O guia dos fundos de investimento

por Miguel Gomes da Silva – Head of Treasure and Trading Montepio Geral

Uma das regras a seguir pelos investidores que procuram a rentabilização do seu património é a diversificação dos activos de destino do investimento. Existem várias formas de o fazer, desde logo comprando inúmeros activos diferentes, pertencentes a várias classes, como acções ou obrigações…

No entanto, a compra do próprio activo requer montantes mínimos de investimento, de forma a minimizar os custos de transacção. Para um pequeno investidor, pode tornar-se muito oneroso, e até complexo, comprar as 50 acções do Eurostoxx 50, ou investir em Obrigações de Estados soberanos e de empresas. Quando entramos no mercado transaccionando os activos, diz-se que estamos perante investimento directo. Se, em alternativa, a decisão recair numa forma de investimento colectivo,como é o caso dos ETF ou Fundos de Pensões, então denomina-se de investimento indirecto.

Esta dinâmica entre investimento directo e investimento indirecto é uma das questões que se colocam a muitos investidores informados. Qual a melhor forma de entrar no mercado: investir directamente nos activos financeiros, ou comprar fundos de investimento geridos por Sociedades Gestoras de Fundos? Qualquer uma das vertentes é interessante e tem vantagens e desvantagens entre si.

Se, por um lado, confiar a gestão do seu património a profissionais é um gesto sensato, por outro, as comissões cobradas em alguns tipos de fundos podem desincentivar o recurso ao investimento colectivo. O mundo dos fundos de investimento é muito vasto. Existem várias classes de fundos, com níveis de risco associados distintos.

Relativamente ao tipo de activos, que são o alvo da política de investimento dos fundos, podemos separar os fundos de investimento em duas grandes classes: Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e Fundos de Investimento Mobiliário (FIM).

FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO
Os activos que compõem o fundo são de natureza imobiliária, como, por exemplo, torres de escritórios, lotes de terreno para urbanização, investimentos em parques industriais, entre outros. Normalmente são fundos fechados, que estabelecem a priori o montante necessário para os investimentos a realizar pelo fundo, e encerram a sua subscrição quando esse montante é alcançado. Após a subscrição inicial, podem ocorrer espaçadamente aumentos de capital do fundo, que se traduzem, na prática, na abertura de nova oportunidade de subscrição.

É possível encontrar também fundos imobiliários abertos, no entanto, neste caso, são normalmente fundos de fundos, ou seja, fundos que não investem directamente nos imóveis, mas sim em outros fundos que, esses sim, têm uma exposição directa ao mercado imobiliário.

A maior variedade deste tipo de fundos pode ser encontrada entre as casas gestoras internacionais, onde pode inclusivamente escolher a área geográfica onde pretende ter exposição ao mercado de real estate (termo inglês para imobiliário): mercado asiático, europeu, americano ou global.

Em Portugal é possível investir em fundos de investimento imobiliário nacionais, estando normalmente disponíveis nos principais bancos, apesar de nem sempre estarem abertos a subscrição. Os fundos estrangeiros existem em maior quantidade e diversidade, disponibilizados, nomeadamente, nos bancos presentes na internet, apresentando, contudo, uma limitação fiscal relativamente aos ganhos.

FUNDOS DE INVESTIMENTO MOBILIÁRIO
Os fundos de investimento mobiliário constituem a maior parte da oferta de fundos existente em Portugal. Mais do que um investimento como forma de incrementar o património, são um instrumento de poupança colectiva, que resulta das aplicações de vários indivíduos, numa única entidade autónoma, o fundo, que se encontra dividido em unidades de participação, detidas pelos investidores, que são os participantes.

À luz da legislação portuguesa, os fundos de investimento são geridos por Sociedades Gestoras idóneas, registadas e autorizadas pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a desenvolver a actividade. Cada Sociedade Gestora, antes de lançar um novo fundo, deverá submeter o respectivo prospecto à aprovação da CMVM, que é entidade de supervisão do mercado.

FUNDOS DE TESOURARIA
Os fundos de tesouraria são fundos de investimento mobiliários, enquadrando-se no grupo de activos financeiros de menor risco. São compostos habitualmente por obrigações de governo de maturidades curtas, como Bilhetes do Tesouro, e outros activos de elevada liquidez e baixa volatilidade, logo de risco reduzido. Destinam- se a investidores que privilegiam a liquidez imediata, valorizando a preservação do capital, constituindo uma alternativa aos depósitos a prazo tradicionais.

