«Ninguém fica igual depois de fazer um MBA»
Em entrevista, Belén de Vicente faz o balanço do estado do ensino dos MBAs em Portugal, define tendências internacionais e a evolução da oferta e da procura.
A directora executiva do The Lisbon MBA – lançado pela Universidade Católica Portuguesa e Universidade Nova de Lisboa, em colaboração com a MIT Sloan Management School – pretende formar nos próximos cinco anos mais de 300 gestores de topo em Portugal.
Esclarece, também, que o grau de formação de um Master prepara os alunos no desempenho de funções de gestão e liderança, optimizando competências emocionais e interpessoais, desenvolvendo o espírito criativo e a capacidade de adaptação e gestão multicultural. E recomenda, ainda, a quem vá começar um MBA que se prepare interiormente para uma grande mudança, profissional e sobretudo pessoal!
Tendo em conta que as escolas norte-americanas continuam a dominar a lista dos melhores programas de MBAs do mundo. Quais são as principais tendências internacionais?
Existem 3 grandes eixos em termos de tendências internacionais. A primeira tendência tem a ver com a formação das turmas. Cada vez mais os MBAs procuram juntar na mesma aula pessoas de nacionalidades diferentes e com backgrounds académicos e profissionais muito distintos de forma a enriquecer a experiência de cada aluno. Um segundo ponto tem a ver com a internacionalização dos projectos de MBA. A experiência de MBA passa pelos alunos aprenderem em contextos diferentes. Cada vez mais é comum existirem escolas onde as aulas são repartidas em 2 ou mais campos (Europa/Ásia), (EUA, Europa), (EUA/ China) só para citar alguns exemplos. Um terceiro aspecto passa pelo incorporar de programas paralelos onde se desenvolvem capacidades extra-curriculares que são fundamentais para o papel que os alunos vão ter no futuro.
As vertentes “camaleónicas” do MBA fazem sentido? Até que ponto?
A palavra MBA é muitas vezes usada abusivamente para se referir a pós-graduações especializadas. Por vezes também surgem programas em que o requisito da experiência profissional se encontra ausente. Um MBA tem necessariamente duas características: é generalista e destina-se a alunos com alguma experiência profissional.
Se tiver em conta os cursos a nível internacional, quais são os melhores? O que os distingue?
Depende dos critérios utilizados. Podemos considerar os diferentes tipos de rankings como uma fonte de referência para seleccionar os melhores MBAs. Mas independentemente dos rankings, o que sempre distingue um MBA de outro, o chamado “the bottom line”, são o seu corpo docente e o seu corpo discente.
Qual é a imagem de Portugal a nível internacional no ensino e na investigação em gestão?
Não se pode ainda dizer que Portugal é um destino imediatamente identificado com a “primeira liga” do ensino e investigação em gestão à escala mundial (tal é o caso, aliás, com a generalidade das áreas de conhecimento). Contudo a situação está muito melhor do que, digamos há 10 anos, e muito pela visão e o esforço da Católica e da Nova. Estas escolas são hoje reconhecidas internacionalmente pela sua qualidade e, graças a elas, é possível dizer que “Portugal está no mapa do saber”.
Qual o estado da formação, em Portugal, na área dos MBAs?
A oferta em Portugal concentra-se em Lisboa e Porto. Existem vários critérios de classificação de MBAs, entre os quais se distingue: o mercado, o target, o tipo de regime / horário e a duração em que são oferecidos.
Relativamente ao target existem MBAs internacionais, oferecidos em regime de full-time, leccionados em inglês na totalidade e com uma percentagem representativa de alunos estrangeiros e os MBAs locais ou domésticos. Neste últimos, podemos considerar os oferecidos a faixas etárias mais jovens e os denominados MBAs Executivos dirigidos a candidatos com mais idade e consequentemente com mais experiência profissional.
Em termos de qualidade, distinguimos os MBAs que são rigorosos no seu processo de selecção e aplicam os padrões internacionais nos processos de admissão e dão resposta aos requisitos das boas práticas em termos de formação em gestão… e os outros, ditos normais.
Como tem evoluído a oferta e a procura?
