A vitória da vergonha
Por Paulo Carmona
Parece que 2019 é ano de eleições. Isso por si, normalmente é causa para reflexão e adiamento de decisões de investimento à espera de melhores indicações sobre o futuro.
Neste caso parece pouco provável haver motivos para aguardar maior clarividência. Muito provavelmente, a não ser situações anómalas, cisnes negros por exemplo, o Governo actual ganhará as eleições. Em Portugal, terra conservadora, um governo com maioria e que acabe o seu mandato, ganha as eleições. Tem sido sempre assim e não deve ser agora que mudará. Mesmo o Governo anterior, de Passos Coelho, ganhou as eleições apenas sem a maioria que lhe daria acesso a governar, mas ganhou. Como este deverá ganhar. Então se a economia prospera e se a indefinição quanto ao resultado eleitoral é baixa, por que esperar? Têm sido mais os estrangeiros a investir em Portugal, Siemens, Volkswagen, Google, etc. dizem que nas tecnologias de informação, acredito mais em tecnologias de comunicação, vulgo call centers, porque somos bons e baratos. Que temos jeito para línguas é verdade. Admirem um espanhol, um francês, um eslovaco ou um romeno a falar inglês. Sintam-se bem…
As eleições não serão problema, no sentido de que esta política de narrativas irá continuar, a grande questão é o que se poderá passar no exterior. Portugal é uma pequena economia aberta, muito sensível a choques externos, ainda mais porque a maior parte do seu tecido exportador é de pequenas e médias empresas integradas nas grandes cadeias de valor internacionais, sem domínio da função preço ou quantidade. É no crescimento da Europa, nosso maior parceiro comercial e de envio de turistas, que reside a nossa expectativa de crescimento superficial, dado que estruturalmente nada temos feito, nem decisões tomadas, a não ser medidas de aumentos de despesa e salários da função pública e pensões, que não sabemos como iremos pagar se isto virar ao contrário.
Sabemos das eleições e que vamos crescer poucochinho. Nas previsões de Outono seremos o 4.º país a crescer menos na União Europeia pós-Brexit, apenas atrás da Itália, França e Bélgica. Todos os restantes países, principalmente os mais perto de nós em riqueza produzida, crescem muito mais que nós. Uma Polónia crescerá 3,7%, o dobro de nós, uma Eslováquia com 4,1%. São números que envergonham os nossos 1,8%. Mas parece que está tudo bem e ninguém se preocupa.
É fácil ser o maior do bairro. E fazer gala nisso. O problema é sempre a comparação. E é aí que a mediocridade se revela. Em casa o medíocre é rei. Fora do lar, se comparar com outros, pode ser uma besta… Somos uma besta na criação de riqueza. Maus, francamente maus, sermos 4.º em 27…
Este artigo foi publicado na edição de Novembro de 2018 da Executive Digest.