Accenture Digital Business: As Fintech e a evolução do mercado

Investidores, empresas privadas e outros players têm gasto dinheiro sem precedentes em startups globais de tecnologias financeiras (fintech). foram investidos mais de 45 mil milhões de euros em quase 2500 empresas desde 2010

Embora as fintech sejam uma novidade que continua a fazer capas, alguns sinais mostram que o mercado está a atingir o próximo nível de maturidade. A diminuição do crescimento do investimento em certas regiões, a expansão noutras, o aumento do tamanho dos negócios, as IPO de sucesso e a eliminação dos players mais fracos estão a ajudar a criar expectativas mais realistas no sector das fintech.

O panorama mutável das startups não é a única fonte de oportunidade para os investidores. Gigantes tecnológicas como a Google, Apple, Facebook, Amazon e Alibaba (GAFAA) estão a redefinir a experiência do cliente e a jogar na periferia dos serviços financeiros. À medida que os bancos enfrentam mais pressão para reduzirem custos e criarem relações mais rentáveis com os clientes, os grandes players tecnológicos e de plataformas podem oferecer um conjunto mais atractivo de serviços.

Como tal, os bancos incumbentes estão a olhar cada vez mais para as fintech que lhes permitem continuar a operar num modelo verticalmente integrado, ou à procura de um especialista como uma fornecedora de serviços de plataformas. Os bancos bem sucedidos vão tomar rapidamente decisões estratégicas claras sobre o modelo de negócio e usar essa visão para reunir o talento em torno de uma viagem mais interessante, em vez de entrarem numa espiral de corte de custos em que muitos players já estão.

A PAISAGEM DAS FINTECH
O valor global do investimento em fintech em 2015 cresceu 75% para 20,5 mil milhões de euros, estimulado pelos negócios na Europa continental e Ásia-Pacifico (APAC); o crescimento ano a ano confirmou a posição do sector como a mais promissora nos serviços financeiros. Contudo, ainda que o crescimento continue a ultrapassar o investimento como um todo, que cresceu apenas 29% em 2015, há sinais de que o sector das fintech chegou a um novo nível de maturidade.

O ano de 2015 será também lembrado como o ano das IPO de sucesso nas fintech, com empresas como a PayPal, Square, WorldPay e First Data a atingirem capitalizações de mercado de milhares de milhões de euros, maiores do que muitas instituições financeiras estabelecidas. Além destas novas empresas cotadas em Bolsa, existem agora 20 unicórnios de fintech.

Contudo, 2015 viu também a queda de alguns dos players mais icónicos do sector, como a Powa, que criou produtos para pagamentos móveis e chegou a ser considerada uma das startups tecnológicas mais brilhantes do Reino Unido, avaliada em 2,5 mil milhões de euros em 2015.

O início de 2016 indica, porém, um ressurgimento do quarto trimestre na confiança dos investidores com 4,8 mil milhões de euros gastos no sector no primeiro trimestre, em grande parte estimulado por dois negócios chineses, cada um deles acima dos mil milhões de euros. De facto, as empresas de fintech na região APAC receberam mais de 50% de todos os investimentos do primeiro trimestre. O crescimento ano-a-ano de 47% no primeiro trimestre é um sinal de que o sector está prestes a ter outro ano excelente.

Uma alteração na composição
Alguns reveses como o colapso do Powa levaram alguns críticos a questionar se as avaliações actuais às fintech se justificam ou se são apenas fogo de vista. Embora pareça que o quarto trimestre reflectiu uma queda na confiança, podemos ver claramente que a composição do mercado está a modificar-se.

O investimento em fintech na região APAC mais do que quadruplicou para 3,9 mil milhões de euros em 2015. Tendo em conta o ecossistema rico da região APAC, a trajectória de crescimento económico rápido e a crescente classe média, a região está prestes a atingir um grande crescimento digital. Além disso, um maior interesse em alguns dos segmentos mais recentes das fintech, como as InsurTech, RiskTech e RegTech, ajudou a estimular investimentos no sector.

Outro sinal de maturidade é o número crescente de negócios de valor elevado no sector. Em 2015, houve 94 acordos de fintech com valores acima dos 45 milhões de euros (gráfico em cima), incluindo grandes negócios como a ronda de financiamento de mil milhões de euros da SoFi, o principal mercado online de investimento.

