O que é a Strategos?

pedrocarmocosta1Desde o ano 2000 que Pedro Carmo Costa está na família Strategos. A paixão pelo trabalho de Gay Hamel levou-o a “perseguir” as pesadas do professor e da consultora por ele fundada. Durante cerca de cinco anos, palmilhou o mundo até que a firma lhe propôs ficar definitivamente nos Estados Unidos, onde está localizada a sede. A contra-proposta foi arrojada: abrir um escritório da consultora em Portugal. Os partners americanos demoraram a aceitar a ideia até que deram o seu aval. Portugal e a inovação estratégica agradecem.

O que é a Strategos e o que faz?

A Strategos é uma firma de consultoria estratégica que foi fundada há catorze anos pelo Professor Gary Hamel.

Como se sabe, ele e o C.K. Prahalad escreveram o livro Competing for the future que é, ainda hoje, extremamente actual. Nesse livro, Hamel lança alguns conceitos que estão a ser revisitados agora, nomeadamente a noção de que é fundamental para as empresas saberem diferenciarem-se constantemente a nível do modelo de negócio.

A essa diferenciação também podemos chamar inovação? O que é, afinal, a inovação?

A inovação neste significado de diferenciação está relacionada com a competência da organização em inovar. Ou seja, não se trata de fazer exercícios de inovação mas sim criar na organização um conjunto de processos, de ferramentas, de pessoas, de métricas que permitam que a organização inove de uma forma constante.

A inovação fará parte do adn da organização…

Exacto. E que não seja um impulso. É que as empresas não podem viver à sombra dos monopólios temporários.

O que quer dizer com monopólios temporários?

Repare: as empresas que inovam, que criam diferenciação, que conseguem inovar no conceito de negócio ficam cada vez menos tempo sozinhas no mercado com esse produto ou serviço. A competição está muito mais acelerada e o período do monopólio temporário é cada vez mais reduzido.

Daí a obrigatoriedade em estar constantemente a inovar.

Claro. Quando se lança uma ideia já devemos estar a criar os processos de construção de outra ideia.

Voltando um bocadinho atrás: o que faz então a Strategos?  Como é que trabalha com as empresas?

A Strategos é uma consequência prática da teoria do livro (Competing for the future).  É uma firma que tem como principal actividade, ou causa, ajudar grandes organizações a inovarem, a criarem competências de inovação de forma a que possam crescer sustentadamente.

A Strategos fomenta os processos de inovação nas empresas, não a faz por elas…

Exactamente. O que fazemos é entrar numa empresa, aportar a nossa especialização em competências de inovação e ajudar essa empresa a olhar para todo o processo de inovação. O que é a inovação para essa empresa, quais são os novos modelos de negócio onde pode apostar, quais são os resultados práticos que essa empresa conseguiu no passado com a inovação.

É possível ensinar a inovação…

Acreditamos que sim! Sabemos que sim!

No fundo, é criar ferramentas e processos de inovação internos de uma forma idêntica aos processos de qualidade.

Nem mais. Actualmente, não passa pela cabeça de nenhum de nós fazer uma coisa sem qualidade. A qualidade já não é distintivo, já faz parte das empresas, pois já existem processos, ferramentas instituídas e um enraizamento do conceito. Nós fazemos exactamente o mesmo mas para a inovação.

Actualmente, a palavra inovação aparece em todo o lado. Parece que é a galinha de ovos de ouro e a última esperança de todas em empresas. Mas, afinal, de que falamos quando apelamos à inovação?

A inovação de que estamos a falar, essencialmente, é a inovação de modelo de negócio.

E o que  significa a inovação de modelo de negócio?

Antes de mais: toda o tipo de inovação é boa! No caso de inovação de modelo de negócio a melhor definição é pensarmos de que forma é que podemos olhar para os nossos negócios e questionar alguns eixos: quais são os benefícios que entregamos aos clientes; que novos mercados podemos servir; como podemos criar valor; que estratégia entronca com a inovação.

A palavra inovação está excessivamente abusada, é certo, mas nós queremos é batalhar no que é a inovação.

Disse, no início, que a Strategos é uma consultora de inovação estratégica… O que é a inovação estratégica?

A inovação e a estratégia têm um diálogo constante. A estratégia vai balizar a inovação pois deverá ser a partir daquilo que é a estratégia da empresa que surgirá a inovação. E será a inovação a provocar a estratégia…

Dê-nos um exemplo….

Muito bem… Vejamos uma empresa revendedora de combustíveis. A estratégia deles é conseguir os melhores processos de venda de combustíveis, seja através dos pontos que os consumidores amealham, dos postos de venda bem localizados ou outras estratégias para vender mais. Se essa empresa tem, por exemplo, postos em auto-estradas pode olhar para os espaços adjacentes como uma forma de oferecer outros serviços, como um pequeno hotel, ou um parque de diversões para crianças… Já não estaremos a falar da venda de combustíveis mais sim de uma provocação à estratégia feita através da inovação de outros modelos de negócio.

