Randstad Insight: Não nos esquecemos

Somos capazes e temos talento para mudar o mundo. não podemos querer nem deixar que este potencial seja apenas concretizado em tragédias

Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

É na tragédia que demonstramos a nossa verdadeira humanidade e os valores que são ADN do ser humano.

É também na tragédia que valorizamos o dia-a-dia que temos, o que somos e o que não perdemos.

É na tragédia que choramos copiosamente porque são pessoas, porque eram pessoas e porque é sempre inexplicável como se perdem vidas cedo demais naquilo que será sempre, independentemente de qualquer facto, uma tragédia.

Precisamos de perceber, de compreender o que aconteceu e o que podia evitá-lo. Perceber porque quem perde merece saber, perceber porque não se podem repetir erros, porque temos de conhecer melhor a Natureza e porque temos de fazer de tudo para que não haja episódios semelhantes. Esta investigação não deve ser politizada ou mediatizada. Pedir a “cabeça” de ministros não traz vidas de volta, a responsabilidade política é pouco e menos importante quando o assunto é demasiado sério. Assim como os exageros mediáticos que expõem a fragilidade e a dor.

Informar com emoção é humano, a exploração do emocional é desumano. Não vale tudo, só vale mesmo o respeito pelas pessoas.

Depois de horas de exageros entre a política e a comunicação social, somos marcados pelo concerto solidário. Um momento de união, de voluntariado e de solidariedade em estado puro. Um momento em que “juntos somos mais fortes”, em que o País teve apenas uma emissão de rádio e televisão, cada um ao seu estilo, mas todos juntos porque não podia ser de outra maneira, porque afinal somos todos humanos.

As pessoas são sempre o mais importante, a vida humana não pode perder valor porque isso seria a negação do Darwinismo e poria em causa a espécie. A capacidade de reconhecer até onde consegue ir cada indivíduo é impossível de calcular. Quantos heróis tivemos nesta tragédia?

Muitos, bombeiros e anónimos que não só enfrentaram a Natureza pela sua vida, mas também para salvar a dos outros. Sobrevivência, compaixão, força, resiliência e uma força sobre-humana, em que se ultrapassam limites, quer no local quer mais tarde na ajuda e no momento da reconstrução.

Pessoas e empresas juntos para transformar, para minimizar a dor que fica e que parece não querer deixar continuar. O vazio dos que partiram, o fim de um percurso de vida e a destruição de postos de trabalho. É no hoje que temos que nos focar, temos todos individualmente e enquanto organização ajudar, contribuir com o que nos distingue e devolver à sociedade o que esta tem feito por nós. É nestes momentos que o mundo tem de parar para se reconstruir, que não podemos fechar os olhos e que temos de arregaçar as mangas, não para esquecer, mas para estar junto de quem precisa, para repensar o amanhã, para dar maior sustentabilidade às nossas florestas e para criar um futuro melhor.

Hoje parece que não estou no espaço certo, que este é um artigo de opinião que nada tem a ver com gestão, mas não é verdade. Hoje também escrevi sobre gestão, gestão que inclui as pessoas e que as considera como um bem fundamental, que as reconhece como capazes e com talento para mudar o mundo. E não queremos, não podemos querer nem mesmo deixar que este potencial seja apenas concretizado em tragédias. Este potencial tem de existir no dia-a-dia. Valorizemos o ser humano, por esta capacidade, pelo seu instinto, pela aprendizagem e pela dedicação. Choremos porque nos emocionamos por conseguirmos ser cada vez melhores, porque as nossas empresas são marcantes nas pessoas de hoje e amanhã, no que recebem e dão à sociedade.

Não falo apenas de responsabilidade social mas, sim, da nossa missão na sociedade e no propósito, um propósito que se na primeira linha tem escrito o lucro ou o retorno do investimento dos accionistas, é uma empresa que não está preparada para o mundo, para reconhecer a importância das pessoas na cadeia de valor, os chamados stakeholders que não se extinguem entre os potenciais clientes e os clientes, mas que se estendem também aos colaboradores.

As pessoas são, por isso, e para sempre, por aquilo que são, pelo seu trabalho e pela marca que deixam. E nenhuma será esquecida.

