Randstad Insight: A sustentável individualidade do todo

Uma ideia, um projecto ou uma empresa. É de criatividade, de imaginação e até de disrupção que o mundo se transforma.

por : José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

Uma inquietação combinada com inconformismo, paixão e até teimosia. O espírito empreendedor que se traduz em novos negócios, melhores processos ou simplesmente novas formas de chegar a ou de obter um resultado. Um processo de criação que tem origem nas pessoas, no elemento diferenciador de qualquer organização. Um ponto de partida que não escolhe idade, género ou habilitações, parte dessa vontade, dessa grandeza de não desistir, de insistir e de querer fazer mais, de querer fazer melhor. Num caminho que se sabe difícil, tortuoso e com mais momentos de desconstrução do que de aplausos.

É no caminho da transformação que os protagonistas de hoje devem caminhar. Não de forma isolada e fechada, incluindo apenas a expressão “colaboração” nos seus projectos confidenciais e internos, que contam apenas com cinco a seis escolhidos do seu quadro. Mas ouvindo, vendo, convidando e contribuindo para que outros possam partilhar e até transformar o mercado. Os protagonistas de hoje têm o insight do seu sector, têm a experiência do dia-a-dia, um histórico de evolução que os levou onde hoje estão. Os empreendedores de hoje e de amanhã têm a visão “fresca” de um sector, combinam elementos externos de forma menos viciada do que quem já tem mais tempo de mercado.

Mas porquê a colaboração? Não estaremos a falar de concorrência? Não estão os protagonistas de hoje a “roubar” grandes ideias e a evitar o fim do seu império? Não . Trata-se de uma troca, uma relação. Uma partilha entre disrupção e conhecimento, da experiência com a inovação. Uma relação que se pode traduzir em vários formatos: financiamento, suporte técnico para o desenvolvimento da ideia ou contributo com áreas de suporte fundamentais ao lançamento no mercado. Trata-se de acelerar, contribuindo. Os protagonistas têm a realidade do mercado hoje, sabem enquanto líderes os pontos fortes e fracos, conhecem e reconhecem as dificuldades e as expectativas dos seus clientes, parceiros e também da concorrência. Têm uma estrutura de vendas, de marketing, jurídica e financeira estruturada que podem impulsionar uma ideia e rapidamente transformar não uma cidade, mas o mundo. Por seu lado, os empreendedores têm a vontade, a atitude e a visão descomplexada de uma forma diferente, inovadora de prestar um serviço, de entregar um produto. A capacidade de ver numa perspectiva diferente, que ganha com a visão de hoje e se transforma em algo mais concreto. Ou não, ou simplesmente muda para algo diferente, ou falha para amanhã já resultar.

Nesta relação entre as partes são fundamentos obrigatórios a confidencialidade, a honestidade, a transparência. Clarificar a partilha desde o primeiro momento, partilhar conhecimento e riscos, definir onde começa e acaba a relação. Porque este é o único caminho possível, porque acelerar o processo de transformação deve ser um objectivo dos “novos” e dos “velhos”, dos mais “leves” com os mais “pesados” porque é neste ambiente “multigeracional” que a economia e a sociedade se desenvolvem como um todo.

E vamos ter fracassos, e vamos desconstruir ideias, e vamos aprender a relacionar-nos, a sermos mais fortes, mais rápidos. Vamos ter sprints com direito a comemoração e vamos ter outros em que lidamos com a frustração, com o insucesso. Um processo em que cada um de nós tem de abrir a mente. Mudá-la, transformá-la.

O mundo está diferente, as pessoas também e isso não é mau. Somos mais se estivermos juntos, porque é do conjunto da individualidade que a transformação é feita, mesmo quando um nome ganha protagonismo face aos outros, é sempre de todos para todos e nunca apenas de um.

Artigo publicado na edição n.º 124, de Julho de 2016, na revista Executive Digest.

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