Randstad Insight: Copy, adapt and paste

As organizações sempre foram espaço de encontro multigeracional. Mas talvez por a gestão estar mais focada em processos do que em pessoas, durante muito tempo considerou-se que bastava isso para a convivência ser pacífica.

Por José Miguel Leonardo, CEO da Randstad Portugal

Reconhece-se a multigeração como um desafio das organizações. Motivada pela vida activa mais longa e pelo impacto da digitalização nos negócios, o mundo do trabalho tem que ter novas respostas para as gerações que integram a força produtiva, para que haja sinergias entre elas e se consiga retirar o melhor das suas diferenças.

Por outro lado, a forma como está a ser repensado o espaço de trabalho e tudo o que é permitido fazer de forma remota também tem implicações no engagement, ou seja, no conceito e naqueles que vão ser os nossos objectivos de engagement para com as nossas pessoas.

Estamos numa fase de viragem e, se por um lado continuamos a ter relógios de ponto, por outro, temos trabalho ao projecto, com deadlines e sem real horário. A forma de trabalhar mudou, de gabinetes passamos para conceitos de hot seat e às avaliações 360 integrámos a importância do conceito emocional, da felicidade e das organizações positivas.

Estamos em transformação, procuramos um equilíbrio entre modelos tradicionais de trabalho e a nova forma de trabalhar. Porque não mudou tudo e nem tudo vai mudar. Vamos sempre ter de olhar para o caso concreto, para os objectivos e a partir daí identificar o que importa transformar.

Nas pessoas, como nos negócios, é preciso não correr atrás de tendências, porque os outros fazem e porque nos outros resulta. Temos de conhecer o nosso target, reconhecer o que faz sentido transformar, analisar a sua experiência e trabalhar a partir daí.

Copy paste sim, mas passando pelo adapt, para garantir que este faz sentido. E este é o desafio das organizações, saber copiar, saber adaptar o que outros testaram e desenvolveram à sua realidade. Quantos casos conhece de uma transformação de espaço de trabalho que se reflectiu num erro de gestão de pessoas? Quantos casos conhece de criação de apps que só complicaram a experiência? São muitos os exemplos em que apenas se copia, porque não se quer ficar atrás, mas sem que exista uma estratégia clara.

Por isso, paremos uns segundos antes de entrarmos num roadmap frenético de mudança, de paste, que não vai levar à verdadeira transformação. Olhemos para as gerações de forma séria e reconhecendo o seu potencial. Levando-as a interagir em prol de um posicionamento e de um objectivo. Olhemos para os modelos tradicionais, não para os destruir mas para reconhecer onde fazem sentido e como podem ser potenciados com os novos modelos. Façamos a mudança da cultura organizacional consoante a nossa realidade, as nossas pessoas, porque serão sempre elas a força da mudança da organização e será com elas e as suas diferenças que será possível alcançar o sucesso.

Ser rápido é importante, mas ser eficiente também. Vamos falhar? Sim, mas temos de ser rápidos a errar para chegar ao sucesso mais rapidamente. Neste processo não conta só a velocidade mas a capacidade de adaptação, de ver mais à frente. Desafios que são possíveis de superar considerando sempre a gestão de pessoas como elemento crítico na estratégia.

Artigo publicado na edição de Agosto da Executive Digest.

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