 

Regulação governamental

 

Como esperado, pesquisas empíricas revelam que as decisões relativas à fixação de uma empresa são afectadas por políticas a favor dos negócios

Usando diferenças entre estados em políticas económicas nos Estados Unidos da América e comparando regiões adjacentes nas fronteiras entre estados, Holmes (1998) verifica-se que a actividade da produção é significativamente mais alta em estados pró-negócios do que em estados com políticas consideradas como antinegócios. Concentrando se no crescimento económico na Índia durante mais de três décadas, Beasley e Burguess (2204) mostraram mais claramente que os estados que mudaram a regulação laboral a favor dos colaboradores passaram por uma produção, emprego e investimento mais baixos no período entre 1958 e 1992 do que os estados indianos que mantiveram a regulação laboral estável.

Ao investigarem os efeitos das regulações nos mercados laborais em 85 países diferentes, Botero e outros (2005) apontam que uma regulação laboral mais apertada está associada a níveis mais altos de desemprego e a uma participação mais baixa no mercado de trabalho.

Num tom semelhante, Cooke (1997) mostra que as práticas e regulações laborais podem alterar o destino do IDE (investimento directo estrangeiro) em empresas. Neste estudo, o autor descobriu que o investimento norte americano na indústria de países da OCDE é negativamente afectado pelo poder dos sindicatos e pelo grau de regulações governamentais nas restrições a despedimentos dos respectivos países. Bognanno e outros (2005) corroboraram estas descobertas demonstrando que as restrições na redução de pessoal e outras regulações nos mercados laborais limitam os investimentos externos, mas referem que os efeitos negativos são relativamente limitados ao serem comparados com o tamanho de mercado do país anfitrião como determinante do IDE.

As provas nas empresas confirmam o impacto das regulações laborais no IDE. Gross e Ryan (2008) investigaram os determinantes dos fluxos de IDE e as escolhas de localizações de empresas japonesas em países da Europa de Leste entre o final da década de 80 e a década de 90 e descobriram que a protecção legal de colaboradores – em particular a protecção de colaboradores não temporários – no país anfitrião limita significativamente os fluxos de IDE e as probabilidades de fixação. Para France, Delbecque e outros (2014), a legislação para a protecção de emprego diminui a probabilidade de fixação de uma empresa num país da OCDE. Em contraste com estas descobertas, Leibrecht e Scharler (2009) mostram, porém, que os fluxos de IDE para economias de transição da Europa de Leste não são afectados por diferenças na legislação laboral de cada país, mas determinados por custos directos, principalmente custos salariais.

Com estas descobertas em mente, Davis e Vadlamannati (2013) aumentam a preocupação sobre se a relação negativa entre escolha de fixação/ nível de IDE e padrões laborais pode dar origem a uma corrida para baixos direitos laborais. Usando dados de 135 países ao longo de 17 anos, os autores mostram que os padrões laborais num determinado país estão efectivamente ligados de forma positiva aos padrões de outros países, e que a concorrência pelos padrões laborais é particularmente pronunciada entre países em desenvolvimento com regulações laborais já de si fracas.

As diferentes regulações ambientais muitas vezes só são reconhecidas como estimuladoras de decisões para a fixação de empresas. São amplamente conhecidas as provas de empresas que procuram países com pouca legislação ambiental, os chamados refúgios de poluição, para cortarem nos custos ou das que procuram ambientes com legislação ambiental mais rígida para satisfazer as exigências dos clientes por produtos sustentáveis. Durante muitos anos, a China serviu como um exemplo claro de um refúgio de poluição, com províncias a competir por investimento de capital e a serem abertas a relaxarem ou a não cumprirem padrões ambientais (Esty e Mendelsohn, 1995; Erdogan, 2014). Em contraste, a Costa Rica reforçou a sua legislação ambiental em resposta às exigências das empresas que criam bananas e dos seus clientes, que mostraram favorecer produtos que obedecem a determinados padrões ecológicos (Gentry, 1996).

As pesquisas empíricas, porém, não conseguiram fornecer provas substanciais a favor de probabilidades de IDE/escolha de fixação como resposta a legislação ambiental (ver Erdogan, 2014). À medida que as empresas mais poderosas podem tentar manipular a legislação ambiental de um país, a causalidade inversa e a endogeneidade acompanham estas descobertas. As provas a favor de fluxos de investimento estrangeiro que tentam efectivamente afectar padrões ambientais são, contudo, também escassas e inconsistentes (Erdogan, 2014). Segundo o estado actual das pesquisas, os padrões ambientais mais laxistas não parecem assim ser um factor fundamental para as decisões empresariais relativas a fixações.

Infra-estruturas
Embora os custos de transporte tenham diminuído substancialmente ao longo do século XX e que o processo tecnológico tenha eliminado na sua maioria a importância de infra-estruturas fixas (como um acesso fácil a água) que afectaram crucialmente a criação de centros urbanos naturais (Glaeser e Kohlhase, 2004), infra-estruturas para transportes, ou seja, a qualidade e escala de auto-estradas, caminhos-de-ferro, portos ou aeroportos permanecem outro factor importante na escolha da fixação de uma empresa.