Ao longo dos últimos cinco anos, o investimento das fintech tem estado fortemente focado nos pagamentos no retalho. Todavia, a maturidade criou uma maior diversificação. Os seguros, por exemplo, estão a emergir rapidamente como o próximo grande passo das fintech, com os investimentos em empresas com propostas InsurTech a mais de triplicarem de 2014 para 2015.

Da concorrência à colaboração
De uma forma geral, há dois tipos de empresas de fintech: as competitivas, que definimos como oponentes directas às instituições estabelecidas de serviços financeiros, e as colaborativas, que oferecem soluções para melhorar a posição dos players já existentes no mercado (página seguinte).

As empresas de fintech competitivas têm tido algum sucesso, aproveitando segmentos menos rentáveis ao oferecerem experiências mais adequadas directamente aos clientes. A On Deck Capital, por exemplo, oferece empréstimos mais rápidos a PME, a Square oferece serviços de cartões a micro gestores e a eToro oferece estratégias comerciais profissionais para investidores em retalho, frequentemente com desconto.

Muitas instituições de serviços financeiros reconhecem o papel que as fintech colaborativas podem ter para ajudar a estimular a sua própria evolução. Entretanto, as fintech vêem cada vez mais as empresas estabelecidas como possíveis parceiras. No ano passado, o nível de investimento nas fintech que queriam colaborar com o sector aumentou 138%, representando agora 44% de todos os investimentos, enquanto o ano passado o valor situava-se nos 29%. Ao passo que os investimentos em empresas de fintech que querem competir aumentaram apenas 23%. Ou seja, há um apetite crescente, de ambos os lados, pela colaboração.

É uma das razões por que o Laboratório de Inovação Fintech, patrocinado pela Accenture e pelo Fundo de Parcerias de Nova Iorque, que junta empresas de serviços financeiros para identificar e orientar as fintech inovadoras mais promissoras, é uma parte tão importante do ecossistema crescente. Agora no seu sexto ano, o Laboratório de Inovação Fintech produziu muitas colaborações de sucesso para bancos, com mais de 90 licenciados nas suas quatro localizações: Londres, Nova Iorque, Hong Kong e Dublin.

O rácio de investimento competitivo versus colaborativo em todo o mundo difere drasticamente de mercado para mercado. Tem sido particularmente forte nos últimos cinco anos em Nova Iorque, onde a proporção de investimento em empresas colaborativas de fintech cresceu de 37% em 2010 para 83% em 2015. Contudo, no Reino Unido, onde o enquadramento legislativo é mais favorável para os que concorrem directamente contra o sector, a tendência inverte se, com mais de 90% do investimento a ir para empresas de fintech que poderão ser colaborativas. Aqui, iniciativas como o Projecto Inovar da FCA ajudaram a diminuir os obstáculos à entrada destas empresas. Curiosamente, embora não tão pronunciadas, estas tendências reflectem-se regionalmente, sendo que o investimento passou para empresas mais competitivas na Europa e para mais colaborativas na América do Norte e, em menor dimensão, na região APAC.

Ainda que os investimentos continuem a favorecer as empresas que querem competir contra o sector, muitas são adquiridas ou recebem investimentos significativos de empresas estabelecidas assim que a tracção do mercado fica provada. Ainda assim, embora mais fintechs desejem satisfazer as necessidades do sector da banca, estas empresas não estão a ver um investimento recíproco por parte dos bancos nos seus negócios. No ano passado, os bancos participaram em menos de 10% de todos os negócios envolvendo fintechs, num total de menos de 4,5 mil milhões de euros. Isto nem se compara com os 45 mil milhões que estes bancos gastaram em novas tecnologias durante o mesmo período.

Não é possível analisar quanto destes 45 mil milhões de euros está a ser gasto em diferentes formas de tecnologia financeira, ou se foram investidos em nova propriedade intelectual interna, mas muito do investimento bancário permanece ligado a ajustes feitos a tecnologia anterior. Além disso, os bancos continuam a empregar um método estático de investimento anual em actividades concebidas para “Mudar o Banco”. Como resultado, os colaboradores são encorajados a proteger os seus programas de vários anos em vez de adoptarem novas tecnologias com tanta celeridade como as empresas de processamento especializadas e outros modelos de negócio concorrentes.

