Randstad Insight: O sentido da vida

Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

Coragem! Coragem para enfrentar os medos, para ultrapassar obstáculos, coragem para colocar em prática uma decisão, para ser impopular, para sair da zona de conforto. Coragem para estar na linha da frente, para conjugar o verbo agir.

Liderar. Liderar não é mandar, não é chefiar ou simplesmente ordenar. É a capacidade de levar outros a fazer, a seguir e a acreditar. É comunicação, é inspiração e é necessária em qualquer função, mesmo que seja mais visível nas chefias (ou, pelo menos, assim o deveria ser).

Existem líderes sem coragem? Sim. Líderes que conseguem a mobilização mas que não concretizam em actos, que não são operadores da transformação. Líderes que conseguem pequenas mudanças mas que não arriscam a sua popularidade, que não saem da zona da inspiração para a transpiração. E que se desengane quem acha que a coragem é a acção, a regra ou a imposição. A coragem é muitas vezes não fazer nada, é perceber numa orquestra que alguns instrumentos têm de ficar em silêncio a bem da harmonia, é saber esperar o compasso certo, reconhecendo cada um e o todo. Coragem para gerir emoções, porque quem lidera também sente e muitas vezes em silêncio. Gere as palavras e os momentos de comunicação, tem o autocontrolo a favor do todo. E para isto é preciso coragem.

Se estamos a ganhar é fácil liderar… ou talvez não, porque os umbigos engordam e perdem discernimento, porque se corre menos assumindo que já se ultrapassou a meta. Como se motiva alguém a ganhar sempre? A constantemente se superar? O primeiro lugar é tão volátil como o último e na liderança de quem está lá em cima tem de existir a celebração do sucesso mas também a capacidade de continuar a correr e de fazer sempre melhor. Até porque só do alto é que se cai…

A liderança é fundamental quando se está a perder? Sim, sempre. A frustração é o cancro das organizações, o compactuar com a mediocridade corroí as empresas e impede-as de crescer. São as mentalidades, a cultura que mata. São sempre as pessoas que estão nas histórias de sucesso e de insucesso. Pessoas que têm de ter esta capacidade de liderar independentemente do cargo, inteligência emocional e coragem. Essa coragem para decidir, para executar e para olhar nos olhos um caminho que não é plano, no qual nem sempre se vê o fim e que pode vir a ser longo demais.

Existe coragem sem liderança? Existe, mas é individual, é quando a parte não está ligada ao todo. Uma coragem que não contamina nem transforma, mas que vive numa solidão que pode ser vista como loucura ou mesmo despotismo.

Ser pessoa é um desafio. Um desafio que deve ser sentido todos os dias com um sorriso, o sorriso que reflecte a autoconfiança, a crença e o sentimento de pertença a um todo maior. Ser humano é ser tão complexo que nos conseguimos surpreender, é ter a capacidade de evoluir e de aprender sempre, ao longo de todo o percurso. Desenvolver a liderança individual é desenvolver a capacidade de comunicar e de se relacionar com os outros. Não apenas dizer, mas fazer. Ter a coragem de viver todos os dias, não permitindo que o tempo passe sem deixar uma marca, sem existir efectivamente.

Ser é a melhor experiência que podemos ter e, como os nossos antepassados, temos de ter a coragem de ser todos os dias, porque esse é o sentido da vida.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 151 de Outubro de 2018.

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