As infra-estruturas fornecidas pelo estado há muito que são reconhecidas como tendo um impacto crucial no crescimento do sector privado regional (Lynde e Richmond, 1992), e as primeiras provas de Reynolds e outros sugerem de facto que as diferenças no tamanho e na qualidade dos sistemas de transporte conseguem explicar diferenças na criação de empresas em diversos países.

Martin e Rogers (1995) argumentam também que as más infra-estruturas da Europa de Leste têm sido um importante obstáculo para a integração comercial destes países após a introdução do tratado de Maastricht, já que as escolhas das empresas para se estabelecerem em países da Europa de Leste foram desencorajadas por más infra estruturas.

Até à data, a maioria das pesquisas empíricas concentrou-se na importância das infra-estruturas rodoviárias como factor para determinar uma localização. Chandra e Thompson (2000) dependem de dados históricos norte- americanos sobre a construção de auto-estradas para demonstrarem que a aglomeração espacial aumentou nessas áreas onde foram criadas novas auto-estradas, mas diminuiu a actividade económica nos países adjacentes. Holl (2004) utiliza dados de Espanha durante alturas de grandes expansões nas redes de estradas (de 1980 a 1994) para investigar os efeitos das melhorias de infra-estruturas nas escolhas de novas localizações. A sua análise mostra que as auto-estradas recém-construídas afectaram significativamente a distribuição espacial de novas empresas, com estas a afastarem-se de centros industriais e residenciais e a aproximarem-se de novas auto-estradas.

Michaels (2008) mostra também que o Sistema de Auto-Estradas Interestaduais dos EUA apoiou a prosperidade económica de áreas rurais. Estudos recentes prestam atenção particular à importância que a endogeneidade dá aos percursos não aleatórios das auto-estradas. Duranton e Turner (2012) usam técnicas variáveis indispensáveis para mostrarem que o incremento de auto-estradas numa cidade norte-americana aumenta significativamente o emprego.

Usando dados longitudinais de fábricas no Reino Unido e a variação exógena na construção de novas ligações rodoviárias, Gibbons e outros (2012) mostram que a construção de estradas molda as escolhas de fixações a um nível geográfico de pequena escala.

Condições locais
Os factores de fixação previamente mencionados podem afectar padrões geográficos de actividade económica e espoletar assim a aglomeração espacial de indústrias ou empresas. Uma vertente relacionada de pesquisa deu, porém, ênfase ao facto de as decisões de fixações poderem ser também moldadas por factores pessoais do empreendedor, o que pode compensar parcialmente economias de aglomeração e semelhantes. Figueiredo e outros (2002), por exemplo, mostram que os empreendedores dão diferente importância a fixações internas ou externas. Enquanto as escolhas externas são afectadas significativamente pelas economias de aglomeração ou pela qualidade das infra-estruturas, entre outros factores, os autores mostram que os factores pessoais que favorecem a fixação de empreendedores perto da sua terra-natal podem até ultrapassar bastante as vantagens de regiões externas.

Dahl e Sorensen (2012) querem corroborar este argumento ao reiterarem que este tipo de inclinação excede as simples preferências, mas colocam em vez disso fortes restrições na capacidade de os empreendedores encontrarem uma empresa longe de casa.

Esta restrição é atribuída à importância das relações pessoais ou profissionais, nos livros referida como capital social, presente na terra-natal de um empreendedor, mas longe de áreas estrangeiras. Dahl e Sorensen corroboram esta reivindicação mostrando que os empreendedores que começam os seus empreendimentos perto de casa têm mais sucesso do que os empreendedores que começam um negócio longe. Outra explicação possível para a existência de uma inclinação para estar perto de casa na escolha de uma fixação é fornecida por Glaeser e Kerr (2009), que mostram que as estruturas sociais podem reduzir os estigmas associados ao fracasso empresarial, aumentando assim a prontidão de correr riscos.

Por fim, e em relação aos dois parágrafos anteriores que sugerem uma inclinação dos empreendedores para se manterem perto de casa, deve ser notado que os colaboradores também preferem obviamente certas localizações residenciais em comparação com outras. Black e outros (2002) e Arora e outros (2000) sublinham que os indivíduos valorizam a presença e a qualidade de instituições culturais e educacionais, ou serviços básicos em geral, além de um ambiente social. Até agora, poucas provas empíricas destacam este aspecto em relação às decisões de escolha de localizações de uma empresa.

