Escolher ter sucesso
Nos dias que correm assistimos ao alastrar de uma doença que vem infectando a nossa cultura e delapidando a esperança: um cada vez maior sentimento de que o sucesso se deve à circunstância, ou a um conjunto de circunstâncias, talvez mesmo à sorte, e não ao trabalho, ao empenho, à execução e à disciplina.
Por José Felix Morgado, presidente da Caixa Económica Montepio Geral
Nos dias que correm assistimos ao alastrar de uma doença que vem infectando a nossa cultura e delapidando a esperança: um cada vez maior sentimento de que o sucesso se deve à circunstância, ou a um conjunto de circunstâncias, talvez mesmo à sorte, e não ao trabalho, ao empenho, à execução e à disciplina.
Vai prevalecendo um sentimento de que o que acontece a cada um é mais importante do que o que fazemos para alcançar os nossos objectivos e ambições.
Uma cultura do “não te rales, não te entales”. Que estamos derrotados e que nada podemos fazer para trilharmos o caminho que entendemos dever eleger.
Em jogos de apostas, lotaria ou mesmo na roleta talvez assim seja. Mas abraçar essa postura como uma filosofia de vida é limitar grandemente a perspectiva de Vida. É desistirmos de nós próprios e do gozo que a Vida pode ter. É transmitir às próximas gerações um testemunho pobre e uma herança que nos deve envergonhar.
Acreditaremos mesmo que as nossas acções e empenho são irrelevantes e que as circunstâncias nos condenam? Acreditamos realmente que aqueles que têm sucesso e criam valor ou inovam o conseguiram somente porque tiveram sorte? Queremos nós construir uma sociedade que nos impele a acreditar que não somos responsáveis pelas nossas escolhas e escrutináveis pelo nosso esforço e pelos resultados que alcançamos?
Nego-me a aceitar essa maneira de estar na Vida. Ao contrário entendo que muito do nosso trajecto está sob nosso controlo. Podemos escolher ter Sucesso, quer na nossa vida pessoal, quer profissional.
O Sucesso não depende unicamente das circunstâncias. O sucesso é, em primeiro lugar e principalmente, resultado de opções conscientes e de uma execução disciplinada. Os factores que determinam o sucesso, mesmo num enquadramento imprevisível e com desafios importantes e incertos, dependem desde logo da nossa escolha, do nosso empenho e da nossa abertura à Mudança. Não se trata do que acontece mas do que fazemos, do que criamos e da excelência com que o fazemos.
É verdade que o sucesso nunca está garantido, mesmo quando o nosso compromisso é o maior ou quando o planeamento foi o mais detalhado. A vida não nos oferece garantias.
Temos sempre motivos para aprender. É sempre possível que o resultado final não seja o que esperamos e que factores externos possam subverter os nossos esforços, dedicação e rigor. Mas, nesse caso, se a nossa escolha é ter Sucesso temos que reagir.
Reinventar, ajustar a agenda ou afinar a abordagem são as respostas da nossa escolha pelo Sucesso.
Nesse momento adverso, quando estamos exaustos ou desmotivados, qual a escolha que fazemos? Ter sucesso? Redobramos a nossa convicção ou abandonamos os nossos valores? Somos perseverantes ou desistimos? Acomodamo-nos ao geral, ao politicamente correcto, aceitamos ser medianos porque esse é o sentimento geral dos que nos rodeiam?
Desistimos das nossas ambições quando temos que enfrentar adversidades ou oposição ao que sentimos ser o futuro? Cedemos nos nossos valores ou afirmamos a nossa independência?
Escolher ter sucesso significa que o nosso valor é o de vencer, que queremos ganhar e que estamos preparados para continuar o rumo que traçámos.
