Epidural Para Empresas:a Gestão Hospitalar!

Criados com vista à satisfação do utente e tendo na sua base uma suposta eficiência de gestão, o hospital empresa veio a resultar, em muitos casos, numa doença crónica sem cura à vista! Não sendo propriamente a empresa de eleição da maioria das pessoas o Hospital é, sem dúvida, uma das que atrai mais clientela, não pela qualidade ou diversidade do seu produto, mas pela singularidade do seu core business: a vida alheia! Literalmente!

Este tipo de empresa moderna obedece (ou tenta obedecer) à mesma lógica financeira, social e organizacional de outro qualquer “agregado de factores de produção”, dado que as entidades públicas empresariais (E.P.E.) são o produto (in)acabado da transformação dos hospitais em empresas… assim uma espécie de bypass gástrico à Saúde, só que com efeitos secundários permanentes! No fundo, uma plástica que correu mal… E porque se trata genericamente de empresas, estas obedecem, naturalmente, a um modelo de governo próprio que assenta numa lógica de “gestão em cascata” (nalguns casos incluindo “zona de rápidos”) com direito a Conselho de Administração e nível de gestão intermédio, o que potencia, dada a envolvente de “humidade”, uma certa tendência ao aparecimento de alguns fungos e parasitas resistentes que se dão ao nível da administração (como o pé de atleta ou uma micose). Mas com mais ou menos pruridos, o certo é que o Conselho tem necessariamente que ter na sua composição dois princípios activos: médicos e enfermeiros…e os outros que supostamente percebem de gestão, os que remedeiam, e cuja indicação terapêutica é semelhante à da aspirina, serve para quase tudo e se não fizer bem, à partida mal também não faz!

Claro que isto depois vem aliado a um suposto modelo de gestão por objectivos, focado no utente e repleto de vantagens para este! O que aliás se tem notado pelas listas de espera intermináveis para cirurgias, as longas horas de demora nas urgências e as consultas de especialidade agendadas para “já daqui a uma década”, entre outras fabulosas vantagens que os utentes não se cansam de elogiar! Aliás, quando Peter Drucker falou em gestão por objectivos de certeza que tinha em mente os hospitais empresa made in Portugal! E claro que os possíveis indicadores de performance associados a esta “gestão” não podem senão visar o mesmo grau de concretização que o tratamento de uma leucemia com chá de cidreira!

Aliás, esta “empresarialização” deveria contribuir para uma motivação dos profissionais de saúde e para a satisfação dos utentes… e nem uma nem outra se verificam. Mesmo assim aqui está um prodígio da gestão! Uma “empresa” com clientes inesgotáveis, muitos satisfeitos com o simples facto de saírem de lá e em que os colaboradores não precisam de obedecer aos princípios de ouro do Costumer Service, porque a freguesia está garantida e nem sequer se pode dar ao luxo de dizer que ali não torna!

É por isso que o diagnóstico das E.P.E. é reservado e os prognósticos de desenvolvimento vão da coma ao estado vegetativo, com breves passagens pela cura divina e a recuperação milagrosa! Os possíveis tratamentos resumem- se a cuidados paliativos com um efeito placebo, por isso há que esperar para saber se continuam ligados à “Máquina” ou se se tornam auto-suficientes!

por Isolda Brasil

 

 

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