Alta ansiedade
Por Paulo Carmona
Se calhar estão todos errados, os modelos também, e a Economia portuguesa continuará a ser abençoada pela sorte de um Primeiro-Ministro optimista e bonacheirão.
Roubini e agora o banco JP Morgan prevêem uma recessão mundial em 2020. Talvez seja em 2020 e levam o prémio. Talvez seja em 2019 ou 2021 e outros acertarão. Por mim tenho a certeza que virá, soubesse quando e seria rico. A Economia mundial expande-se e contrai-se em ciclos, e os mercados financeiros oscilam entre a euforia e a depressão. Vários foram os teorizadores de ciclos económicos, sendo Kondratiev o mais conhecido, definindo um tempo médio de 54 anos com base nas inovações tecnológicas. Nós estamos já com 43 anos dentro do actual ciclo das tecnologias de informação. Outros, como Kuznets, 18 anos, Juglar, nove, e Kitchin com quatro, produziram importantes trabalhos sobre ciclos médios menores. Também Schumpeter que baptizou a teoria da destruição criativa, estava influenciado pelas obras dos referidos matemáticos e economistas e aproveitou-as para o seu trabalho sobre os avanços da Economia, com base em inovações disruptivas.
Num registo mais simples, Frank Templeton, fundador da empresa gestora dos fundos que trazem o seu nome, afirmava que as quatro palavras que mais dinheiro tinham feito perder a investidores e a empresas eram: “Desta vez é diferente”.
Ou seja, pelo ciclo longo de expansão – 10 anos em Economia é muito tempo – é provável acontecer uma recessão mundial nos próximos anos. O optimista dirá daqui a quatro anos, o pessimista dirá já para o ano. E é isso que nos diz o mercado mais poderoso do mundo, o das obrigações. Ter 1% a 10 anos na Europa, ou 3% nos EUA, significa que esperam que seja essa a taxa de juro média nesse período. Como é sabido, as taxas de juro aumentam com a actividade económica como travão a uma subida da inflação. E, nos dois blocos, os bancos centrais têm medo de subir mais as taxas, para não antecipar a inevitável recessão, ou refrear este crescimento pálido à base de taxas de esteróides, o nome desta, nunca antes vista, expansão monetária.
Nem é bom pensar o que uma recessão mundial fará às receitas do Turismo ou às exportações portuguesas, numa Economia muito dependente e fragilizada. Não sei se é isso que está presente no subconsciente dos empresários ou gestores portugueses, ou questões relacionadas com a gestão da Economia portuguesa ou o momento político, mas vi-os muito com um ar de quem está em gestão corrente. Deixa ver o que isto dá, e depois logo se vê. A ideia parece a do jogo da cadeira, a música toca, dançam, mas estão todos a olhar fixamente para uma cadeira quando a música parar de tocar.
Se calhar estão todos errados, os modelos também, e a Economia portuguesa continuará a ser abençoada pela sorte de um Primeiro-Ministro optimista e bonacheirão. Assim sendo, o abrandamento que se nota no crescimento da Economia portuguesa e europeia reverterá, e assistiremos a um boom económico europeu. Esperemos que ele se transmita com força à Economia portuguesa, pois esse boom trará certamente alta de taxas de juro, um enorme mal a uma Economia altamente endividada.
O melhor mesmo é dançar enquanto há música…
Este artigo foi publicado na edição de Setembro de 2018 da Executive Digest.