VI Barómetro Executive Digest – Carlos Gomes da Silva

O desempenho da economia portuguesa foi dos tópicos que maior atenção mereceu por parte dos participantes no VI Barómetro Executive Digest. Conheça os resultados e acompanhe alguns dos comentários do painel.

Por Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp

A economia portuguesa tem crescido suportada em actividades com vantagens competitivas pouco distintivas e continuaremos a ter níveis de investimento inferiores ao crescimento da economia, o que suscita reservas sobre a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento.

É crucial perguntarmo-nos: como podermos inverter a tendência e preparar a nossa economia para desafios e oportunidades que a transformação tecnológica e digital suscita? Em primeiro lugar, Portugal deve reforçar o investimento no conhecimento, tecnologia e inovação. São áreas que apesar de reconhecidos progressos nos últimos anos requerem atenção e foco num contexto de crescimento exponencial. São, por isso, opções estruturais para desenvolver condições e competências de capital humano que sejam verdadeiramente únicas e excepcionais, para serem colocadas ao serviço da economia e do empreendedorismo empresarial. Uma segunda abordagem prende-se com a exigência na forma como nos organizamos e usamos os recursos.

Aqui reside um enorme potencial de ganhos de produtividade, nomeadamente com o recurso a políticas de organização e de gestão mais flexíveis, simplificadas e inovadoras, alinhando interesses de empresas, colaboradores e demais stakeholders, e que devem ser secundadas por programas de eficiência energética adequados a cada sector de actividade, apoiados na tecnologia disponível e nas melhores práticas. A boa noticia é que no sector da energia, por exemplo, se tem verificado um desacoplamento entre o crescimento do PIB e o consumo energético, precisamente devido ao aumento de eficiência e da produtividade dos processos de produção e consumo de energia, por recurso a tecnologia e a alteração de práticas de gestão.

A descarbonização da economia está em curso e teve um impulso com o acordo da COP21 celebrado em Paris, em 2016. O desafio é assegurar o fornecimento de energia a uma população mundial crescente, contribuindo para o aumento da sua qualidade de vida de forma segura e competitiva. Temos que optimizar os recursos de base renovável, mantendo presente que os diversos cenários de procura de energia primária, por mais ambiciosas e disruptivas que sejam, apontam para que os hidrocarbonetos tenham um peso de cerca de 50% no mix mundial energético nas próximas décadas. É fundamental garantir que a energia derivada destes recursos chega ao consumidor com o menor impacto económico e ambiental possível, sob risco de penalizarmos o desenvolvimento económico e as oportunidades das gerações futuras. Por último, é incontornável abordar o clima de negócios que Portugal dispõe e oferece quando comparado com outras economias. Há muito que nos tornamos uma economia aberta que concorre no mercado global. Por isso, a confiança, a estabilidade e a previsibilidade regulatória são elementos nucleares para promover e incentivar o investimento privado e a captação de capitais (nacionais e estrangeiros).

A acompanhar esta abordagem estratégica e sistémica são essenciais políticas de investimento público que complementem, alavanquem e multipliquem a iniciativa privada, dando consistência à estratégia de desenvolvimento económico e social do país. Em resumo, tal como nas decisões familiares, também nas empresas e no País, a lógica que deve perseverar é a consistência das decisões de curto prazo com a ambição de futuro.

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