Esta participação baixa em investimento externo, juntamente com restrições no investimento interno, cria um risco para os bancos estabelecidos, prejudicando a sua capacidade de ganhar a batalha pela relevância.

UM CAMPO COMPLEXO
Os bancos estão agora a reconhecer que as empresas de fintech são agora mais uma oportunidade do que uma ameaça. Todavia, apesar disto, os bancos continuam a ter de enfrentar uma vasta gama de desafios vindos de diversas frentes.

O impacto das GAFAA

Os clientes estão habituados a níveis mais altos de serviço noutros sectores, como a Google, Apple, Facebook, Amazon e Alibaba (GAFAA). Este grupo está a alterar os padrões da experiência do cliente. Reconhecendo o valor inerente dos dados financeiros, estão a oferecer cada vez mais serviços semelhantes aos dos bancos aos clientes. Isto, por sua vez, deixa os bancos tradicionais em desvantagem.

O desafio aqui, para os bancos, é aquilo que Fjord chama de “expectativas líquidas”, onde os clientes avaliam a qualidade do serviço que recebem de players de um sector comparando-a com a de players de outro sector. Se a Google pode oferecer uma experiência de cliente totalmente integrada, com um único log-in, em vários aparelhos e produtos sem complicação e sem custos, os clientes podem ver estas lacunas nos seus bancos como uma falha no serviço.

Com a sua prevalência entre clientes, as GAFAA estão a começar a proporcionar serviços financeiros próprios que satisfazem necessidades específicas. A Amazon, por exemplo, está a oferecer empréstimos a pequenos negócios no seu Marketplace através de um serviço chamado Amazon Lending. O Google Wallet permite aos clientes fazer compras online através do email e a Apple integrou pagamentos nos seus novos aparelhos de autenticação por toque, como o iPhone 6 e o iPad Air 2. Além disso, a Facebook lançou o seu serviço gratuito de pagamentos “Friend-to Friend”.

A ascensão das plataformas
O panorama da banca não está a mudar apenas no front office; as funções de processamento core estão igualmente a mudar. Em 2009, a Comissão Europeia ordenou ao RBS a venda da sua empresa de processamento de pagamentos, a RBS Worldplay, como parte do acordo de ajuda estatal. Este ano, o regulador britânico abriu o sistema de pagamentos do país a mais concorrência ao pressionar o Lloyds, o Barclays, o HSBC e o RBS a alienarem a sua parte na VocaLink, a empresa que fornece a infra-estrutura de pagamentos no Reino Unido. Quando a Directiva de Serviços de Pagamentos (PSD2) chegar em 2018, o mercado de pagamentos no Reino Unido poderá estar diferente.

Anteriormente, essas funções de back office não geravam receitas e eram vistas como uma funcionalidade de processamento puro. Contudo, com os desinvestimentos, uma nova gama de negócios independentes e lucrativos está a ser criada. Por todo o lado, na banca de investimento, empresas como a Markit estão a tentar expandir significativamente os serviços oferecidos no sector, reunindo dados de vários bancos e criando mais eficiência em processos que não acrescentam valor, mas que são essenciais, como a verificação de identidade dos clientes. Isto começa a questionar o actual modelo de dados do sector.

Os players tecnológicos podem oferecer serviços de plataformas com mais eficiência do que os bancos. Porém, só irão começar a concorrer contra os bancos quando atingirem a escala e as capacidades exigidas para servir o sector como uma utilidade, e não como players fragmentados espalhados por bancos individuais. Os bancos que se agarram a plataformas, em vez de as contratar a fornecedores mais adequados, terão dificuldade em competir, enquanto outros organizarão eficientemente um conjunto de serviços mais adequados.

Cenários prováveis
Vemos um dos seguintes três cenários como o mais provável:

1. Os bancos permanecem relevantes para os seus clientes e adoptam as fintech com mais agressividade, criando melhorias radicais na produtividade. Isto aconteceria suficientemente depressa para passar as eficiências para os clientes através de taxas de transações mais baixas.

2. Os bancos tornam-se menos relevantes para os clientes, mas continuam a fornecer um serviço de plataformas end-to-end criando serviços abertos, seguros e robustos que também podem ser integrados noutras soluções para os clientes.

