Randstad Insight: O maior evento de recursos humanos

POR : José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

A este número juntam-se alguns outros também impressionantes: 1200 oradores em palco (35,4% mulheres), 2600 órgãos de comunicação social, 2100 startups e 1400 investidores dos “mais influentes do mundo” e pertencentes aos principais fundos de investimento.

Mas o poder por detrás deste evento não se define apenas em euros, mas também em tecnologia. No palco principal foram instalados 30 mil watts de som e 140 mil lumens e, entre 6 e 9 de Novembro, geraram-se 45 terabytes de tráfego de internet em 2,2 milhões de sessões Wi-Fi, que ligaram 51 mil equipamentos, num máximo de 25 mil em simultâneo. A organização do evento afirma que o cabo de fibra óptica, com um total de 80 mil km, dava para ir oito vezes até ao topo do Everest.

É impossível ficar indiferente a esta capacidade de mobilização. As notícias atropelavam-se umas às outras e a robotização e a inteligência artificial deixaram de ser revolucionárias para serem o destaque de qualquer capa de jornal. A Sophia teve mais cobertura noticiosa do que qualquer presidente e o fim do emprego foi anunciado.

Elogiaram-se máquinas e foi dado o protagonismo ao digital, criando cenários dantescos onde o humano parece dispensável.

Eu estive lá. Era um dos 59.115 e senti que estava no maior evento de recursos humanos, ou melhor dizendo, de talento.

Uma cimeira que leva 1.200 pessoas a palco para partilharem o seu conhecimento e que não são apenas especialistas em engenharia, tecnólogos ou “geeks”, mas são, acima de tudo, pessoas que partilham a sua visão sobre a transformação do mundo e onde estamos e para onde vamos. É verdade que temos os grandes gurus desta revolução, mas temos também os gurus do ambiente e da sustentabilidade, da moda, do futebol, dos jogos… da vida.

Em quatro dias sobem a palco todos eles e verdadeiramente não interessa se é no palco principal ou num dos que existe num dos pavilhões. É irrelevante se é num workshop ou num pitch. Não há cadeiras vazias, as pessoas não estão a falar com o vizinho do lado, estão a ouvir e a ver, a absorver o que se passa à sua volta e a interagir. A capacidade de conexão é, sem dúvida, o que mais diferencia este evento. Ninguém se coíbe a perguntar, a entrar em chat na aplicação do Web Summit e a partilhar a sua ideia, o seu projecto e a sua inovação. Um espaço em que as grandes empresas tradicionais (assim chamadas pela idade e pela sua estrutura) convivem lado a lado com as que ainda são embriões, são startups ou mesmo meras ideias. E ouvem-se, não apenas no sentido mercantilista, mas com fundamentos que são de aprendizagem.

No maior evento de talento que se realiza em Portugal reconhecemos a capacidade do ser humano de continuar a evoluir, de inovar tendo como objectivo o bem-estar e a felicidade e não com propósitos suicidas para a sua espécie. Se o emprego vai acabar? Alguns sim, sem dúvida, mas outros aparecerão. O conceito de trabalho vai mudar? Sim, como tem vindo a mudar, a transformação é contínua, mas acelerada, mas constante. O ser humano é a máquina mais complexa de analisar e compreender. Tem linhas de código que processam informação e tem a capacidade de criar cenários impossíveis, de ultrapassar obstáculos e de se superar constantemente. Vai além do seu limite e tem uma energia interior que o leva a não desistir, a resistir e a sobreviver a conjunturas que todos os algoritmos dariam como inultrapassáveis. É um criador, dos sonhos à imaginação, acreditando muitas vezes em modo de louco que é possível executar, que é possível fazer. E é nesta bipolaridade entre o real e o que se passa na sua cabeça que o mundo conta a sua história marcada por nomes de pessoas que fizeram acontecer e que são responsáveis pelo que temos hoje.

É assim que vai continuar a ser, um mundo de pessoas para pessoas, com mais tecnologia e mais inteligência artificial, nunca esquecendo a componente humana.

Estudo publicado na revista Executive Digest n.º 140 de Novembro de 2017

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