A dieta dos líderes
Um médico amigo, especializado em distúrbios alimentares, comentou que a maioria das pessoas que procura o seu consultório precisa de controlar o peso. Fruto do tempo de abundância desregrada, parece que temos tendência a engordar, comendo coisas pouco saudáveis e em quantidade excessiva.
Mas não só os clientes dele têm o problema identificado, como também têm muitas vezes uma solução. Em geral trata-se de um programa milagroso que, uma vez seguido, permite reduzir o peso com pouco esforço e em tempo digno de mínimos olímpicos.
Aparecem então estas almas no consultório do médico para lhe pedir que valide o programa alimentar da sua escolha e saber se os pode ajudar a segui-lo. Perguntam-lhe coisas como: «Dr., o que acha da dieta pobre em hidratos de carbono e rica em proteínas?» ou «Dr., o que acha de eu seguir uma alimentação à base de ananás e chá verde, que dizem que emagrece?» ou «Dr., estou entusiasmado com a nutrição paleolítica, parece-lhe bem?» ou «Dr., e se eu me tornar vegetariano, consigo reduzir o peso?»
Omeu amigo ouve com atenção a descrição detalhada do programa e no fim dá uma resposta motivadora: «Esse programa parece-me bem. Desde que você ingira menos calorias do que aquelas que gasta e faça exercício físico, essa dieta resulta sempre. Vamos planear a sua ingestão de calorias e o exercício que precisa?» Qualquer que seja a solução que lhe apresentem, a resposta é a mesma.
Gostamos de programas sofisticados, com teorias apelativas. Se tiverem um bom marketing e brochuras ilustradas melhor ainda. Se houver um livro e se o seu autor for internacional e visitar regularmente os estúdios de televisão, então é infalível.
E tendemos a esquecer o fundamental. Olhamos para as coisas simples com o desdém da arrogância intelectual. «Se fosse assim tão simples qualquer pessoa o faria.» E é verdade, qualquer pessoa que quisesse realmente fazê-lo, fá-lo-ia. Apenas as pessoas que não o querem fazer precisam de se refugiar atrás de modelos conceptuais que lhes escondam a realidade do que tem de ser feito.
No meu trabalho de consultoria de desenvolvimento de líderes e de equipas de gestão deparo-me muitas vezes com uma enorme sede de conhecimento intelectual, que considero absolutamente saudável.
Nas formações e sessões de executive coaching que conduzo é habitual os gestores perguntarem-me coisas como: «Ricardo, o que acha do modelo dos doze papéis/quatro estilos/seis cores/sete pilares/dez comportamentos/oito hábitos/cinco atitudes /três olhos e um umbigo da liderança?»
Nesses momentos lembro-me do meu amigo médico e não resisto a roubar-lhe a linha: «Éum bom modelo de liderança. Se com ele você conseguir aumentar o engagement da equipa, desenvolver as competências dos colaboradores, alinhar as atitudes deles com a cultura desejada da empresa e gerir o desempenho para atingir os objectivos, resulta sempre.»
Podemos frequentar as conferências e ler os livros com a última teoria sobre liderança. Mas só é líder quem leva a sua equipa a produzir resultados. E isso depende de responsabilizar os colaboradores pelas acções estratégicas, gerir o desempenho deles adequadamente, ajudá-los a desenvolver as competências necessárias ao sucesso e alinhar as suas atitudes com uma cultura de competitividade empresarial.
Talvez pareça simples, e por isso pouco apelativo, mas não deixa de ser indispensável. E com um pouco de determinação e humildade até pode ser posto em prática e levar-nos a produzir resultados. Mas só por quem quiser mesmo fazê-lo. Para os outros há a teoria.
Por Ricardo Vargas