O impacto dos automóveis autónomos

Por Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão – Planeamento de Media e Publicidade

A massificação do automóvel tradicional criou importantes mudanças na nossa sociedade, a começar pelo planeamento do território – os transportes motorizados impulsionaram a explosão dos subúrbios e refizeram as cidades.

O automóvel alterou também a forma de consumo – sem ele não teriam sido criadas grandes superfícies comerciais, todas com enormes parques de estacionamento, o que acarretou também o declínio do comércio tradicional. Quando o automóvel se tornou um hábito, o dia-a-dia das pessoas e das comunidades mudou. As estradas passaram a ser uma prioridade dos Estados, subalternizando o até então dominante comboio. Novas profissões apareceram e novos negócios cresceram e evoluíram.

Aquilo a que agora estamos a começar a assistir é uma nova fase, em que já não será fundamental ter um veículo próprio e onde o conceito de utilização partilhada de veículos autónomos, de condução inteligente, irá alterar radicalmente a sociedade como a conhecemos. Algumas profissões irão quase desaparecer, como a dos motoristas; a médio prazo deixará de haver carros parados frente a cada casa, já que os veículos serão operados por plataformas e não serão, na maior parte dos casos, propriedade individual como hoje; as grandes cadeias comerciais desenvolverão entregas domiciliárias e a compra on-line substituirá no dia-a-dia a compra presencial. Plataformas como a Uber ou a Lyft serão proprietárias de frotas de veículos autónomos que estarão sempre em movimento, respondendo a chamadas.

Quem viajar nesses carros não se preocupará com a condução e poderá consumir informação on-line porque não terá que dar atenção à condução e ao trânsito; poderá efectuar as suas compras on-line, que serão entregues onde e quando indicar; muito provavelmente terão vending machines com snacks, chocolates, ou bebidas, que serão accionadas digitalmente e aumentarão a receita das plataformas. As estradas continuarão, é claro, a ser importantes – mas os sistemas de segurança dos carros autónomos aliviarão tensões de tráfego e, espera-se, tornarão o cansativo tempo gasto nas ligações casa-trabalho em algo de mais útil e tranquilo. Não estamos a falar do futuro longínquo: duas décadas bastarão.

SEM JORNAIS E TV COMO POSSO COMUNICAR?

Se o número de pessoas que compram jornais e vêem televisão está a diminuir, como se poderá comunicar no futuro? Os meios digitais estão a crescer de consumo, muito impulsionados pelos dispositivos móveis e o vídeo. Esta alteração de consumo permite seleccionar melhor quem se quer tocar com determinada mensagem. Por outro lado, meios antigos, como a rádio, estão a crescer, graças ao streaming e voltam a ser considerados. E a publicidade no exterior, graças também aos progressos tecnológicos, está a ganhar novo alento. Em cidades como Lisboa, onde o turismo explodiu, a publicidade em meios exteriores é a única forma de as marcas contactarem visitantes estrangeiros. Ou são apanhados nos seus dispositivos móveis ou então são apanhados no meio da rua com a sua marca preferida. A publicidade não acabou. Está é a mudar muito depressa.

E SE A REALIDADE VIRTUAL ALTERASSE O TURISMO?

Estamos no Verão, o que para muita gente significa sair de casa, ir de férias, viajar ou apenas mudar de paisagem.

Uns vão à procura de sol, outros, cada vez mais, vão à procura da descoberta. As companhias aéreas low cost tornaram os mais recônditos cantos do mundo mais possíveis para muita gente. As estatísticas das companhias aéreas indicam que, nas 14 semanas do Verão, o número de viagens de longo curso é de 675 milhões. É um longo caminho desde os primeiros voos comerciais de passageiros de há cerca de um século. A internet veio mudar tudo – desde a forma de marcar viagens, até encontrar sugestões de percursos e hotéis e, mais recentemente, como encontrar alojamentos em plataformas como o Airbnb – e no fim todos partilham momentos e imagens no Facebook ou no Instagram. Tirando conveniências de marcação e a diminuição dos preços, o mundo das férias não teve grandes alterações com a internet. Mas há quem aposte que a realidade aumentada pode mudar tudo isto. Um simples jogo como o Pokémon Go! fez pessoas realizarem viagens e descobrirem sítios aos quais muitos nunca tinham pensado ir. O passo seguinte é poder ter a experiência de um determinado local através da realidade aumentada, para poder escolher bem a próxima aventura que se quer viver. Há quem já esteja a desenvolver produtos que permitirão descobrir zonas inacessíveis e viver uma experiência semelhante a estar lá mesmo. Marcar uma viagem vai ser um jogo. Aventureiro.

Este artigo foi publicado na edição de Agosto de 2017 da revista Executive Digest.

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