Seguro de créditos: o que é, para que serve e como funciona?
por Berta Dias da Cunha, Administradora da COSEC
Quando uma empresa subscreve uma apólice de seguro de créditos, a confiança nos seus clientes aumenta: as empresas concedem mais e novos créditos, o que, de outra forma, seria muito arriscado.
Esta protecção permite às empresas aumentar vendas e faz crescer negócios. Empresas com seguro de créditos podem vender a crédito em situações onde anteriormente tinham restrições, ou vender apenas com a protecção do seguro. Para empresas exportadoras, isto é uma vantagem competitiva.
Isto quer dizer que os custos de uma apólice de seguro de créditos podem ser compensados, mesmo que o segurado nunca comunique um incumprimento.
Mas atenção: o seguro de créditos não substitui as práticas sólidas de gestão de crédito das empresas. É, sim, um complemento a estas práticas.
10% das facturas não são pagas dentro dos prazos e tornam-se incobráveis
Hoje, 80% do comércio é feito com pagamentos a prazo. A análise ao efeito que as dívidas incobráveis podem ter nos negócios e o que pode ser feito para evitar esse impacto é, por regra, muito reduzida.
Contudo, de acordo com o Internal Revenue Service, há indústrias em que cerca de 2,2% das vendas anuais são incobráveis. Considerando que, em média, uma em cada 10 facturas representa um incobrável, está em causa um grande golpe para a rentabilidade e fluxo de caixa de uma empresa. A grande recessão de 2008 e 2009 foi um bom exemplo do caos que a falta de protecção pode gerar: registaram-se centenas de mil milhões de dólares em perdas associadas a baixas de incumprimento.
Os valores a receber, que normalmente representam mais de 40% dos activos de uma empresa, são um componente vital de um negócio saudável. Em média, uma em cada dez facturas não é paga dentro dos prazos, tornando-se incobrável. Quando um cliente importante – ou mesmo múltiplos clientes – não paga dentro dos prazos, há consequências devastadoras para o fluxo de caixa, os lucros e o capital de uma empresa. No pior cenário, isto poderá provocar o encerramento da empresa. Estes riscos requerem uma análise aprofundada e uma constante monitorização do cliente, do sector, do país e dos níveis macroeconómicos.
Diante da actual conjuntura económica nacional e global, reconhecer e gerir riscos futuros tornou-se uma prioridade para os líderes empresariais. Perdas atribuídas ao não pagamento de uma dívida comercial ou falência podem e ocorrem regularmente. As taxas de incumprimento variam de acordo com a indústria e país, ano após ano, e nenhuma indústria ou empresa está imune ao risco do crédito comercial. Esta afirmação é comprovada nos dados registados no Global Index of Business Failures, da Euler Hermes, accionista da Cosec e líder mundial de seguro de créditos. O risco de incumprimento dos clientes é uma realidade.
O seguro de créditos não é para todos
Qualquer empresa que venda a crédito tem uma exposição a perdas ou incumprimentos dos clientes.
O seguro de créditos também é amplamente utilizado em mercados de exportação, em que as empresas não têm qualquer tipo de experiência, ou onde há um ambiente político que torna essas operações um desafio para a concretização de negócios. Enquanto o seguro de créditos pode ser um instrumento para muitas empresas, pode eventualmente não ser aplicável a empresas que vendam exclusivamente para empresas públicas ou de retalho, já que o seguro de créditos comercial cobre unicamente operações business-to-business.
Para a maioria das empresas que efectuam vendas a crédito para outras empresas, o investimento em seguro de créditos é essencial. As operações em créditos comerciais têm um conjunto de custos associados a uma filosofia de risco, vendas restritas, informações financeiras e de crédito, gestão de coberturas de crédito, gestão de cobranças e insolvências, etc. São tudo custos reais, e deverão ser comparados com os custos associados aos de uma apólice de seguro de créditos, onde estes serviços estão incluídos como um beneficio associado. O seguro de créditos pode ser uma solução mais estável.
Porquê investir no seguro de créditos?
As empresas investem num seguro de créditos por várias razões. Por exemplo: para aumentar as vendas (se as vendas estão seguras, a empresa pode vender com mais segurança aos clientes existentes, ou procurar novos clientes sobre os quais tem um conhecimento); para expandir o negócio para mercados internacionais (protecção contra os riscos de exportação e conhecimento do mercado); ou para obter melhores condições de financiamento (os bancos disponibilizam mais capital para a empresa e reduzem os custos dos fundos).