A oferta tem aumentado. Nos dois últimos anos têm surgido programas de MBA novos na maioria das escolas de gestão e universidades. E isso comprova-se nas edições especiais de MBA e nos guias que a imprensa escrita prepara todos os anos para verificar este crescimento.
No nosso caso a procura no MBA part-time (programa de dois anos de duração) tem-se mantido estável nos últimos 2 anos. No caso do MBA internacional, em regime full-time, não temos histórico uma vez que lançámos a primeira edição este ano, mas comparando com os programas full-time que as escolas Nova e Católica tinham anteriormente, a procura tem aumentado.
Quais são os MBAs mais completos em Portugal?
São os que melhor preparam os alunos para desempenhar funções de gestão e liderança. E isso é medido pelo sucesso dos profissionais no mercado de trabalho, nas funções que desempenham e nos projectos que conseguem concretizar.
Qual é a expressão que os MBAs têm?
OS MBAs têm, sem dúvida, expressão na formação de gestão e mais especificamente na formação de gestão post-experience. Obviamente não representam um volume de negócios elevado quando comparado com a formação de executivos, por exemplo, que é outro tipo de formação de gestão post-experience.
Qual é o MBA/ faculdade mais procurado em Portugal?
O número de antigos alunos de MBA da Católica e da Nova demonstra que ambas as escolas foram sempre as mais procuradas por candidatos a MBA. Actualmente a existência de programas de MBA conjuntos entre estas duas escolas reforça, ainda, mais esta liderança.
Em que contexto foi criado o The Lisbon MBA e qual a importância de nascer de uma parceria entre as três faculdades? O que diferencia?
O The Lisbon MBA na sua componente internacional em regime full-time foi criado porque em Portugal não existia nenhuma oferta relevante de MBA capaz de competir com a oferta disponibilizada pelas melhores escolas americanas e europeias ao nível deste tipo de programas. Foi uma decisão estratégica de ambas as escolas que decidiram juntar esforços para criar um produto de qualidade a partir do conhecimento e da experiência de ambas neste tipo de produtos. As escolas já tinham dado provas de que eram capazes de trabalhar juntas neste âmbito, já que inicialmente foi lançada a versão part-time que serviu como teste à parceria. A versão full-time veio trazer a componente internacional e a colaboração com o MIT. Considero que os nossos programas de MBA, promovidos sob a marca The Lisbon MBA são extremamente completos, quer no programa internacional quer no part-time, ao desenvolverem competências funcionais e interpessoais do gestor e ao oferecer oportunidades de networking únicas. Adicionalmente no programa internacional desenvolvemos competências de gestão globais através dos cursos leccionados no MIT e do estágio internacional.
Qual o perfil dos alunos inscritos no The Lisbon MBA?
O The Lisbon MBA full time 2009 tem uma afluência de 44% de mulheres. 75% portugueses e os restantes 25% são alunos estrangeiros. 29 anos de idade é a média, sendo que têm de média cinco anos e meio de experiência profissional.
O currículo do The Lisbon MBA “dá particular importância ao desenvolvimento de competências emocionais, espírito criativo e capacidade de adaptação e gestão multicultural”. Que importância têm estas aptidões na formação e em que medida são valorizadas pelos candidatos?
Perante dois gestores com base académica semelhante e com experiência profissional equivalente não há dúvida que essas competências que refere são as que fazem a diferença. Hoje as empresas quando recrutam sabem que é muito mais fácil ensinar ao candidato a metodologia interna para lançar um produto, do que a forma como se devem ultrapassar as barreiras relacionais nos projectos ou a maneira de persuadir as equipas a perseguirem os objectivos e produzirem resultados sustentáveis. Para o candidato, estas competências trazem maior autoconfiança, maior conhecimento das suas necessidades de desenvolvimento e sobretudo um melhor aproveitamento das competências e aptidões que o tornam diferente, e em muitos casos único, perante outros aparentemente semelhantes.
Relativamente ao corpo docente, o que é que realmente faz a diferença?
