Uma leda e entorpecida estagnação (II)

Por Paulo Carmona

Ah, mas a crise… Como se os outros países não tivessem tido a crise. Todos os factores que podemos culpar pelos nossos desvarios e tristeza económica os outros países também tiveram e… cresceram e estão a crescer.

Um povo resignado que vê a sua juventude emigrar e não se revolta por os governos não lhe darem o prometido e merecido crescimento, é um povo com pouco futuro.

Uma economia estagnada com crescimentos medíocres na última década e meia, vivendo da dívida para comer e consumir, endividando-se sem crescer é uma economia doente…

E pior do que foi referido, acha que a culpa da sua situação não é sua. A responsabilidade é dos outros, dos mercados, da crise, da Europa, da troika, do euro, ou tudo junto numa grande conspiração internacional para nos prejudicar, como se o resto do mundo se importasse connosco.

Pelo contrário prefere ignorar-nos e, por favor, que não cometamos erros para uma nova intervenção externa, porque estão fartos da nossa má gestão económica. E o grande capital opressor dos povos passa-nos todo ao lado e evita-nos como se tivéssemos peçonha.

Nem pagando mais 2,5% que a Espanha e 3% que a Alemanha nos compram a dívida pública… e investimentos dos capitalistas exploradores em Portugal nem vê-los, apesar da reconhecida mão-de-obra barata e qualificada… Só mesmo para fazer turismo.

Ah, mas a crise… Como se os outros países não tivessem tido a crise. Todos os factores que podemos culpar pelos nossos desvarios e tristeza económica os outros países também tiveram e… cresceram e estão a crescer.

A República Checa tinha metade do nosso rendimento per capita e em 20 anos já nos passou, e bem. A Hungria está quase. Até Espanha, sujeita às mesmas desgraças que nós e com o mesmo clima e com as mesmas etapas de adesão à Europa, cresceu em 2016 quase três vezes mais que nós…

Só falta dizer que a culpa é do Salazar ou do 25 de Abril.

Olhar para os outros países torna-nos mais feios, e com vergonha do nosso est

ado, ou pelo menos deveríamos ter.

Uns falam em reestruturar a dívida, como fosse algum espectro que a tivesse pedido emprestada, ou se alguém nos tivesse obrigado, só a nós claro, a endividar para comprar BMWs. Como se nós tivéssemos um mercado visível para algum construtor mundial de automóveis… a culpa, claro, dos outros.

Entretanto resignamo-nos, acomodamo-nos e gostamos de ouvir quem diz que a culpa é dos outros. Vamos vivendo na espuma dos dias, tal como o Governo, pensando cada vez mais no curto-prazo e regressando aos velhos hábitos.

A confiança dos empresários a descer e a confiança dos consumidores a crescer. O único crédito que cresce é o crédito ao consumo, o que também prova que não é por falta de crédito que a economia não cresce…

Importante e a reter, o investimento parou e o consumo subiu à conta do crédito. Já Einstein dizia que “só um tolo acredita que repetindo as mesmas experiências espera que dêem resultados diferentes…”

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro da revista Executive Digest.

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