O seguro de créditos comercial também pode melhorar a relação da empresa com o seu financiador. Em muitos casos, o banco exige seguro de créditos para avaliar um empréstimo baseado em activos. Mas há mais argumentos: a redução de reservas de dívidas incobráveis (segurar a carteira de clientes liberta capital para a empresa); o conhecimento da viabilidade económica (a informação da base de dados da seguradora e a plataforma tecnológica utilizada ajudam a reduzir os riscos operacionais); e a protecção contra o não pagamento e perdas (se um evento imprevisível pode apanhar a empresa e a seguradora desprevenidas, o prejuízo é pago através do processo de indemnizações). Além disso, os prémios de seguro de créditos são dedutíveis, enquanto as reservas de dívidas incobráveis não são.
O objectivo de uma apólice de seguro de créditos é também ajudar os segurados a prevenir perdas previsíveis. Se uma perda imprevisível ocorrer, a indemnização é activada. Nestes casos, os segurados irão reivindicar a indemnização com documentação de suporte e a sua seguradora irá proceder ao pagamento da mesma, normalmente num prazo de 30 dias após o prazo de identificação do sinistro.
Uma empresa vítima de fraude associada com outra parte, incluindo a preparação fraudulenta financeira ou enganosa e declarações de crédito, não se encontra coberta. Litígios também ficam, por norma, fora da cobertura de uma apólice de seguro de créditos, embora se tornem perdas cobertas, assim que a situação seja efectivamente resolvida.
Primeiro, informar e prevenir. Depois, indemnizar
O objectivo principal do seguro de créditos não é indemnizar na sequência de um incumprimento, mas providenciar às empresas o apoio e o conhecimento de que precisam para evitá-los desde o início.
É fundamental ter a informação certa para tomar decisões de crédito sustentadas e para evitar ou minimizar perdas. Usando esta informação, as empresas têm a confiança para tomar decisões estratégicas para tornar os seus negócios mais rentáveis.
As melhores seguradoras de seguro de créditos irão investir profundamente no desenvolvimento do seu próprio crédito e informações financeiras, e irá empregar analistas de risco, bem como subscritores da indústria e dos países, a fim de ter uma presença física próxima dos clientes dos seus segurados. As seguradoras de seguro de créditos também irão analisar as informações sobre os pagamentos dos clientes dos seus segurados, de maneira a identificar os primeiros sinais de problemas financeiros e garantir a intervenção em tempo útil.
Os analistas de risco pesquisam e analisam informação sobre clientes individuais e usam essa informação para aprovar totalmente, parcialmente, ou recusar, um pedido de limite de crédito para os seus segurados.
A análise dessas informações permite que as empresas tomem decisões mais informadas sobre quanto devem conceder de crédito aos seus clientes. Mais importante ainda, a monitorização permanente dos seus clientes permite que as empresas evitem perdas
Como funciona uma apólice de seguro de créditos?
Inicialmente, a seguradora irá analisar a solvabilidade e a estabilidade financeira dos clientes do segurado e atribuir-lhes um limite de crédito específico, que é o valor sobre o qual irão indemnizar se o cliente falhar o pagamento.
Ao contrário de outros tipos de seguro para negócios, assim que uma empresa subscreve uma apólice de seguro de créditos, a apólice não fica estanque até à próxima renovação – a relação torna-se dinâmica. Uma apólice de seguro de créditos é permanentemente acompanhada durante o período do seu funcionamento e o gestor da apólice tem um papel activo neste processo.
É da responsabilidade da seguradora monitorizar os clientes do seu segurado de forma proactiva, durante o ano em que vigora a apólice, para garantir a sua fiabilidade. Isto é feito através da recolha de informações sobre os clientes do segurado, através de uma variedade de fontes, incluindo: visitas às empresas, registos públicos e informações de outros segurados que também vendem a este cliente, recibos de demonstrações financeiras, etc.
Ao contratar uma apólice de seguro de créditos, o departamento de gestão de risco da empresa é reforçado pela equipa especializada da seguradora, que passa a ser uma extensão desse departamento.
Durante o tempo de vida da apólice, o segurado poderá requisitar cobertura adicional para um cliente específico, se essa necessidade surgir. A seguradora irá analisar o risco desse incremento de cobertura, e decidir sobre o mesmo, justificando essa decisão. O segurado também pode requerer cobertura para novos clientes com quem pretenda iniciar um negócio.
Esta informação é constantemente actualizada e referenciada. Quando algum sinal indica que a empresa atravessa alguma dificuldade financeira, a seguradora notifica todos os segurados que vendem para essa empresa, indicando-lhes o risco acrescido, e estabelece um plano de acção para mitigar e prevenir perdas.
Diante de um cenário de incerteza económica, e em que se configura a necessidade das empresas de aproveitarem novas oportunidades e expandirem as suas vendas em novos mercados, é muito importante conhecer os clientes e potenciais clientes em qualquer parte do mundo e manter uma vigilância apertada a alterações na solvabilidade económica dos parceiros.
Uma apólice de seguro de créditos, se usada correctamente, confere um valor acrescentado à gestão do crédito de uma empresa. É um segundo par de olhos na gestão dos clientes.