Porque só os ricos podem escolher?

paulocarmona1

Paulo Carmona

Director da revista Executive Digest

Editorial publicado na edição de Junho de 2013 da revista Executive Digest

Nós até podemos fazer dieta e perder peso, mas sabemos que finda a dieta se não mudarmos a estrutura da nossa alimentação voltaremos ao excesso de peso rapidamente. O Governo corta a direito e cegamente num desespero de quem está acossado pelos credores que nos sustentam. Se nós apenas apertarmos o cinto e esperarmos que fase esta fase de aperto, não aumentando a eficiência e produtividade da nossa economia, principalmente no sector público, temos outro aperto a vir no horizonte. Porque o sector privado já se reestruturou e reconfigurou, até demais em muitos casos, originando o grande aumento do desemprego em Portugal, o sector público tem mais ou menos resistido.

Sempre que o Estado abriu sectores à concorrência em igualdade circunstâncias entre o sector publico e o sector privado, vencendo sempre enormes resistências dos conservadores do status quo constitucional, o resultado foi um enorme aumento da eficiência e da qualidade do serviço. Foi assim na televisão, nas telecomunicações, na banca, etc. não será altura de o Estado aplicar o mesmo sistema em sectores como a educação ou a saúde? A concorrência que existe atualmente nestes sectores é apenas parcial pois não permite igualdade de acesso. O Serviço Nacional de Saúde tem de evoluir para um Sistema Nacional de Saúde em que o Estado garanta os cuidados de saúde mesmo sem os prestar, como refere Luís Filipe Pereira.

Se os hospitais públicos são sempre melhores que os privado por que razão estes últimos estão sempre cheios? E se os privados podem ser por vezes melhores que os públicos por que razão os mais desfavorecidos não podem beneficiar dos mesmos tratamentos. Como é possível defender uma saúde boa só para os ricos que têm liberdade para escolher? Será isto o socialismo? Por que razão o Dr. Mário Soares, um dos principais defensores do SNS atual e dos hospitais públicos foi a correr para o Hospital da Luz quando teve recentemente um problema de saúde? Os mais pobres não conseguiriam.

Países insuspeitos de neoliberalismo, ou lá o que quer dizer essa palavra, como a Escandinávia ou a Holanda há muito que evoluíram para modelos de concorrência público-privada nas escolas e nos hospitais, financiando a procura, com cheques-ensino por exemplo, do que financiando a oferta. Não necessitamos de inventar muito. “Benchmarquemos” o que os outros países fazem bem e copiemos… já chega de inventar e insistir na nossa originalidade

Artigos relacionados
Comentários