E financiar a procura? (parte I)
Por Paulo Carmona
Portugal ganhou o péssimo hábito de resolver ou desenvolver situações atirando com dinheiro, que não tem, para cima deles. Cria números e disponibilidades, mas não cria riqueza.
Identifica-se um problema, resolve-se com mais fundos. Não se consegue resolver, mas o decisor político iliba-se da questão porque «Nós aumentamos os gastos com o combate a X em Y%, estamos no caminho certo da resolução, é uma questão de tempo», tretas…
As Câmaras investem em magníficos parques industriais, desertos, com excelente nível para a instalação de empresas. E por que continuam desertos? Por que as empresas não vêm instalar-se e rentabilizar os milhões gastos nessas obras de excelência? «Nós fizemos o que devíamos, criámos disponibilidades…» fizemos o concurso, construímos e inaugurámos com lápide, foi bonita a festa, pá, mas as empresas mantêm-se longe.
E os milhões gastos na Investigação e Desenvolvimento que colocam Portugal numa posição invejável no ranking europeu e mundial? Muitos deles gastos pelo Estado em Bolsas de doutoramento ou pós-doutoramentos. As nossas empresas deveriam ser das mais inovadoras e avançadas tecnicamente no mundo em equivalência com a posição no ranking do investimento em I&D. Nada disso, apenas 7% dos doutorados estão a trabalhar nas empresas e a criar emprego e inovação concreta, os restantes, ou continuam a estudar ou estão empregados pelo Estado para investigar qualquer coisa e ajudar nas estatísticas.Em alguns casos porque acham que financiar a oferta e disponibilidade até ao exagero fará atrair negócios.
Quanto maior a disponibilidade de infra-estruturas, mais empresas e negócios atrairão. Não é por falta de auto-estradas ou infra-estruturas de comunicação que o país não se desenvolve, pelo contrário, aí estamos bem classificados no ranking do World Economic Forum, é nas questões da burocracia, custos de contexto e desequilíbrios macroeconómicos provocados por tanto investimento a partir da dívida que estamos menos competitivos. É um tema ideológico do regime.
O Estado, com o dinheiro dos cidadãos, resolveu que tem de financiar a oferta, decidida por ele, e a disponibilidade que as empresas ou os indivíduos vem atrás do que os burocratas acham que é excepcional para eles. Contudo, não vêm… e não correspondem.
Outros países mais inteligentes, ou que entendem melhor as empresas, e que concorrem connosco na atracção do investimento externo, resolveram que é melhor financiar a procura do que a oferta. Ou seja, os países ou os concelhos deveriam utilizar melhor os fundos no financiamento das empresas e da sua actividade, do que no que acham que as empresas necessitam.
Por que as empresas não investem no concelho? Disponibilidade de mão-de-obra? Vamos co-financiar projectos de formação para as empresas. Impostos, IMI, burocracia, taxas, taxinhas e custos de licenciamento? Vamos facilitar o mais possível os licenciamentos e a instalação das empresas e dos seus funcionários que se instalem no concelho.
É preferível eliminar receitas dos municípios do que aumentar as despesas com projectos de oferta de disponibilidade que só o excel, o ego do presidente e alguns construtores gostam. Mas financiar a procura em vez da oferta não cai bem na ideologia reinante…