Organizações Multigeracionais: aprender a potenciar a diferença
Estudos indicam que diferentes pressões estão a tornar o ambiente de negócio cada vez mais volátil e incerto. A globalização, a constante mutação do ambiente envolvente às organizações, a gestão de expectativas da direcção, dos agentes financeiros e dos colaboradores, a pressão e exigência por parte dos clientes e consumidores e a constante evolução da tecnologia são alguns dos exemplos das forças que estão a mudar as organizações um pouco por todo o mundo.
Todos estes factores atribuem aos gestores a responsabilidade de serem cada vez mais flexíveis, criativos e visionários. Mais do que nunca será necessário recrutar, formar e manter grandes profissionais, inovando constantemente ao nível da gestão de recursos humanos. Porém, em tempo de mudança, como conseguirão os gestores adequar a sua comunicação a um conjunto de colaboradores de diferentes faixas etárias e backgrounds? Como podem falar e ser compreendidos da mesma forma por todos os ouvintes?
Há seis anos atrás, a nossa empresa sentiu a necessidade de actualizar o seu quadro de valores e princípios. Em vez de atribuir essa tarefa aos dirigentes mais seniores da empresa, decidiu criar um grupo de trabalho multi-cultural, geracional e funcional. O output foi depois discutido amplamente dentro da organização e aprovado pelo board da empresa.
Reunimos um conjunto de valores que representam a forma como queremos gerir a nossa empresa: “Conseguir o crescimento sustentado do negócio através de pessoas com capacidade de decisão que actuam com responsabilidade e fomentam a confiança”. Um dos valores primordiais resultante deste grupo de trabalho é, exactamente, o saber potenciar a diversidade promovendo a inclusão. O reconhecimento dos contributos e esforços individuais dos colaboradores e a valorização das suas diferenças únicas são factores determinantes para o bem-estar interno e consequentemente para uma maior abertura dos indivíduos face aos valores corporativos a transmitir para o exterior.
Com isto quero dizer que é imperativo para o gestor olhar para os seus colaboradores e compreender que dentro da sua estrutura organizacional existem pessoas que viram o mundo evoluir ao longo dos anos e outras pessoas que já nasceram num mundo globalizado, instantâneo, tecnológico. A atitude face ao trabalho é diferente e muitas vezes oposta quando estamos perante grupos de diferentes gerações.
A base de colaboradores de uma empresa pode vir a abranger quatro gerações diferentes – Tradicionalista (nascidos até 1945), “Boomer” (pós guerra), Geração X (anos 70) e Geração Y (anos 80 e 90) -, que naturalmente têm diferentes necessidades e expectativas em relação ao trabalho. Quando comparamos a atitude face ao trabalho daquelas que são as duas gerações mais opostas – Tradicionalista e Geração Y -, verificamos que existe por parte da geração Tradicionalista uma maior necessidade de chefia, controlo e aprovação, ao passo que na Geração Y se assiste a uma maior apetência para a mudança, para o trabalho e decisão em equipa, para a colaboração e para o networking.
O segredo está em saber potenciar a diferença e promover a diversidade. Não será fulcral para a organização a troca de ideias entre estas duas gerações? Certamente que a diversidade é saudável e, quando trabalhada de forma eficaz, pode vir a representar uma excelente fonte de inovação para a empresa. A habilidade de criar um ambiente de trabalho no qual todas as gerações possam trabalhar em pleno permitirá igualmente atrair, manter de desenvolver os melhores talentos.
As organizações e os gestores têm de começar a alterar os seus métodos e processos de trabalho por forma a serem capazes de acomodar esta nova geração de talento, a Geração Y, tão diferente das suas antecessoras. Apenas as empresas que entenderem esta perspectiva poderão satisfazer um público interno cada vez mais exigente em termos de identificação pessoal com os valores da entidade patronal, um público externo que espera das organizações uma contribuição para a sociedade muito para além da comercial e, em termos gerais, uma sociedade altamente competitiva onde apenas os melhores vencerão.
Caminhamos agora para o abandono de processos assentes em “hierarquia”, “autoridade” ou “controlo”, privilegiando os que assentam na “instantaneidade”, “colaboração” e “comunicação”, expressões que norteiam esta nova geração de talento em todas as vertentes da sua vida.
POR JOÃO COSTA