FUNDOS DE OBRIGAÇÕES
A política de investimentos dos fundos de obrigações centra-se na compra de títulos de dívida, nomeadamente, de obrigações emitidas, quer por empresas (corporate), quer por governos de Estados soberanos (governments). Apresentam um risco ligeiramente superior aos fundos de tesouraria, pois normalmente estão expostos a obrigações de maturidades mais longas e, além das obrigações de governo, investem também em títulos de dívida de empresas que oferecem um melhor spread de crédito, o que significa um risco superior.

Destinam-se a investidores conservadores que pretendem obter uma rentabilidade um pouco acima da oferecida pelos depósitos a prazo. No entanto, é preciso ter em conta que o preço das obrigações de taxa fixa sobe quando as taxas de juro descem e vice-versa. Esta relação inversa constitui o maior factor de risco deste tipo de fundos, o que pode representar retornos negativos se o gestor não souber fazer a transição atempada dos investimentos de taxa fixa para taxa variável. São igualmente uma excelente ferramenta de diversificação de um portefólio, devendo a sua percentagem no peso da carteira ser ajustada ao seu perfil de risco de investidor.

Em momentos de subida de taxas, opte por fundos que invistam maioritariamente em obrigações de taxa variável. Em momentos de descida de taxas, direccione o seu investimento para fundos mais expostos a obrigações de taxa fixa.

FUNDOS DE ACÇÕES
Os fundos de acções são, tal como os de obrigações, fundos de investimento mobiliários. Como o próprio nome indica, têm como política de investimento a exposição a acções, de vários sectores e geografias. O objectivo centra-se na obtenção da melhor rentabilidade possível, através do investimento no mercado accionista, estando obrigados a deter pelo menos 75% dos seus activos investidos em acções cotadas na bolsa, ou em bolsas internacionais. Pela sua génese, estes fundos têm um maior potencial de crescimento e rentabilidade, o que implica a sujeição a um maior risco. São por isso muito sensíveis à volatilidade dos mercados onde investem e devem ser encarados na sua estratégia de investimento como activos de longo prazo.

Existe uma panóplia de fundos de acções disponíveis para os investidores portugueses, quer geridos por entidades nacionais, quer geridos por sociedades de gestão estrangeiras. Assim, podemos encontrar no mercado fundos que investem em determinadas áreas geográficas, como na Austrália, na Ásia, nos países emergentes, ou simplesmente na Europa. Existem ainda os fundos especializados por sectores, que investem, por exemplo, em empresas financeiras, farmacêuticas, tecnológicas, energéticas, etc.

A diversidade de fundos de investimento de acções constitui um universo de variantes possíveis, dada a sua génese. Pela inovação que protagonizam e por investirem em empresas de sectores que serão inquestionavelmente cada vez mais importantes no futuro, destacamos três tipos de fundos considerados alternativos: fundos de investimento em energias renováveis, como o gás natural, parques eólicos, energia solar; fundos de investimento em empresas de recursos naturais, nomeadamente a água e o ar; e fundos de commodities, como o ouro, o trigo, o milho.

FUNDOS MISTOS
Como o nome sugere, são fundos que investem em várias classes de activos, desde acções, Obrigações, mercado monetário, etc. A sua composição e grau de exposição aos diferentes activos varia de acordo com a política de investimentos de cada fundo, existindo uns mais expostos a acções e outros mais conservadores. Os fundos mistos constituem uma boa solução para quem não possui muito capital disponível para dispersar por vários fundos especializados.

FUNDOS DE PRIVATE EQUITY
Podemos enquadrar os fundos de private equity como pertencendo a uma classe de activos de maior risco, logo com maior probabilidade de proporcionar retornos mais elevados. Em termos práticos, a política de investimentos-base deste tipo de fundos centra-se na compra de uma elevada participação do capital de empresas, de forma a obter o controlo da sua gestão, ou uma importante posição que garanta um lugar no Conselho de Administração.

Uma outra forma de actuação destes fundos realiza-se através de operações de capital de risco (venture capital), situação em que é injectado capital numa empresa startup, que está no início da sua actividade, e cujo negócio poderá vingar ou não.

Também nesta situação existe, por parte dos gestores do fundo, uma intervenção na gestão da empresa e no delinear do business plan da sua actividade.

5 REGRAS DE OURO

1- Investigue a Sociedade Gestora.

