempre houve teorias que eliminavam por completo a dinâmica anterior. Há anos que se anuncia a substituição dos homens pelas máquinas, o fim do papel e a desumanização da humanidade. O que estas revoluções têm demonstrado é a alteração da relação do homem com o mundo do trabalho ou com os hábitos de consumo. Em nenhum momento se substitui por completo e aniquilou a sua existência. Não assistimos aos suicídio da pessoa, pelo contrário ela está cada vez mais no centro de todas as preocupações, porque numa organização com equipas mais pequenas cada pessoa contamina o negócio e os colegas de forma muito mais eficaz, do que em equipas muito numerosas.
Também detectamos que cada vez mais as organizações procuram multi-competências, talento, embaixadores. Nunca o employer branding foi tão estratégico. E é curioso assistir a este fenómeno na altura em que o big data entra com projectos mais estruturados.
À semelhança de modelos económicos, o que procuramos hoje é saber mais, prever, antecipar e triunfar. Este é o objectivo da digitalização e é com a tecnologia que procuramos também conhecer cada vez melhor as pessoas, esta individualidade complexa que faz parte do todo mas é imprevisível. Esta complexidade é, e sempre será, impossível de decifrar, mas talvez por isso seja a mais valia de qualquer organização, insubstituível por qualquer máquina, porque é por natureza criadora de valor. Hoje, como nunca, as pessoas estão no centro do mundo.
Randstad Workmonitor: Resultados do 1º trimestre de 2016
A tecnologia e a digitalização são percepcionadas pela maioria dos colaboradores como mais-valias para os seus empregos, de acordo com os resultados da mais recente análise do Randstad Workmonitor.
O aumento do uso das tecnologias no local de trabalho traz vantagens e desvantagens que são apontadas no mais recente relatório Randstad Workmonitor. A maioria dos colaboradores inquiridos em 34 países do mundo é peremptória no que se refere ao impacto que as tecnologias e a digitalização têm no seu trabalho. Globalmente, 81% concorda que o impacto é forte – com esta a média a ser superada no México (96%), Índia (95%), Chile e China (92%), logo seguidos por Portugal, com 91% – e 79% percepcionam-no como uma oportunidade.
Os japoneses, de acordo com o inquérito, são os mais cépticos neste campo, com menos de metade dos entrevistados (47%) a olhar para o aumento do impacto da tecnologia no seu emprego como uma oportunidade.
Ainda assim, mais de dois terços (69%) sente que necessita de mais formação para se manter a par dos desenvolvimentos nas tecnologias, a maioria dos quais na Malásia e Índia (89%), Itália, Singapura e China (88%). Portugal ocupa igualmente os lugares cimeiros, com 81% dos inquiridos a concordar que a formação ainda não é suficiente, uma percentagem que baixa para quase metade na Holanda (45%).
Tecnologia divide
A desumanização ou aproximação que as tecnologias provocam parece dividir os inquiridos, com 59% globalmente e em ambos os casos a concordar com as duas realidades. Os luxemburgueses, indianos ou portugueses sentem, na sua larga maioria, que a sociedade está menos humana devido às tecnologias, enquanto os chineses, turcos ou malaios olham para a tecnologia e para o seu alcance global como um catalisador para criar uma sociedade mais humana.
No local de trabalho, menos de metade dos inquiridos (47%) respondeu afirmativamente à pergunta se a omnipresença da tecnologia no local de trabalho faz com que se sintam menos ligados aos colegas. Esta média é fortemente ultrapassada na Índia (71%) e desce consideravelmente na Noruega (32%), situando-se Portugal no meio, com 49%.
Ainda pouco mais de metade (53%) concorda que a omnipresença da tecnologia os faz sentir menos ligados às pessoas no mundo físico.
Pese embora a proliferação e a apetência pelas tecnologias, globalmente 89% acredita que os encontros frente-a-frente são a melhor forma de interagir com alguém, e apenas menos de metade (46%) reduziu as interacções frente a-frente com contactos laborais devido às tecnologias. Em Portugal, as reuniões frente-a-frente foram reduzidas para maioria (62%).
O valor do internacional
No que se refere a carreiras internacionais, pouco mais de metade (53%) está interessado em trabalhar fora do seu país, uma média que baixa para 47% em Portugal, mas que sobe para 54% quando questionados se estariam dispostos a mudar de país pelo emprego certo.
Apenas 28% dos entrevistados globalmente – 29% em Portugal – tem um emprego que inclui viagens internacionais, muito abaixo do registado na Índia (67%), mas este é um item que a grande maioria valoriza, já que 88% – 92% em Portugal – considera as viagens de trabalho um factor de valor acrescentado nos seus empregos, e 57% gostaria de estar num emprego que incluísse viagens internacionais.
A vontade de abertura a diferentes culturas e nacionalidades é também demonstrada pela grande parte dos inquiridos, com 75% a referir que gostaria de trabalhar com colegas de outros países. Em Portugal, 85% dos inquiridos responderam afirmativamente, uma percentagem que desce para 41% no caso do Japão.
Itens recorrentes
• Índice de mobilidade estável em 109
O número de colaboradores que espera encontrar outro emprego nos próximos seis meses manteve-se estável em 109 no primeiro trimestre do ano. Em comparação com o trimestre anterior, as mudanças na mobilidade foram exponenciais em alguns países, nomeadamente com as subidas da Turquia (+5), Canadá, Austrália e Grécia (+4), Brasil e Índia (+3), e as descidas de Portugal (-5), Estados Unidos da América, Hong Kong e Alemanha (-4), Hungria, Eslováquia, Suíça, Áustria e Itália (-3). Argentina, Chile, Dinamarca, Polónia e Reino Unido mantiveram-se estáveis.
• A mudança de emprego aumenta para 23%
O número de colaboradores, globalmente, que mudou de facto de emprego nos últimos seis meses subiu um ponto percentual face ao trimestre anterior para 23%. A taxa de mobilidade foi mais elevada na Índia – era das mais baixas no último inquérito –, Malásia e China, com aumentos também em Portugal e na Hungria, enquanto a Bélgica, Brasil, Dinamarca, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Singapura, Suíça e Estados Unidos da América registaram descidas. O Luxemburgo manteve a percentagem mais baixa de mudança de emprego (3%).
A vontade de mudar de emprego face ao trimestre anterior aumentou na Índia, Malásia e Nova Zelândia e diminuiu na Austrália, Dinamarca, Alemanha, Noruega, Polónia, Portugal, Singapura, Suíça, Turquia e Estados Unidos da América. Ainda assim, e embora a apetência tenha aumentado no Luxemburgo, estes colaboradores continuam a ser aqueles que menos vontade têm de mudar de emprego.
• Satisfação profissional sobe para 24 países
Neste trimestre, mais de 70% dos colaboradores inquiridos (incluindo os portugueses com 74%) em 24 países, contra 20 no trimestre anterior, considera estar “muito satisfeito” ou “satisfeito” com o empregador actual. No Japão e em Hong Kong, com 17% e 13%, respectivamente, encontram-se os colaboradores mais “insatisfeitos”.
Estudo publicado na edição n.º 121, de Abril de 2016, na revista Executive Digest.