E a Strategos facilita esse diálogo nas empresas, no sentido de chegar a novos modelos de negócio, de abrir portas a activos menos explorados.

É a nossa especialização, sim!

Este ano festeja-se o Ano Europeu da Inovação. Como o enquadra nestes tempos conturbados e como é que se pode tirar partido da sua existência?

Em boa hora se escolheu o tema apesar de não ter a certeza se foi escolhido em função da crise em que vivemos. Porém, pouco importa, pois actualmente ainda faz mais sentido discutirmos o tema.

O tema de diferenciação, de inovação de produtos, de serviços é mais actual do que nunca.

Porquê?

Porque o contexto actual vai obrigar à revisão de muitos paradigmas de competitividade. As empresas vão ter que se organizar de uma forma diferente, vão ter que perceber em que mercados é que vão actuar, que benefícios vão ter que dar.

Infelizmente, temos observado nos últimos tempos que alguns gestores têm tido um comportamento um bocado errático; uns não sabem o que fazer, outros têm feito aquilo que conhecem, aquilo que estão habituados a fazer, ou seja, estão agarrados ao passado. Assim, vemos muitas organizações a tentarem optimizar os seus custos, a reduzir custos, a fazer pouco mais do que isso, o que vai levar à perpetuação dos modelos de negócio. Ou seja, o que temos visto é o corte de custos no foco do modelo de negocio actual.

O meu ponto de vista é que esta nova ordem vai trazer paradigmas completamente novos; os consumidores vão comportar-se de uma forma diferente, as escolhas que vão fazer serão diferentes e o mundo vai ser diferentes. Portanto, os modelos de negócio vão ser diferentes.

Os gestores estão a preocupar-se exageradamente com o corte de custos?

Devem preocupar-se, sim, mas não pode ser a única preocupação. Devem investir grande parte dos seus recursos a pensar em como preparam as suas organizações para um modelo de negocio completamente diferente. E eu não vejo as pessoas, os gestores, a fazerem isso.

Digamos que esta é uma fase de gestação de uma nova ordem e que quando a recuperação económica começar as coisas serão completamente diferentes, nomeadamente no consumidor, nas necessidades, nas ambições.

Não tenho muitas dúvidas de que estamos a viver esse tempo. As empresas devem estar preparadas e preparar os seus colaboradores a responderem ao desafio imediato, ao que é a realidade actual, ao que são as necessidades reais dos consumidores.

A Strategos só trabalha com grandes empresas. As PME’s não precisariam de consultoria ao nível da inovação estratégica?

Provavelmente, sim. Porém a Strategos está posicionada para as grandes empresas, não temos nenhum programa para as PME’s. A seu tempo chegaremos lá pois é fundamental criar os processos de inovação nas pequenas e médias empresas.

Seis princípios da inovação

1- Procurar compreender novas perspectivas dentro e fora da empresa: identificar e desafiar ortodoxias do negócio ou da indústria; reconhecer as competências chave da empresa; analisar tendências e descontinuidades na envolvente contextual; recolher as necessidades “escondidas” dos consumidores

2 – Focar a atenção no modelo de negócio para conseguir inovar a este nível: quem são os consumidores; que benefícios entregamos ao nosso consumidor; como entregamos estes benefícios (actividades da cadeia de valor); quais os elementos diferenciadores do modelo de negócio; como extraímos valor (geramos dinheiro)

3- Construir um ponto de vista sobre o futuro para poder agir em conformidade: as organizações deverão ser capazes de construir um cenário que condicione a linha de acção – a inovação poderá estar alinhada com o ambiente futuro

4 – Utilizar a experimentação para reduzir o risco associado à inovação: desenvolver pequenas experimentações que permitam validar pressupostos de um qualquer business case (ex: a Best Buy colocou uma pequena tenda num parque da cidade para ver o interesse que os consumidores teriam em trocar electrodomésticos antigos quando incentivados a fazê-lo)

5 – Criar o ambiente de inovação na organização: potenciar as capacidades de cada colaborador para participar activamente no desenvolvimento de novas ideias e conceitos de negócio, treinando-os a pensar de forma criativa os desafios de negócio

6 – Pensar de forma holística – construir um sistema com 4 elementos: treinar pessoas para serem mais criativas e estruturadas nos processos de inovação; construir processos e ferramentas que permitam gerar oportunidades, decidir sobre as mesmas e executá-las; construir as estruturas de governance adequadas para gerir as actividades de inovação; investir na cultura e valores transmitidos a toda a empresa.

Pensar nestes 6 princípios e actuar em conformidade, é uma forma de “fazer acontecer” a inovação, ultrapassando o mito que associa inovação a uma inspiração inata de um grupo restrito de empreendedores.

Peter Skarzynski na Business Innovation in 2009, organizada pela Strategos

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