Políticas públicas são o maior risco para os negócios

Os CEO das 250 maiores empresas em Portugal acreditam que, nos próximos três anos, a economia portuguesa será marcada pela retoma, mas mostram reservas quanto à capacidade de serem tomadas as decisões políticas apropriadas, revelam as conclusões do CEO Views, um estudo da Deloitte.

Essa poderá ser a razão pela qual identificam as políticas públicas como o maior risco para o seu negócio, ainda assim o contexto actual é favorável e os líderes pretendem adoptar estratégias mais expansionistas, suportadas pela aposta em novos produtos e serviços e nos canais digitais.

Realizado por ocasião da 30.ª edição do Investor Relations & Governance Awards, o CEO Views reúne a opinião dos CEO das 250 maiores empresas a operar em Portugal, acerca das perspectivas económicas futuras.
De acordo com o estudo, grande parte dos líderes inquiridos (46%) acredita que a economia irá recuperar nos próximos três anos. As opiniões dividem-se quanto ao impacto das políticas públicas na criação das condições necessárias para o desenvolvimento dos negócios, com 30% a revelar que têm um impacto positivo e 35% um impacto reduzido ou nulo.
Esta divergência é também evidenciada quando avaliam a capacidade dos decisores políticos em tomar decisões apropriadas em relação ao progresso económico, nos próximos três anos, mostrando-se divididos entre a confiança moderada e a falta de confiança. Um sentimento que contrasta com os seus pares da União Europeia (UE), que se revelam mais confiantes.

Segundo Jorge Marrão, Partner e líder de Clients & Markets da Deloitte (ver entrevista pág. 55), estes resultados podem derivar do facto de «o Estado ter um papel interventivo nas questões económicas, o que, naturalmente, se reflecte nas organizações. Isso observa-se ao nível das políticas públicas, particularmente relacionadas com as questões regulatórias e a política fiscal. Não podemos também ignorar a importância crescente que a inovação e o desenvolvimento tecnológico têm nas decisões estratégicas das empresas e para o próprio desenvolvimento da economia».
Sobre a importância do projecto europeu no contexto global, os inquiridos defendem a adopção de uma estratégia de longo prazo (65%), um orçamento europeu que reduza as diferenças competitivas entre países da UE (43%) e uma harmonização fiscal competitiva (38%). A instabilidade geopolítica, a inovação e os desenvolvimentos tecnológicos, o proteccionismo, são, no entender dos CEO, as tendências globais com maior impacto nos próximos anos. Em sentido oposto, surgem as smart cities, a escassez de recursos e as economias emergentes.

Riscos, ameaças e estratégias para crescer
Segundo o Views, as ameaças com maior impacto no crescimento das empresas estão relacionadas com a regulação (62%), o desenvolvimento tecnológico (54%) e a instabilidade fiscal (46%). Ameaças às quais se juntam alguns riscos. Embora as opiniões se dividam sobre o impacto das políticas públicas no crescimento económico, existe quase total concordância (94%) sobre o potencial efeito negativo que essas políticas poderão ter sobre os negócios. O stress no sistema financeiro (62%), a fraca procura interna (62%) e os obstáculos ao recrutamento dos melhores talentos (62%) são outros riscos apontados.

Face à conjuntura actual, os líderes revelam a intenção de adoptar estratégias mais expansivas, suportadas pela criação de novos produtos e serviços (83%) e pela aposta nos canais digitais (80%), mas também defensivas, assentes na eficiência dos processos (77%) e no controlo de custos (74%). A internacionalização surge em sexto lugar, com Portugal (61%), Espanha (30%), EUA (21%) e Angola (15%) como mercados prioritários.
Em termos financeiros, as principais preocupações dos CEO são a gestão das expectativas dos investidores (33%) e a optimização da estrutura financeira (30%). Aumentar o capital e, portanto, o investimento não surge como prioridade. O financiamento com meios próprios (67%) e o financiamento bancário (58%) são os meios de funding mais atractivos, enquanto o mercado de capitais é visto como o menos atractivo.

A tecnologia e as pessoas são componentes críticas para os inquiridos. A capacidade de melhorar a experiência do cliente (88%), o incremento da automação e de eficiência de processos (73%) e a geração de novos fluxos de receita através de novos produtos e serviços (64%) são vantagens proporcionadas pela tecnologia, que os líderes não pretendem prescindir. Por outro lado, o desenvolvimento de uma cultura e comportamentos atractivos (72%) e de um sentido de propósito (69%) para os talentos nas empresas que gerem é também essencial e prioritário para o negócio.

Artigo publicado na revista Risco n.º 8 de Primavera de 2018.

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