Eles levam tudo…

Por Paulo Carmona

“Quando tributaram os ricos, fiquei em silêncio, eu não era rico. Quando agravaram os impostos sobre as empresas, fiquei em silêncio, eu não era empresário. […] Quando agravaram os impostos sobre o consumo, fiquei em silêncio, eu não consumia muito. Quando me confiscaram os rendimentos, já não havia quem pudesse protestar.”

Esta curta história, com base num pensamento de Martin Niemöller sobre os nazis, tem muito a ver com a indiferença e apatia generalizada que os povos têm normalmente com as acções do Estado. Desde que não me atinjam directamente os meus interesses, não é nada comigo, sigo a minha vida. Até que um dia vêm atrás de mim.

O Estado português está cada vez mais sôfrego dos nossos impostos, enquanto os seus serviços públicos, colocados à disposição dos cidadãos cada vez pioram mais, vide o caos na saúde ou nos transportes. E se hoje tributarem um sector da sociedade, se não for o meu, não me ralo. Só que por este caminho chegarão a todos, aos que têm rendimentos superiores a 25 mil euros e aos que têm património tributável. “Temos de ir buscar dinheiro a quem o tem, onde o há”, disse Mariana Mortágua, para distribuir pelos mais pobres e por quem decide quem são os mais pobres.

Foi assim que começou o sonho Chavista da Venezuela. Um dos países mais ricos da América, com as maiores reservas de petróleo do mundo, é hoje uma amostra de miséria, populações em fuga e uma montra dos efeitos das políticas desejadas pelo Bloco de Esquerda. E é essa amostra de um futuro que ninguém quer que tem arrastado os vizinhos brasileiros para os braços de um Bolsonaro, juntamente com a corrupção do PT, sempre em nome do povo, e a insegurança crescente. 42 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro na primeira volta não serão todos estúpidos, como parecem fazer crer algumas almas iluminadas na comunicação social portuguesa.

Não parece que em Portugal haja muita admiração por Bolsonaro, não temos as necessidades que os brasileiros têm de resposta aos seus problemas específicos, nem queremos ter. Só que um caminho de mais impostos, pouco crescimento, emigração dos nossos melhores cérebros e tudo sujeito ao Estado é um caminho de pobreza, servidão e terreno fértil de populismos.

Em Portugal apenas 34% pagam imposto sobre os rendimentos. Os restantes impostos são inodoros e invisíveis e onde mais facilmente o Estado arrecada receita, veja-se o dos combustíveis, por exemplo. 8 cêntimos não se notam, mas foi o necessário para ter 200 milhões a mais para a reposição de rendimentos dos salários mais altos da função pública…

Em 2019 iremos atingir um novo máximo na tributação em valor do PIB. É isto que queremos? Pagar cada vez mais impostos? Devagarinho até quanto? Nunca nenhum país prosperou só por taxar mais os seus contribuintes e gastar mais…

Vejamos o que fazem os nossos parceiros com o mesmo nível de produção de riqueza. Vejamos as suas taxas de crescimento e os seus níveis de impostos. E olhemos para a nossa vergonha. Um país que todos os anos ganha um lugar no ranking dos países mais pobres da Europa, sem crises nem desculpas, apenas nós e a nossa alienação.

Este artigo foi publicado na edição de Outubro de 2018 da Executive Digest.

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