A vida a prestações
O equilíbrio entre a vida privada e a profissional é um tema actual. Proporcionar actividades de apoio à vida privada dos colaboradores é o caminho seguido por um número crescente de empresas. Faz bem à imagem manifestarem-se a favor do worklife balance. Em Inglês ainda fica melhor.
Creches e actividades de tempo livre para os filhos dos funcionários, lavandaria, refeições prontas, transportes, aulas de ioga, cursos de desenvolvimento pessoal, consultas médicas – a lista tem o limite da imaginação.
Estamos sempre acessíveis, sempre presentes. Onde quer que estejamos, o trabalho está lá. Podemos organizá-lo como quisermos. Mas para a maioria das pessoas isso significa apenas mais trabalho e uma sensação opressiva de nunca poder desligar-se. Apossibilidade de encontrar um equilíbrio nunca se concretiza apesar dos horários flexíveis e dos serviços oferecidos.
É difícil colocar os limites no sítio certo. Onde estão o «já basta de trabalho» e o «vou dar atenção aos meus filhos»? Onde acaba o «quero chegar ao topo da carreira» e começa o «vou ao ginásio hoje»?
Cada vez mais pessoas se queixam de que no momento de decidir onde aplicar o seu tempo o trabalho leva mais do que gostariam. Porquê, se a decisão é sua?
Porque enquanto todas as pessoas produtivas têm claros os objectivos da empresa para a sua função, pouquíssimas pessoas têm claros os objectivos para a sua vida privada.
Está satisfeito com a sua saúde? Gostaria de emagrecer, resolver problemas físicos, melhorar a forma? Tem os exames médicos em dia?
Está satisfeito com a qualidade das relações que tem com as pessoas que lhe são significativas? Identificou aspectos a melhorar na forma como comunica com elas? Tem questões do passado por resolver? Dedica tempo suficiente a quem lhe é importante?
Tem atitudes que o impeçam de ser mais feliz, de realizar trabalho mais produtivo e satisfatório? Sente-se por vezes limitado por si próprio? Oseu nível de educação permite-lhe acesso às oportunidades que deseja? Há cursos que deveria frequentar para chegar a elas?
Equantos objectivos definiu com prazo limite, forma de medição e plano de acções escrito para as coisas que sabe que tem de fazer com base nas perguntas anteriores?
Tudo o que obtemos na vida é pago em prestações de tempo. Trocamos dias de actividade por resultados. Eo tempo dedicado a uma área da vida não pode ser gasto na outra.
No momento de tomar a decisão de como usar a próxima hora, todas as actividades cujo resultado imediato é claro são consideradas mais prioritárias do que as que têm resultados difusos. Se eu não responder a este e-mail, o chefe reclama. Mas se não conversar com os meus filhos eles não se queixam. Ese não for ao ginásio hoje, não acontece nada de mal no imediato.
Quando não temos objectivos e planos de acção escritos para a vida privada, não nos apercebemos das consequências futuras de não realizar hoje as actividades que são importantes. Por isso, adiar o privado parece sempre mais barato do que adiar o profissional. Basta pôr na conta de amanhã tudo o que não sabemos quanto custa.
Vivemos em prestações diárias sem saber quando acaba o saldo.
Faça bem as contas do retorno de cada hora e aplique-a responsavelmente. Otempo que está a gastar é seu e não o pode repor.
Por Ricardo Vargas