O significado do trabalho

significado_trabalho_1Ao apanhar recentemente um avião na Califórnia, fiquei sentado junto a um indivíduo de 30 e tal anos, com aspecto de homem de negócios. Sorriu enquanto me instalava e trocámos as habituais queixas sobre a diminuição do espaço dos lugares e outros desconfortos.

Ambos consultámos o e‑mail antes de desligarmos os iPhones. Assim que o avião levantou, pusemo‑nos a conversar.

O diálogo foi assim:

Ele: Gosta do seu iPhone?

Eu: Gosto muito, mas agora estou sempre a ver o meu e‑mail, até quando estou nos semáforos ou em elevadores.

Ele: Pois, percebo. Passo muito mais tempo a ver e‑mails desde que o tenho.

Eu: Não sei bem se sou mais ou menos eficiente no trabalho com estas tecnologias todas que teoricamente servem para aumentar a minha produtividade.

Ele: Trabalha em que área?

Quando estou num avião e começo a conversar com a pessoa ao meu lado, muitas vezes perguntam‑me ou dizem‑me qual é o seu emprego, muito antes de dizermos os nossos nomes ou outros pormenores sobre as nossas vidas. Se calhar é um fenómeno mais comum na América que em outros sítios, mas reparei que os viajantes, por todo o lado – pelo menos aqueles que metem conversa -, costumam falar do seu emprego antes de falarem dos seus passatempos, da sua família ou da sua ideologia política.

O homem ao meu lado contou‑me tudo sobre o seu trabalho como agente de vendas da SAP – uma grande empresa de software de gestão que muitas empresas utilizam para gerir os seus sistemas administrativos. (Sei algumas coisas sobre esta tecnologia porque o meu pobre assistente foi obrigado a usa‑la quando o MIT passou para o sistema SAP.)

Não estava muito interessado em falar sobre os desafios e os benefícios do software contabilístico, mas fui absorvido pelo entusiasmo do meu companheiro de viagem. Ele parecia gostar genuinamente do seu emprego. Pressenti que o trabalho estava no centro da sua identidade – que era mais importante, talvez, que muitas outras coisas na vida dele.

A um nível intuitivo, a maioria das pessoas compreende a profunda inter‑relacao entre a identidade e o trabalho. As crianças pensam nas suas ocupações futuras em termos do que vão ser (bombeiros, professores, médicos, economistas comportamentais ou o que quer que seja) e não do dinheiro que vão ganhar. Entre os adultos na América, “Qual é a sua profissão?” tornou‑se um elemento frequente das apresentações, substituindo o anacrónico “Como vai?” – o que sugere que os nossos empregos são parte integral da nossa identidade, não apenas uma forma de ganhar dinheiro para ter casa onde morar e comida para pôr na mesa. Parece que muita gente – pelo menos quem fala comigo nos aviões – sente orgulho e significado através dos seus empregos.

Em contraste com esta relação emprego‑identidade, o modelo económico básico do trabalho normalmente trata homens e mulheres como ratos num labirinto: presume‑se que o trabalho é um fardo e que o rato (a pessoa) quer chegar à comida com o mínimo de esforço, e descansar de barriga cheia durante o maior período de tempo possível.

Mas se o trabalho também nos confere significado, o que é que isto nos diz sobre o motivo pelo qual as pessoas querem trabalhar? Então e a relação entre motivação, significado pessoal e produtividade?

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