Accenture Digital Business: Indústria X.0, combinar e conquistar
Como libertar o poder do digital? A maior parte dos líderes empresariais com quem trabalhamos compreende o poder do digital. Vêem o potencial que as tecnologias digitais trazem para a transformação e crescimento. E muitos estão a fazer grandes investimentos numa vasta gama de tecnologias de vanguarda.
Há líderes empresariais que simplesmente não estão a tirar o máximo partido dos seus investimentos digitais. Ou seja, não estão a transformar o seu core business ao mesmo tempo que fazem nascer negócios novos – aquilo a que chamamos de “Liderar na inovação”.
Quais as provas? Falámos com executivos de mais de 900 grandes empresas de todo o mundo, dos 21 maiores países industriais. Apenas 13% declararam estar a obter uma maior eficiência, poupança e crescimento dos seus investimentos digitais. A percentagem é baixa, mas felizmente as empresas podem agora aproveitar a oportunidade para melhorar ambas.
Na verdade, muitas empresas ainda usam as tecnologias digitais de forma fragmentada, com os benefícios resultantes a fluírem (naturalmente) para apenas uma parte da organização. A solução para este problema é combinar. A nossa equipa de investigação descobriu combinações tecnológicas importantes para ajudar as empresas a reduzir significativamente o custo por colaborador e a aumentar a capitalização de mercado.
Reconhecemos que combinar tecnologias digitais não é um jogo simples de “misturar e combinar”. As empresas devem fazer mais do que simplesmente transformarem-se em negócios digitais; devem reinventar totalmente os seus modelos operacionais, a sua produção e a cadeia de valor para criarem mais valor com o digital. Mas a nossa pesquisa indica uma solução concreta; aquilo a que chamamos Indústria X.0. Trata-se de um plano de acção para as empresas conseguirem abraçar as mudanças tecnológicas e lucrarem com as mesmas.
Esperamos que partilhem esta jornada de transformação connosco. Este relatório é um bom ponto de partida.
TIRAR RESULTADOS
Empresas de todo o mundo reconhecem que, para diminuir custos ou criar novas fontes de receitas, as tecnologias digitais são imperativas. A maior parte, de facto, quer ser líder no digital.
Muitas, porém, não estão a retirar o valor que esperavam dos seus investimentos digitais. Segundo um estudo recente da Accenture a executivos, apenas 13% das empresas estão a explorar o digital para uma maior eficiência além de novo crescimento. “Liderar na inovação”, como o define a Accenture, não é claramente fácil.
Porquê? Porque a maior parte está ainda a investir no digital de forma fragmentada. Simplesmente não reconhece o real valor de uma abordagem combinada.
Para ajudarmos as empresas a compreenderem melhor o que isto significa para o seu valor de mercado e custos, avaliámos 10 tecnologias fundamentais e determinámos o impacto que pode ser atingido combinando todas elas. Utilizámos a análise econométrica para identificar a combinação tecnológica com maior impacto no desempenho financeiro.
A MISTURA CERTA
Compreensivelmente, a combinação de tecnologias para diminuir custos é diferente da combinação mais adequada para estimular o crescimento das receitas.
A nossa pesquisa revela que combinar cinco tecnologias digitais em particular – veículos autónomos, realidade aumentada e virtual, big data, aprendizagem das máquinas e tecnologia móvel – pode ajudar as empresas a atingirem poupanças adicionais de mais de 70 mil euros por colaborador, em média. E uma mistura ligeiramente diferente de robôs autónomos, tecnologias móveis, veículos autónomos, impressão 3D e aprendizagem das máquinas pode ajudar as empresas a ganharem uma capitalização de mercado adicional de mais de cinco mil milhões de euros, em média.
A forma como as tecnologias devem ser combinadas irá, obviamente, variar conforme os sectores; também irá certamente mudar ao longo do tempo. Mas o impacto na poupança dos custos será significativo, independentemente do sector. Por exemplo, as empresas no sector do equipamento industrial podem obter poupanças adicionais de mais de 36 mil euros por colaborador se combinarem robôs autónomos, IA, blockchain, big data e impressão 3D. Como as empresas de equipamento industrial inquiridas têm uma média de custo base por colaborador de pouco mais de 31 mil euros, isso pode traduzir-se numa poupança total de mais de 1,3 mil milhões de euros, em média. As empresas de petróleo e gás, por seu lado, podem ganhar mais de 13 mil milhões de euros em capitalização de mercado se combinarem tecnologias como realidade virtual, big data e IA.
CHAVE PARA O SUCESSO
Criar valor com o digital não é um jogo simples de misturar e combinar tecnologias digitais. As empresas devem reinventar totalmente os seus modelos operacionais, a sua produção e a cadeia de valor, tornando-se aquilo a que a Accenture chama negócios da Indústria X.0.
