O que une Portugal e a China?

Por Carlos Cid Álvares, gestor

Aos 59 anos, está a ser desafiante a vida profissional na Ásia, continente onde está tudo a acontecer.

Depois de 36 anos consecutivos a trabalhar em Portugal, com saídas profissionais esporádicas ao estrangeiro, surgiu a oportunidade de trabalhar fora de Portugal, algo que sempre me atraiu.

Por diferentes motivos em especial familiares, esse projecto foi sempre adiado. Só agora reunidas as condições para o fazer, cheguei a Macau em Março do corrente ano, região que tinha visitado juntamente com Pequim, Xian, Shangai e Hong Kong há cerca de 20 anos.

Desde Lisboa, onde fui preparando a viagem com o tempo adequado e recolhendo toda a informação disponível, nada me faria prever a realidade que vim a encontrar. As coisas acontecem por estas bandas com uma enorme velocidade. Tenho a sensação de que se não estiver aqui 3 meses, quando regressar, alguma coisa mudou – um novo prédio, uma nova construção, um novo espectáculo…

Verifico que existe uma capacidade de execução invejável, após um planeamento cuidado e bem estruturado. Há uma visão pragmática dos negócios, não se perde muito tempo com floreados e os objectivos são exigentes, mas realistas. Existe uma preocupação obsessiva com o cumprimento dos horários para o início e fim das reuniões, revelando um interesse genuíno com o tempo investido pelos diferentes interlocutores. Os discursos são rápidos e eficazes. A segurança é excepcional e é um bem de tal maneira adquirido, que ninguém comenta, de tal forma está enraizado na vida das pessoas. A fiscalidade está próxima dos 10%! A legislação laboral é bastante flexível e existe pleno emprego. A comida é excelente. E há para todos os gostos e carteiras. Os táxis são baratos. As casas são caras e a oferta não é elevada. E estamos no centro deste lado do planeta: com voos directos para vários países, tais como, Vietnam, Cambodja, Tailândia, Filipinas, Japão, Singapura, entre outros.

Saudades? Claro! Da família, dos amigos, das nossa praias,…

Mas voltando à economia. A Região Administrativa e Especial de Macau foi escolhida como a plataforma para agilizar negócios e fortalecer os laços, entre a China e os Países de língua portuguesa. É uma oportunidade extraordinária para que empresas dos diferentes países possam concretizar mais e melhores negócios, ultrapassando as limitações proporcionadas pela dimensão de cada um dos mercados. E utilizando Macau, que tem os organismos regionais disponíveis (IPIM, Fórum Macau e Câmaras de Comércio, entre outros), para agilizar o comércio e o investimento entre estes Países. E o respectivo sistema financeiro está lá para ajudar. Onde pontificam bancos portugueses, com destaque para o BNU, onde actualmente trabalho. Com a vantagem da utilização do português para quem se quer instalar na região. Ainda, a criação de um espaço regional denominado de Grande Baía, virá exponenciar brutalmente o potencial de negócio, já que aglutinará as regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong, a nove grandes cidades chinesas (Guangzhou, Zhuhai, Shenzhen, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, JIangmen e Zhaoqing) da região de Guangdong (Cantão), o que dará a oportunidade às empresas estrangeiras que o pretendam, de entrar numa zona geograficamente relativamente “pequena” (56 mil Km2), mas com uma população de 67 milhões de pessoas e um PIB superior a USD 1,3 mil milhões, representando 12% da economia da China, com apenas 5% da sua população.

A economia nestas regiões, para além dos serviços financeiros, imobiliário, jogo, turismo e lazer, concentra indústrias tão díspares e fortes como as de transportes, logística, produção de ferro e de aço, pasta de papel, têxtil, máquinas e equipamentos, electrodomésticos, pneus, bicicletas, equipamento desportivo, porcelanas, cimentos e químicos. Linhas férreas ligam esta região do sul, ao centro e norte do País. Linhas de alta velocidade entrarão em funcionamento ainda em 2018. E diversas auto-estradas ligam as diferentes cidades, bem como redes de metro ligeiro agilizam o movimento de pessoas intracidades. Pretende-se que qualquer das cidades desta região esteja a menos de uma hora de distância de qualquer das outras. O porto de contentores de Guangzhou, é um dos maiores do mundo e facilita a entrada e saída de produtos e o porto de terminal de cruzeiros previsto entrar em funcionamento em 2019, será o mais importante do País. E já me esquecia da ponte HongKong Macau Zhuhai, que é só e mais nada a maior ponte do mundo, com cerca de 55 Km!

A cidade universitária de Xiaoguwei tem uma área de cerca de 17 Km2 e congrega 10 universidades e o maior centro de ciência da China.

Esta realidade nova para mim, faz-me pensar que Portugal, apesar dos sucessos entretanto alcançados, tem um caminho para percorrer. Mas que pode ser encurtado. E que acredito executado em tempo útil, para nos aproximarmos dos países com maior poder de compra já na próxima geração. Portugal é um dos melhores países do mundo para se viver! Os estrangeiros estão aí para o comprovar. Infraestruturas rodoviárias invejáveis, um clima único, uma população simpática e acolhedora, boa comida, praias excelentes, segurança qb. Mas infelizmente não é dos melhores para se trabalhar e ganhar o suficiente para que uma enorme percentagem de portugueses tenham uma vida melhor.

Permitam-me que sugira o seguinte: vamos simplificar as leis de “a a z”, por forma a que a justiça e os licenciamentos sejam mais céleres e a burocracia não nos sufoque (a título de exemplo a legislação do trabalho aqui tem 59 artigos. Em Portugal o código de trabalho contará com 566…)! Vamos lá formular uma fiscalidade competitiva com os nossos parceiros europeus, mais constante e mais previsível!

E que tal gerirmos com todo o carinho os nossos impostos, assegurando um acordo de regime em torno de tudo o que diga respeito a políticas públicas de crescimento e emprego, por forma a que cada vez que se muda de governo existam algumas baias que direccionem o investimento público, evitando-se desperdícios.

Há exemplos de enorme sucesso empresarial no nosso País em diversos sectores. Há que criar condições para que esses bons exemplos sejam multiplicados. Para isso, temos que criar condições para sermos amigos do investimento. Para criar emprego, com salários condignos. Com crescimento e resultados, para remunerar o capital investido. Com criação de riqueza, para eliminar os nossos desequilíbrios estruturais. É possível? Claro que sim! Com planeamento, organização, controlo e motivando a população para um objectivo. Aspirarmos a uma vida melhor, para nós e para os nossos filhos! Um abraço forte desde Macau!

Este artigo foi publicado na edição de Setembro de 2018 da Executive Digest.

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