3. Os bancos perdem a sua relevância para os clientes e a vantagem que têm no mercado à medida que as empresas de processamento/tecnológicas mais ágeis criam plataformas mais adequadas, mas mantêm um papel core como entidades altamente reguladas que integram complexas cadeias de distribuição de fornecedoras de plataformas.

4. Os bancos têm de aprender lições com as GAFAA sobre como contactar, interagir com e satisfazer os seus clientes. Ao formarem parcerias com estas empresas, podem ter acesso ao profundo conjunto de dados sobre os clientes e estimular produtos e serviços futuros. Se os bancos renunciarem a partes da sua cadeia de distribuição, podem concentrar-se em vez disso na obtenção de retornos mais altos de divisões mais valiosas do seu negócio.

BANCOS EMERGENTES
No nosso relatório “O futuro das fintech e da banca”, identificámos três comportamentos vitais dos bancos: agir com abertura, colaborar e investir.

No último ano, vimos instituições financeiras de sucesso a terem estes comportamentos. Contudo, o desenvolvimento de um conjunto de estratégias para permanecerem relevantes e aguentarem a mudança ajudará os bancos a emergirem como campeões digitais. Ainda que nenhuma estratégia seja dogmática, já que o panorama muda rapidamente, os bancos precisam de assumir uma posição sobre como será o futuro e agir em conformidade. Acompanhe as nossas estratégias para o curto, médio e longo prazo.
A curto prazo: os bancos estão a ver formas tácticas de melhorar os modelos de negócio investindo em tecnologias facilmente adoptáveis dentro do sector. Acções afirmativas, como a automatização robótica de processamentos, e ter a certeza de que a mensagem da disrupção digital é amplificada na liderança são factores vitais;
A médio prazo: irão beneficiar do desenvolvimento de um programa de análise, investimento e adopção de tecnologia que abranja vários anos. Os bancos devem também colocar-se mais perto do centro da vida digital dos seus clientes; incutir a mentalidade centrada no cliente no centro da estratégia empresarial As novas tecnologias exigem novas competências, por isso os bancos precisam de investir nas pessoas para assegurarem que possuem as competências adequadas para o novo ambiente digital;
A longo prazo: terão de levar em consideração como irão expandir as suas licenças de forma a desenvolverem um ecossistema de serviços à volta dos seus clientes. Precisam de desafiar os seus modelos de negócio, possivelmente canibalizando as receitas a curto prazo para se tornarem mais relevantes para os seus clientes e ganharem acesso a fontes de receitas maiores, mas num prazo mais longo. Também terão de fazer investimentos mais arriscados em inovação em vez de esperarem até os retornos desses investimentos serem claros. Usar critérios de análise de investimento pode optimizar o banco, mas irá desafiar ou mudar realmente o modelo de negócio.

As abordagens à execução e às estratégias para o investimento que são utilizadas entre os bancos estabelecidos sugerem que muitos, se não todos, ainda não desenvolveram uma “visão interna” clara sobre os possíveis desfechos para si e para os seus mercados. Estão também pouco convencidos da capacidade de criar o seu próprio destino. Acreditamos que esta falta de clareza estratégica é a maior ameaça ao futuro dos players. Para alguns, isto leva a uma execução confusa e pode resultar numa limitação em cadeia, onde as pessoas talentosas já não vêem o banco como um local atractivo para trabalhar.

A análise aos desfechos e à gestão dos riscos de execução pode ser desencorajadora, mas acreditamos que, por agora, os bancos estabelecidos continuam a ter uma posição forte, a influenciar e determinar o seu destino. A vaga de inovação disruptiva será vista dentro de cinco anos como algo que trouxe serviços bancários mais seguros, transparentes, eficientes e receptivos para os consumidores de retalho, empresas e participantes no mercado. As startups de fintech não estão a ser vistas como uma grande ameaça competitiva para a maioria das áreas da banca. Os bancos que conseguirem avaliar, adaptar e adoptar todas estas novas tecnologias com mais celeridade estarão então numa posição mais adequada para atingirem a posição que desejam na estrutura do novo sector.

Estudo publicado na edição de Maio de 2017 da Executive Digest.

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