Conseguiremos safar-nos desta?

Por Paulo Carmona

O anterior regime caiu sob o peso de uma guerra colonial iníqua que não soube ou quis resolver, apesar de saber que era um enorme problema. E criou uma dívida que não sabe ou não quer resolver, apesar de saber que é um enorme problema.

Portugal, com os seus 210 mil milhões de euros de dívida, e sem crescimento, está no fio da navalha.

Com os juros da dívida a subirem, a sua sustentabilidade está em causa. O Governo sabe disso e, embora sem assumir a sua obsessão com o défice, o seu grande triunfo macroeconómico em 2016 foi o menor défice conseguido em democracia, 2,3%.

O próprio ministro Centeno fez questão de o reafirmar vezes sem conta junto dos seus parceiros europeus. É uma atitude de muita responsabilidade e de continuação das políticas de austeridade recomendadas pela troika.

A questão é dessa redução ter sido conjuntural, não estrutural. Apenas comprámos tempo. Porque foi feita à custa de ter esganado a despesa pública para lá das possibilidades de funcionamento correcto de alguns serviços, escolas, hospitais, transportes, etc. que só um governo apoiado pelo PCP poderia concretizar sem mobilização de enormes manifestações em defesa do Estado Social.

O investimento público foi reduzido para lá do aceitável numa economia que necessita desesperadamente de crescer, de criar emprego e riqueza para acudir a cada vez maiores situações de pobreza e exclusão social, sem o recurso sistemático à dívida, muito difícil por agora, e que tem sido prática corrente nos últimos anos.

Os números da OCDE, compilados pela Missão Crescimento, colocam Portugal em 2018 com índices de investimento 34% abaixo dos níveis de 2003 quando quase todos os seus parceiros europeus estão 25 a 50% acima.

Sem investimento dificilmente haverá crescimento, e sem crescimento o problema da dívida irá condenar-nos.

Como bem referiu Teodora Cardoso, não teremos novo resgate porque não há mais ninguém para nos resgatar.

Não existem hoje condições políticas na Europa para voltar a ajudar Portugal, mais depressa nos apontam o caminho de saída do euro como fizeram com a Grécia. Um processo de saída do euro seria sempre algo desordenado e caótico com dificuldades de transacção de importações e implicando uma reestruturação imediata da dívida. Como é sabido, essa reestruturação nunca poderia afectar os credores oficias, por serem privilegiados, abatendo-se sobre os bancos e particulares, detentores de obrigações e certificados de aforro, a redução desses créditos trazendo possíveis falências de bancos e situações de desespero a particulares.

O anterior regime caiu sob o peso de uma guerra colonial iníqua que não soube ou não quis resolver, apesar de saber que era um enorme problema. Este regime criou uma dívida que não sabe ou não quer resolver, apesar de saber que é um enorme problema.

Um caiu 41 anos depois da sua Constituição de 1933. O outro comemora 41 anos da sua Constituição de 1976 este ano. Esperemos que sejam só coincidências, mas necessitamos de ser muito cuidadosos…

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro da revista Executive Digest.

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