O QUE É A INDÚSTRIA X.0?
A Indústria X.0 é a reinvenção digital da indústria. Os negócios da Indústria X.0 abraçam as mudanças tecnologias constantes – e lucram com elas. Passam para lá da experimentação com pacotes de TI ou de SMAC (social, mobile, analytics e cloud), combinando tecnologias digitais para estimular o crescimento das receitas e dos lucros. Os negócios da Indústria X.0 incluem as eficiências operacionais centrais da Indústria 4.0, mas também aproveitam combinações de tecnologias digitais avançadas para criarem continuamente experiências novas e muito personalizadas num contexto B2C e B2B.
Exibem quatro características distintas de valor. Os negócios Indústria X.0 são:
Inteligentes: Todos os processos de produto e produção são monitorizados, geram dados e têm em conta um contexto empresarial sempre em desenvolvimento.
Vivos: Há uma capacidade cultural que abrange a empresa para que esta actue com rapidez, enfoque e agilidade, de forma a satisfazer necessidades e aproveitar oportunidades.
Ligados: As comunicações são abrangentes e multidireccionais, enquanto a partilha de dados entre pessoas, produtos, sistemas, bens e máquinas acontece em tempo real.
A aprender: As interacções adaptáveis ajudam a criar experiências de utilizador cada vez mais relevantes e valiosas ao longo do tempo. Os negócios da Indústria X.0 são cada vez melhores que os seus pares a combinar tecnologias digitais.
Aproveitam quase todos os componentes da monitorização da sua produção, da sua capacidade de gerar dados e têm em conta o seu contexto industrial. Ambicionam criar comunicações abrangentes e partilhar dados entre sistemas e máquinas em tempo real. E criam experiências de utilizador relevantes e valiosas ao longo do tempo ao desenvolverem estruturas digitais que possibilitam interacções adaptáveis entre máquinas, clientes e força de trabalho.
Exemplo: A Schneider Electric, multinacional francesa de gestão de energia, gera resmas de dados sobre produção, consumo e processo de electricidade – e usa-os para monitorizar de perto a condição dos seus equipamentos e garantir que são asseguradas determinadas métricas de desempenho. Usando um algoritmo patenteado – o OPTICS, que inclui reconhecimento avançado de padrões e capacidades de aprendizagem das máquinas –, a Schneider consegue prever falhas nos equipamentos e agir com bastante antecedência. Com base nestes dados, o equipamento da Schneider pode adaptar-se ao seu ambiente com rapidez, reduzindo os tempos de inactividade e melhorando a utilização de bens para os seus clientes.
TRANSFORMAR-SE NUM NEGÓCIO X.0
A nossa pesquisa intensiva e modelos de valor económico revelam seis imperativos que os negócios da Indústria X.0 precisam de abordar para se tornarem mais inteligentes, mais ligados, mais vivos e a aprender mais.
Transformar o core business
As empresas da Indústria X.0 desenvolvem a sua engenharia e sistemas de produção principais à volta do digital para estimular novos níveis de eficiência. Asseguram que máquinas físicas e sistemas de software estão sincronizados para obterem eficiências na poupança nunca antes vistas – aumentando assim a capacidade de investimento.
A Caterpillar, por exemplo, usa inteligentemente os dados gerados por máquinas interligadas através da sua solução Cat Connect. A empresa de equipamento de construção e mineração consegue retransmitir dados importantes sobre o desempenho do equipamento aos operadores das minas, que depois os analisam e tomam decisões sobre a maneira mais adequada de aperfeiçoar a eficiência, estimular a produtividade e melhorar a segurança no trabalho. Graças ao Cat Connect, as máquinas na empresa de construção Strack Inc. funcionam agora 48 horas seguidas e as despesas da empresa com combustível caíram 40%.
Foco em experiências e resultados
As empresas da Indústria X.0 utilizam a sua capacidade de investimento para estimular experiências novas e personalizadas para os clientes, através de vários “pontos de contacto inteligentes”. Isto ajuda a melhorar o core business ao aperfeiçoar o envolvimento do cliente.
A Huawei, uma multinacional chinesa de redes e telecomunicações, é uma dessas empresas. Desenvolveu um sistema de controlo de tráfego de rede automatizado chamado Network Mind, que permite um controlo de serviços de voz e dados em larga escala. Usando tecnologias como aprendizagem de reforço profunda online e análise de big data em tempo real, o Network Mind adapta e renova automaticamente os seus modelos de controlo de tráfego para coincidir com mudanças ocorridas nas condições da rede. O Network Mind é até 500% mais eficiente do que os métodos de controlo existentes ao analisar indicadores de desempenho importantes como a conclusão de tarefas e a criação de directrizes.