Procure informação sobre os gestores do fundo. No caso de a Sociedade Gestora não pertencer a um grupo financeiro sólido e conhecido no mercado, aprofunde a sua pesquisa antes de investir. Informe-se sobre a antiguidade da sociedade, de que fundos dispõe na sua oferta, qual o histórico de rentabilidades e quem são os gestores. Procure estas e outras informações no site da CMVM, que lhe permitirão conhecer melhor a quem está a confiar o seu dinheiro.

2- Informe-se sobre as condições de subscrição e resgate. 

Pormenores como comissões à entrada, à saída e de gestão não devem ser desprezados. Se o total das comissões for superior a 2%, está perante um fundo caro, que deverá justificar muito claramente o valor das comissões, pela natureza complexa dos activos em que investe, ou pelos retornos potencialmente mais elevados que pode proporcionar. É importante, ainda, saber se é obrigado a cumprir um prazo de permanência mínimo, antes de poder resgatar as suas unidades de participação.

3- Tenha em conta a liquidez.

Existem fundos no mercado em que a liquidez não é diária, podendo mesmo ser mensal, em alguns casos. Este factor pode ser determinante se necessitar de vender as suas unidades de participação numa situação de emergência. Tenha ainda em conta a possibilidade de obrigatoriedade de um período mínimo de permanência, o que limita a liquidez do seu investimento.

4- Analise a política de investimentos.

Não basta escolher um fundo exclusivamente pela classe de activos e área geográfica em que este investe. É necessário saber se a política de investimentos do fundo contempla, por exemplo, apenas títulos de grande capitalização bolsista e elevada liquidez, ou se também investe em empresas de menor dimensão, mas com elevado valor potencial (são os designados growth ou value funds). Informe-se ainda se o gestor do fundo pode recorrer ao investimento no mercado de derivados, através de futuros ou opções, qual o montante máximo do fundo que pode estar investido em mercado monetário, entre outras características dos activos que o integram e que sejam pertinentes para a sua estratégia, como, por exemplo, o nível de alavancagem permitido.

5- Avalie os riscos associados.

É importante saber quais os riscos a que o fundo está vulnerável, nomeadamente no que se refere a alavancagem, taxas de juro e de câmbio. O grau de endividamento do fundo, conseguido através de repos ou reverse repos, e exposição a activos pertencentes ao mercado de derivados constituem factores de alavancagem. São benéficos para a performance do fundo, quando o gestor os usa para tirar partido de condições favoráveis do mercado, mas podem ser perigosos se não forem respeitados os devidos limites, ou em situações adversas, que vão no sentido contrário à estratégia do gestor. Relativamente ao risco de taxa de juro, deverá informar-se sobre a exposição do fundo a taxa fixa e a taxa variável. A primeira apresenta maior risco em períodos de subida das taxas de juro. Outro dos factores de risco de um investimento em títulos fora da Zona Euro é a questão cambial. A título de exemplo: se o investimento do fundo for em acções norte americanas, em dólares, portanto, e o gestor não efectuar a cobertura cambial para se proteger das flutuações do EUR/USD, o risco cambial pode prejudicar a sua rentabilidade, pois se o dólar se depreciar face ao euro numa proporção superior à valorização das acções, o retorno será negativo, mesmo que a performance das acções seja positiva. Finalmente, tenha em conta a frase que acompanha o prospecto de todos os fundos de investimento: “Rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras!”

O investimento neste tipo de fundos deverá revestir-se de algum aconselhamento prévio, de forma a conhecer que tipo de transacções podem ser efectuadas e sobre que empresas. É importante saber também qual o grau de exposição a venture capital e qual o nível de investimento no mercado secundário de private equity, ou seja, investimento em negócios que já estão numa fase avançada do processo de gestão acompanhada.

Os retornos proporcionados por fundos de private equity são normalmente interessantes, mas apenas no médio e longo prazo. Tenha em conta que deverá não pensar nem olhar para o valor do fundo antes de pelo menos terem decorridos cinco a sete anos, sendo que a sua maturidade natural ocorre aos cerca de 10 anos.

Contudo, existem actualmente no mercado fundos de private equity, cuja carteira de investimentos é composta por outros fundos da mesma classe de activos, o que lhes confere um grau de diversificação e exposição a diferentes activos de private equity, superior a um fundo “primário”, que investe directamente no negócio original. Os fundos de fundos, ao introduzirem uma maior diversificação no portefólio, além de reduzirem o risco, podem acelerar o retorno do seu capital, pois a entrada no ciclo do investimento é feita numa fase de maior maturidade do negócio, quando o investimento inicial começa a dar frutos.

Artigo publicado na revista Risco n.º 8 de Primavera de 2018.

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