Deslocalização de empresas
Tendo em conta a complexidade e a variedade de factores que afectam a localização de uma empresa, parece pouco provável que as empresas deslocalizem todo o seu processo de produção para diferentes regiões em resposta a alterações moderadas num factor de produção. Tendo em conta a importância dos colaboradores com competências e a possível falta de talento no futuro, a deslocalização (parcial) pode, contudo, tornar-se uma opção a longo prazo, tendo em conta que está provado que a falta de competências reais na força de trabalho de uma empresa pode de facto dissuadir o seu comportamento laboral (Stevens, 2007) e a produtividade (Kampelman e Ryckx, 2012). Até agora, a deslocalização das empresas acontece com pouca frequência. Brouwer e outros (2004) reportam taxas de deslocalização anuais de cerca de 2,8%. Para os EUA, Deller e outros (2015) mostram que as taxas de deslocalização
para empresas de produção vão de 0,2 a 2,0%. Apesar do grande interesse de académicos nos factores que influenciam a fixação de uma empresa, apenas um número limitado de estudos se concentrou nas decisões de deslocalização.

Em suma, as poucas provas sugerem que a probabilidade de deslocalização diminui com o tamanho e anos da empresa, mas aumenta com o tamanho do mercado (Brouwer e outros, 2004, e Strauss-Khan e Vives, 2009). Além disso, a decisão de deslocalização de uma empresa não parece responder a incentivos fiscais criados pelo estado (Deller e outros, 2015), mas é em vez disso determinada pelo crescimento externo devido a, por exemplo, fusões ou aquisições (Brouwer e outros, 2004).

Tendo em conta a escolha de deslocalização, as aglomerações têm um papel central nas considerações da empresa (Strauss-Khan e Vives, 2009) e tem sido provado que as empresas criam com sucesso novos clusters em diversos países: os empreendimentos de Silicon Valley criaram subsidiárias na Eslováquia e em Bangalore, as quais são agora consideradas novos clusters tecnológicos emergentes (Alfaro e Chen, 2014).

A deslocalização para países estrangeiros pode, todavia, servir como uma resposta comportamental indirecta das empresas à falta de talento. Não obstante as poupanças nos custos laborais e não laborais, as oportunidades de crescimento e a pressão competitiva tenham sido nomeadas como razões para passar as empresas para o estrangeiro, o acesso a mão-de-obra qualificada serve também como factor determinante para tal (Lewin e outros, 2008). As economias de crescimento rápido, como a China e a Índia, atraem inicialmente as empresas oferecendo custos laborais baixos e legislação laboral ou padrões ambientais mais permissivos (ver, por exemplo, Hijzen e Swaim, 2010, para uma avaliação das consequências da procura laboral devido a mais oportunidades no estrangeiro). Actualmente, o processo de passar as tarefas mais básicas para o estrangeiro cria muitas vezes uma expansão gradual das actividades externas da empresa ao aumentar com sucesso a abrangências das tarefas noutros países (Dossani, 2006). O processo tecnológico nas TI e o aumento de mobilidade de recursos pode fazer com que as empresas desloquem tarefas, principalmente de colarinho branco, para países estrangeiros (Agnese e Ricart, 2009; Bunyaratavej e outros, 2007).

Ate à data, os países asiáticos reconhecem estas tendências e tentam constantemente melhorar a sua atractividade para os investimentos directos estrangeiros ao fornecerem as infra-estruturas certas, investindo fortemente em comunicações de banda larga e tecnologias de informação (Ernst, 2006). Além disso, o talento de países como a China e a Índia tem aumentado substancialmente ao longo dos últimos anos, o que por sua vez atrai mais empregos que exigem competências. Como evidenciado por Ernst (2006), o número de patentes outorgadas a empresas localizadas na Ásia pode servir como indicador adequado de um maior desempenho inovador nesses países, ou
seja, como demonstrador de que as empresas deslocam com mais facilidade algumas partes da sua produção para o estrangeiro: nos últimos 10 anos houve uma mudança gradual nas actividades das patentes da Europa e América do Norte para a Ásia.

Em 2013, 58,4% de todas as propostas de patentes foram feitas na Ásia, com o número de patentes na China a aumentar cerca de 700% de 2003 a 2013. Correspondentemente, os novos clusters industriais emergiram em países como China, Taiwan e Singapura, que por sua vez estão a atrair actividades inovadoras adicionais (Ernst, 2006).

Estudo publicado na edição n.º 136 de Julho de 2017

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