Nos programas The Lisbon MBA temos um corpo docente nacional e internacional de excelência. Eu diria que o que faz a diferença não é que o corpo docente seja totalmente internacional. O que realmente é significativo é que o corpo docente tenha experiência internacional relevante, quer através do seu doutoramento quer da sua experiência profissional. É mais importante para o programa um professor nacional que tenha leccionado em escolas internacionais ou que tenha tido experiência profissional fora de Portugal, do que um professor estrangeiro que não tenha saído do seu país e venha leccionar no programa. Contudo, o facto de um programa se rotular como internacional significa que todas as suas vertentes têm uma componente internacional, como os alunos, os professores, as actividades do programa ou as disciplinas.
O que recomenda que pese mais na escolha do MBA? A notoriedade da instituição, o corpo docente, o plano curricular, a diversidade cultural dos diferentes actores…?
Eu recomendo sempre aos potenciais candidatos que utilizem dois critérios que são infalíveis: as escolas que estão por detrás do programa porque são um indicador da qualidade do ensino e os antigos alunos desses programas porque são um indicador da qualidade dos alunos.
Quais os principais requisitos que se devem cumprir para concorrer a um MBA?
Depende do MBA. Nos nossos programas os requisitos são: a licenciatura em qualquer área, mínimo de 3 anos de experiência profissional; o GMAT e o TOELF/IELTS. Para além da candidatura on-line completa.
O que recomendaria a alguém que se candidata a um MBA? E a quem tenha sido aceite?
A alguém que se candidata, recomendaria que falasse com pessoas que já tenham feito um MBA. É muito importante ter informação de quem já fez o programa.
A quem já tenha sido aceite, recomendo que se prepare interiormente para uma grande mudança, sobretudo pessoal mas também profissional. Ninguém fica igual depois de ter feito um MBA.
Há leituras obrigatórias e incontornáveis?
Para quem se está a preparar, o KAPLAN para preparação do GMAT é incontornável.
Em que locais podem ser feitos os testes de admissão, Toefl e Gmat? Como são compostos, sofrem alinhamentos internacionais?
Os testes são feitos desde há 3 anos nos centros Prometric em Lisboa e no Porto. Podem ser marcados através de www.gmac.com. O teste do GMAT é alinhado periodicamente de acordo com as boas práticas internacionais. Este teste é utilizado na maior parte das escolas internacionais de gestão.
Há regularidades nos percursos profissionais no pós MBA?
Há no sentido de que os candidatos que fizeram um MBA acabam por assumir posições de gestão no médio longo prazo, quer em empresas próprias quer em organizações estabelecidas. As posições de gestão variam muito desde gestão de equipas, passando por gestão intermédia até posições de gestão de topo, dependendo essencialmente das oportunidades que são criadas e dos factores diferenciadores dos candidatos.
Que conhecimentos de base garante um MBA?
Conhecimentos de gestão que se adquirem nas aulas, nas suas componentes genéricas da economia, do marketing, da estratégia, do comportamento organizacional, das finanças, entre outras.
Conhecimentos de gestão que se adquirem fora das aulas, no âmbito dos trabalhos de equipa, das discussões com os pares, das visitas das empresas às escolas, das viagens, dos estágios, das redes sociais que se criam, das oportunidades de networking com os antigos alunos.
Quais são as mais-valias de ter um MBA?
O saber olhar para os problemas de uma forma integrada, entendendo as várias componentes da gestão que estão em causa, reconhecendo o impacto de cada uma delas e a capacidade para propor soluções viáveis para os mesmos com base nas boas práticas, na experiência e nos valores éticos.
A que bolsas se podem concorrer?
No nosso programa internacional temos bolsas para os candidatos que preencham os critérios de mérito, necessidade e diversidade simultaneamente. A candidatura à bolsa ocorre depois do candidato ter sido admitido.
Quais os critérios para a avaliação de uma candidatura? O que pesa mais na sua selecção?
O processo de admissão tem vários critérios. Um bom GMAT não garante a entrada ao programa se a entrevista não demonstrar que o candidato tem o perfil adequado para o programa. Da mesma forma, se o GMAT for fraco ou a fluência em inglês não estiver comprovada, o candidato pode fazer uma boa entrevista mas não reúne todas as condições para ser admitido.
Por TitiAna Amorim Barroso