Além disso, o Network Mind é acima de 50 vezes mais eficiente na análise a grandes trajectórias de redes ópticas e consegue ainda avaliar casos de utilização habituais como seja a prevenção de falhas na rede óptica em apenas seis minutos – uma enorme melhoria quando comparado com as cinco horas normalmente exigidas.
Inovar novos modelos de negócio
As empresas idealizam e criam novos modelos de negócio para obterem um valor diferenciado para os seus clientes e novas fontes de receitas para si próprias.
A Hitachi, o conglomerado japonês multinacional, personifica esta abordagem. Em 2016, a empresa introduziu o Lumada, uma plataforma da Internet das Coisas (IdC) que integra tecnologias comerciais do portefólio da Hitachi numa estrutura aberta e adaptável. Graças à estrutura heterogénea do Lumada, a Hitachi consegue apoiar uma gama de aplicações da IdC e tecnologias parceiras que podem ser adaptadas a ecossistemas digitais em diversos sectores. Por exemplo, as soluções baseadas no Lumada ajudaram as empresas do sector energético a reduzirem os seus custos de produção em 6%, aumentaram os lucros operacionais em 122% e o volume de negócios subiu quase 150%. Soluções semelhantes na produção estimularam reduções de 10% nos custos da produção, ajudaram as empresas a atingirem um nível mínimo de defeitos na altura do transporte e melhoraram a qualidade dos produtos e a produtividade dos colaboradores. As receitas, em 2016, obtidas com o Lumada ascenderam aos 115 mil milhões de euros e a sua capitalização de mercado subiu para 4,7 mil milhões de euros um ano após o lançamento do Lumada.
Desenvolver força de trabalho no digital
As empresas da Indústria X.0 escolhem, formam e retêm talento com competências digitais e encorajam uma colaboração activa entre pessoas e máquinas.
A Airbus, por exemplo, equipa os seus colaboradores fabris com óculos industriais inteligentes para determinar a organização dos assentos na cabina dos aviões. Usando instruções e marcadores contextuais, os óculos inteligentes revelam as informações exigidas para que os colaboradores marquem rápida e acertadamente o chão da cabina de forma a instalarem os assentos. Os óculos também permitem que os colaboradores leiam códigos de barras colocados nas diferentes partes da cabina, recebendo informações fundamentais sobre o equipamento a partir da cloud e mostrando-as nos óculos através da realidade aumentada, tudo com comandos de voz. Como resultado, a produtividade para os processos de marcação da cabina melhorou 500% e a percentagem de erros desceu para zero.
Reformular novos ecossistemas
As empresas da Indústria X.0 criam um ecossistema robusto de fornecedores, distribuidores, startups e clientes que lhes permite aumentar rapidamente a escala de modelos de negócio na cadeia de valor digital.
A Siemens, um conglomerado alemão, criou um ecossistema desses para o seu sistema operativo baseado na cloud e aberto, chamado MindSphere, ao juntar-se a criadores de aplicações, integradores de sistemas, parceiros tecnológicos e fornecedores de infra-estruturas, incluindo empresas como Accenture, Amazon, SAP e Microsoft. Outra iniciativa planeada, o MindSphere Rocket Club, visa ligar startups de IdC aos parceiros e clientes internacionais da Siemens para aumentar ainda mais a adopção do MindSphere. A Siemens está também a desenvolver o MindConnect Lib, que facilitará aos programadores ligarem aparelhos integrados no MindSphere. A interface de programação (API) “norte” do MindConnect Lib facilitará uma integração rápida do Siemens MindApps e de outras aplicações no MindSphere, enquanto a sua API “sul” simplificará a ligação a bens de terceiros no MindSphere.
Escolher com sensatez
As empresas da Indústria X.0 equilibram continuamente o investimento e a distribuição de recursos entre o core business e os novos negócios para sincronizar a inovação e o crescimento.
A Alphabet, a empresa-mãe da Google, investe em diversos negócios em fase inicial com a designação de Other Bets. A empresa quer incubar negócios de sucesso no médio a longo prazo. Por isso, por exemplo, enquanto o termóstato inteligente Nest continua a estar no top das vendas na sua categoria, a Nest Labs continua a lançar produtos novos e bem-sucedidos como o Nest Cam Outdoor. A Verily, outro negócio da Alphabet, obteve sucesso na área das Ciências da Vida e da Saúde, com novas soluções na gestão da diabetes e na cirurgia robótica. As receitas dos negócios da Other Bets subiram de 272 milhões de euros em 2014 para 674 milhões de euros em 2016, contribuindo para quase 1% das receitas totais da Alphabet. Embora alguns dos outros negócios da Other Bets tenham visto a sua quota-parte de perdas, a Alphabet continua a investir no esforço, ciente de que essas inovações podem ter um potencial disruptivo significativo no futuro.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 142 de Janeiro de 2018.