Não estamos prisioneiros das circunstâncias. Não dependemos somente da sorte ou dos azares da vida. Não somos escravos dos pequenos recuos, dos nossos erros ou do sucesso passado. O tempo que vivemos é um factor relevante mas não determinante. Controlamos apenas uma parte ínfima do que nos acontece mas, mesmo assim, somos livres de escolher, e podemos escolher ter Sucesso.
Devemos estar conscientes de que não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo se estivermos abertos à Mudança. Se escolhermos ter Sucesso, então temos que estar despertos e disponíveis para a Mudança.
Como tudo é diferente desde há uma década. Se pensarmos nos últimos 5 anos e considerarmos os acontecimentos no Mundo, no País, nos mercados, na nossa vida familiar e pessoal ou profissional, concluiremos que todas as previsões que tínhamos foram ultrapassadas.
Podemos ficar estupefactos, confundidos, mesmo chocados ou deliciados, mas nunca reticentes. Ninguém pode prever com grande certeza as voltas da Vida. A Vida é incerta, o futuro desconhecido. Isso não é bom, nem mau. É, simplesmente, assim tal como a gravidade.
A revolução tecnológica e a globalização continuam a sua implacável cavalgada cada vez mais disruptiva. As nossas necessidades mudaram. O nosso comportamento adaptou-se às facilidades que a tecnologia nos oferece. A noção de tempo e exigência de resposta contraiu-se.
Vários negócios desapareceram e outros tantos modelos de negócio ficaram obsoletos. Pensemos nos clubes de vídeo, nos negócios das agências de viagem, nas máquinas fotográficas e negócio de revelação de fotos, nas idas aos supermercados, no correio postal, nas reservas hoteleiras, nos táxis ou nas idas ao banco.
Tudo mudou e não deixámos de ver filmes, nem de viajar. Continuamos a tirar fotografias mas já as não revelamos. Compramos on-line, comunicamos agora mais do que antes, continuamos a dormir nos hotéis mas fazemos as reservas à distância de um click e até podemos ver melhor o hotel em que ficaremos. Continuamos a recorrer ao serviço de táxi mas podemos fazê-lo de modo mais confortável. Recorremos ao banco mas queremos ter resposta imediata na nossa mão, em qualquer local e a qualquer hora.
Mas por que razão, mesmo neste turbilhão de mudança e de incerteza, alguns têm sucesso e prosperam? O que distingue aqueles que têm um desempenho de excelência dos que o não conseguem e se tornam obsoletos?
Entendo que esses escolhem ter Sucesso. Esses reconhecem que a Mudança está a acontecer. Não a negam, cavalgam-na. Não justificam o desconforto da mudança pelos princípios e valores que todos perfilhamos. Não se limitam a reagir, mas a criar sendo pró-activos da Mudança. Não se limitam a sobreviver mas são perseverantes. Esses inovam, arriscam, não se resignam.
Quantos desses se deram já conta de que hoje as ideias são mais importantes do que os activos? E que as ideias são imprevisíveis? Saberão que as tecnologias e inovação não conhecem fronteiras e que a distância já não é uma barreira? Reconheceram já que a tecnologia e a inovação criaram um Mundo Novo no qual os indivíduos podem ser mais relevantes que o grupo ou a sociedade?
Bastará atenderem a que dois rapazes criaram Google, que um jovem inovador criou o Facebook e outro a Apple. Eles mudaram as nossas vidas. Ninguém previa. E mesmo eles não previam o impacto das suas ideias.
Por mim escolho ter sucesso. Escolho acompanhar o caminho do Mundo sem abdicar dos valores éticos e morais. Por isso estou aberto à Mudança, a tentar mudar um modelo de negócio, a tentar algo de novo assumindo o risco, ver o que não funciona, aprender e com humildade emendar o que for necessário para alcançar a ambição que abraço em cada momento. Se não funciona, temos que procurar a solução certa e prosseguir sempre.
Tenhamos a coragem de escolher ter Sucesso.
Este artigo foi publicado na edição de Novembro de 2016 da revista Executive Digest.