Afinal, o que é a Netflix?

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

Lembram-se da cadeia de lojas de vídeo de aluguer Blockbuster, que chegou a existir em Portugal? Pois a Netflix tem um passado semelhante.

A Netflix nasceu nos EUA em 1977, cresceu a alugar DVD’s, que expedia pelo correio para os clientes. Foi ganhando quota de mercado, soube adaptar-se às novas tecnologias e quando o streaming de vídeo através da internet se massificou, pôs os DVD’s de lado e criou o modelo de negócio em que os utilizadores podem escolher o que querem ver em qualquer local em que exista rede – desde um smartphone ou tablet, até um computador ou um ecrã de Tv.

O resultado é que a Blockbuster parou no tempo e desapareceu. Já a Netflix teve um crescimento explosivo – tem 125 milhões de assinantes, o dobro de 2014. Cada um consome em média duas horas diárias de conteúdos. Quando este ano chegar ao fim terá produzido 80 filmes de longa metragem, mais do que qualquer um dos estúdios de Hollywood. Segundo a revista “The Economist”, o investimento previsto em conteúdos pela Netfllix este ano deve situar-se entre os 13 e os 14 milhões de dolares.

Além da produção própria, a Netflix compra conteúdos a quem os queira disponibilizar, em diversos países e tipologias. Um dos segredos é utilizar os dados que recolhe sobre os conteúdos mais vistos e as suas preferências. Os seus peritos em análise de dados classificaram as preferência dos espectadores em cerca de 2000 “taste clusters” e os resultados permitem construir as produções com o tipo de acção ou narrativa mais procurado, com actores que garantem sucesso e temas mais actuais. E, finalmente, das FAANG, a Netflix é a única que não se viu envolvida em escândalos: o seu modelo de negócio baseia-se em assinaturas, os dados dos utilizadores não são vendidos nem fornecidos.

Um modelo simples: um pagamento mensal em troca dos programas que quiserem ver. E é esta ligação a cada consumidor que lhe dá enorme vantagem, uma combinação entre uma oferta vasta e um conhecimento detalhado de cada utilizador. Ao apostar que a internet sem fios seria uma forma eficaz de distribuir vídeo com alta qualidade, a Netflix conseguiu mudar as regras da televisão.

O que são as FAANG?

Identificam o grupo de companhias composto pelo Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Alphabet (a casa mãe do Google). A valorização bolsista do FAANG ultrapassa o valor conjunto da FTSE 100 – o índice Finantial Times Stock Exchange, que agrupa as 100 companhias com maior valorização na Bolsa de Londres.

Isto dá uma ideia do poder e dimensão das grandes empresas tecnológicas: sem estas empresas do FAANG o mercado de acções dos EUA teria caído este ano. Devido às controvérsias sobre a utilização de dados, evasões fiscais ou comportamento anti-concorrencial este conjunto de empresas tornou-se no alvo de diversos sectores e algumas estão a ter dificuldades com reguladores e autoridades. Mas a capacidade de investimento, o peso e a forma como investem no desenvolvimento de tecnologias tornam-nas incontornáveis.

Como é a Netflix em Portugal?

Ganha novos assinantes todos os dias. Mediante um custo que ronda os 10 euros mensais, o utilizador pode aceder a filmes, séries de ficção e documentários – dos quais muitos exclusivos. Ao fim-de-semana calcula-se que o número de espectadores portugueses que vê Netflix em detrimento dos canais generalistas ou cabo, chega por vezes a atingir quase 15% da audiência de TV – o que quer dizer que ultrapassa a RTP1, fica encostada à SIC e acima de qualquer dos canais cabo. Séries como “The Crown”, “Casa de Papel”, “O Mecanismo” “Orange Is The New Black” ou “Narcos” tornaram-se tema de conversa.

A empresa investe forte em comunicação e em Portugal tem privilegiado o uso de grandes painéis de publicidade exterior, em pontos centrais das grandes cidades (disclaimer: a Nova Expressão, a agência de meios em que trabalho, tem feito grande parte deste trabalho).

À semelhança do que acontece noutros países, a Netflix procura incorporar talento nacional (Pepe Rapazote já participou em “Narcos”) e uma produtora portuguesa está a desenvolver contactos. Uma coisa é certa: em muitas casas liga-se a Tv só para ver Netflix.

Este artigo foi publicado na edição de Julho de 2018 da Executive Digest.

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