Porquê investir em Portugal?

Por Paulo Carmona

A dívida é uma espada em cima do país, que pode fazer-nos entrar em bancarrota ou obrigar a mais uma humilhante intervenção externa, mas menos generosa e paciente.

Convidado para uma conferência com investidores brasileiros no âmbito da Web Summit, foi ocasião para uma reflexão e troca de ideias sobre as vantagens (e desvantagens), de investir em Portugal. Estamos a falar de investimento produtivo para além do imobiliário ou do mercado de capitais.

O brasileiro, hoje, será talvez o grupo de indivíduos mais importante e fácil de captar para investimento produtivo, para além das start-ups, embora estas sejam importantes mais pelo seu significado e importância reputacional do que geradoras imediatas de emprego. Pelas questões de segurança e instabilidade política e social, muitos brasileiros influentes e com capital estão a tentar colocar a família em locais mais seguros, com menos ansiedade diária e, eles próprios, a colocarem-se o mais possível nessa situação.

Portugal tem as vantagens de ter uma boa qualidade de vida, no clima, alimentação, segurança, bom ambiente e condições naturais apreciáveis. Conta também a língua e a familiaridade com que os brasileiros aqui são tratados. Temos profissionais e recém-licenciados bastante qualificados e com salários relativamente baratos quando comparados com a Europa ou mesmo com locais do Brasil, e activos empresariais e industriais desvalorizados. A localização geográfica também é importante conseguindo estar em Lisboa quase à mesma distância de voo de São Paulo, São Francisco, Xangai ou Singapura. Contudo, a localização está a tornar-se pouco relevante, a trabalhar em rede e com o desenvolvimento exponencial de tecnologias como as impressoras 3D, por exemplo, pode-se trabalhar em Lisboa com consequências em São Paulo.

Como não há rosa sem espinhos, há variáveis negativas que dificultam a atractividade da nossa Economia, embora alguns dos espinhos sejam comuns aos dois países, nomeadamente a burocracia e os licenciamentos e alguma mediocridade na política e governantes. O pior é mesmo a questão da dívida, que não parece muito presente na cabeça dos nossos governantes, vidé o OE 2018, onde se aproveita a folga orçamental e os dividendos do Banco de Portugal, não para pagar dívida, mas para distribuir por grupos de interesse/eleitorado dos partidos do Governo, nomeadamente funcionários públicos. A dívida é uma espada em cima do País, que pode fazer-nos entrar em bancarrota, com perdas para todos, ou obrigar a mais uma humilhante intervenção externa, desta vez menos generosa e paciente. E uma dívida desta dimensão resulta em impostos no futuro, voluntários ou impostos externamente, o que aliado com a instabilidade fiscal e a ligeireza com que se rasgam acordos supostamente duradouros, como o do PSD/PS/CDS sobre a descida do IRC, promete o pior para um potencial investidor. E o Governo pouco faz para apaziguar este receio… Claro que se fôssemos um País bem governado, nos últimos 25 anos, os activos e salários não eram tão baixos.

Este artigo foi publicado na edição de Novembro de 2017 da revista Executive Digest.

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